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Uma notícia divulgada na última semana trouxe grande entusiasmo para os cardiologistas de todo o mundo. Uma equipe da Universidade de Montpellier, na França, anunciou a criação de um sistema de computador que poderá permitir que o coração continue batendo mesmo durante a realização de cirurgias complexas para reparo de danos em suas estruturas. Hoje, isso é impossível. Na maioria das operações cardíacas, o órgão tem de ser paralisado para que os médicos executem as ações apropriadas.

A façanha dos franceses, registrada na publicação científica “The International Journal of Robotics Research”, foi possível graças ao desenvolvimento de um modelo computadorizado, cons­truído em três dimensões, capaz de prever as batidas e os movimentos do músculo cardíaco. Em um adulto saudável, ele pulsa de 60 a 90 vezes por minuto – e, a cada uma das batidas, muda ligeiramente de posição. Esta é a razão da enorme dificuldade de os cirurgiões realizarem intervenções um pouco mais complicadas sem que o órgão esteja imobilizado. “É preciso esperar o tempo certo para agir sem causar lesão”, explica o cirurgião cardíaco José Pedro da Silva, do Hospital Beneficência Portuguesa, em São Paulo, considerado um dos mais experientes do Brasil (só de intervenções nas artérias coronárias, que irrigam o coração, ele já fez mais de 20 mil).

“Com o método, o médico ganha mais
segurança e o paciente sofre menos riscos”

Philippe Poignet, um dos autores do experimento

É justamente por causa desse risco que as cirurgias normalmente são feitas com o órgão paralisado. E, enquanto elas acontecem, o sangue é desviado para uma máquina, da qual é novamente bombeado para o corpo. Porém, cerca de 6% de pessoas com mais de 65 anos e 2% daquelas abaixo dessa idade costumam sofrer uma séria consequência dessa estratégia: acidente vascular cerebral causado pela formação de coágulos sanguíneos.

Por isso, um dos grandes desejos dos cirurgiões era encontrar uma forma de operar o coração sem que fosse necessário suspender seus batimentos. Ao que parece, os franceses descobriram um caminho promissor para que isso seja possível. No experimento, o programa de computador foi acoplado a um protótipo de equipamento a ser usado em cirurgias robóticas. Estes aparelhos executam os movimentos com o auxílio de “mãos” ou “pinças”, de acordo com o que determinam os cirurgiões. Eles têm sido usados em operações cerebrais ou para a retirada de tumores, por exemplo, por causa da extrema precisão que oferecem. No caso do cérebro, sua utilização diminui o risco de danos a áreas saudáveis, que poderiam ser atingidas por incisões, e, em relação ao câncer, seu uso possibilita a extração somente das células doentes, deixando intactas as que funcionam normalmente. Na área da cardiologia, esse recurso ainda não tinha encontrado campo fértil para se expandir, devido às particularidades de movimentação do músculo cardíaco.

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Testado em animais, o software superou esse obstáculo e possibilitou uma sincronização perfeita entre os movimentos dos instrumentos cirúrgicos e os batimentos. “Além disso, o programa prevê o deslocamento do tórax durante a respiração”, explicou à ISTOÉ Philippe Poignet, um dos responsáveis pelo trabalho. “Com a tecnologia, o médico ganha segurança e o paciente sofre menos riscos.” O pesquisador também pontua a vantagem de as incisões serem menores, o que leva a uma recuperação mais rápida. O grupo espera testar o sistema em um equipamento de robótica convencional em breve.

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