Prepare-se para a aventura. Pegue o carrinho – que talvez já tenha um avançadíssimo sistema de flutuação no lugar das habituais quatro rodinhas. Saque a lista de compras. Digital é claro. E siga em frente: os alimentos do século XXI estão à sua espera. Primeira parada: seção de frutas, legumes e verduras. Para dentro do carrinho, meia dúzia de tomates com alto teor de licopeno – a pedido do papai. Na embalagem se lê: o consumo regular deste produto ajuda a prevenir o câncer de próstata. Nada melhor para quem está chegando aos 50 anos (a partir desta idade é que os exames preventivos devem começar a ser feitos). Na gôndola seguinte, um cacho de bananas para a úlcera da mamãe. Ao lado da penca uma representante da marca explica: — As bananas “Bacanas” são ricas em amido. Por isso, inibem a produção excessiva de ácido no estômago. Junto com a fruta vem um folheto explicativo com depoimentos de médicos sobre as propriedades do produto. Mais adiante, na área das verduras, um maço do agrião “Super” para tratar a gripe do filho. Um santo remédio. Esse agrião contém isotiocianatos na quantidade ideal para diluir o muco das vias respiratórias e melhorar os sintomas da gripe. Basta comer cerca de dez folhas, três vezes por semana.

Pode parecer fantasia demais, mas a tendência do que vamos comer no futuro é esta: produtos funcionais. Alimentos com propriedades que vão além da finalidade básica de nutrir o organismo, como os descritos acima. Eles desempenharão, graças aos seus poderosos componentes chamados compostos bioativos, um importante papel na prevenção e no tratamento de doenças, como as cardíacas e o câncer. Esses compostos são substâncias de nomes esquisitos, como flavonóides e licopeno, e estão naturalmente presentes em sua grande maioria nas frutas, verduras e legumes (nos produtos de origem animal, sabe-se por enquanto que elas aparecem nos peixes de água fria, no leite fermentado e no iogurte). No brócolis, por exemplo, estudos feitos com compostos como o ácido cinâmico demonstraram que ele tem capacidade anestésica e ação contra fungos. No alho, descobriu-se que o ácido ferrúlico tem funções antibióticas e que estimulam o sistema imunológico.

O desafio que os cientistas têm pela frente é justamente se debruçar sobre esses compostos, isolá-los e descobrir qual é a quantidade ideal para beneficiar a saúde humana. “Em breve teremos métodos de dosagem bioquímica avançados que vão ajudar muito na determinação das concentrações ideais dos compostos”, afirma a nutricionista paulista Lisia Kiehl. E esse aperfeiçoamento técnico irá se traduzir numa invasão de produtos funcionais nos supermercados. “No Japão essa revolução já está bastante adiantada”, diz Lisia. “No Brasil esse mercado futurista deverá existir em 20 anos.”

Voltemos às compras no supermercado do século XXI: setor de carnes e peixes. Atenção. Pare aqui somente se estiver com muito dinheiro no bolso. “A carne ficará apenas ao alcance dos ricos”, prevê Ed Ayres, diretor do instituto ambiental World-watch, num artigo escrito para a revista Time. A pecuária em larga escala de animais de corte, segundo ele, pode acabar antes do fim do próximo século. Para Ayres, o custo socioeconômico (por causa do aumento nas taxas de doenças cardíacas devido à ingestão de carne) e ambiental da criação massiva de gado, aves e porcos será muito alto. A água doce, que será cada vez mais escassa, não poderá ser desperdiçada com animais e as fezes produzidas pelos animais produzirá um alto nível de contaminação dos solos. “A produção de carne vai ser ainda mais poluidora”, escreveu ele. Quanto aos peixes é bem provável que se mantivermos os atuais níves de destruição dos oceanos, ficará difícil de se conseguir um prato de frutos do mar dentro de 25 anos. Se der sorte, porém, compre uma posta de salmão rico em ômega 3 para proteger o coração.

Agora, já perto do caixa de saída, aproveite para ver se há alguma novidade no setor de transgênicos, os alimentos cujas sementes foram alteradas geneticamente com o DNA de seres como bactérias e fungos. Nas primeiras décadas do século XXI já existirão estudos sobre o impacto deste tipo de comida no meio ambiente e na saúde humana e ela só poderá ser vendida no País mediante a rotulagem dos fabricantes. Aproveite, então, e leve – para prevenir anemia – um saco do recém-lançado arroz transgênico capaz de armazenar até três vezes mais ferro do que o arroz tradicional. Pronto. Passe pelo caixa e confira se comprou tudo para o jantar: uma salada de licopeno com isotiocianato de entrada; ácido cinâmico com arroz transgênico e ômega 3 de prato principal e, para a sobremesa, uma prosaica dose de amido com molho de flavonóides. Bon appétit!