O nome do projeto diz tudo. Seus criadores o chamam de Oxigênio, um sistema inovador de computação que estará em todo lugar. Tão difuso quanto o ar que respiramos. A idéia está sendo desenvolvida pelo Laboratório de Inteligência Artificial do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), nos EUA. Vai consumir cinco anos de pesquisa e desenvolvimento ao custo de alguns milhões de dólares – bancados em boa parte pelas indústrias que pretendem comercializá-lo. Espera-se que esteja pronto em 2002 e a partir de então passe a definir as bases para uso verdadeiramente democrático da informática. Esteja onde estiver, você terá ao alcance das mãos um terminal de computador ligado à Internet. E, através dele, poderá se comunicar, se informar, comprar e trabalhar com qualquer outra pessoa ou organização em qualquer lugar do mundo.

O coração do sistema Oxigênio, segundo explica o cientista americano Michael Dertouzos, idealizador e principal propagandista do projeto, será o Handy 21. Traduzindo do inglês, handy quer dizer alguma coisa útil, cômoda. E 21, claro, se refere ao próximo século. Handy 21, portanto, será um aparelhinho muito parecido com um celular, mas com acessórios que ampliam muito a sua utilidade. Terá uma pequena tela de imagem, uma microcâmera, um detector de infravermelho e, evidentemente, um computador embutido. Tal sistema irá trabalhar de forma casada com outra tecnologia-chave, o Enviro 21 (enviro vem do inglês environment, ambiente). Enquanto o Handy 21 acompanhará o usuário aonde ele for, o Enviro será um dispositivo instalado em todos os ambientes frequentados por pessoas. Fará tudo que o outro faz, mas com maior capacidade e rapidez. E irá interagir automaticamente com vários tipos de utensílios, como sensores de identificação, telefones, fax, câmeras e microfones.

O Oxigênio também deverá interagir com o mundo físico inanimado por meio dos detectores de infravermelho dos Handy 21. Assim, qualquer dos dispositivos que você normalmente usa todos os dias – desde a porta de sua casa ou escritório até os caixas automáticos – terá um código de barras que será lido e identificado por seu Handy 21. O sistema não apenas abre a porta, por exemplo, mas ao saber quem está entrando informa que há recados para ele na secretária eletrônica, que a conta de luz já foi paga e que é dia de pôr o lixo para fora. O Oxigênio também irá interagir com seus usuários através de recursos de percepção, principalmente o reconhecimento de voz. “Afinal, não nascemos com teclados e mouses ligados a nosso corpo, mas com boca, orelhas e olhos”, argumenta Dertouzos.

Sem senhas – Toda essa teia de comunicação não terá sentido nenhum se não houver, porém, pleno fornecimento de informações – o terceiro tripé do projeto Oxigênio. O sistema será implementado de tal forma que bastará que se diga “recupere aquele documento vermelho que chegou há um mês” para que seu computador projete na tela o que você precisa, sem necessidade de fornecer números ou códigos de acesso. Com o tempo de uso, esse dispositivo irá colecionar várias informações sobre você mesmo, seus gostos e preferências. De tal modo que, mesmo que você não peça, ele estará constantemente lhe trazendo novidades de acordo com o que você comumente precisa. Além disso, fará de forma autônoma o trabalho burocrático de uma secretária particular – pagamento de contas, agendamento de consultas, compra de ingressos para cinema, etc. O mote será: “Fazer mais, trabalhando menos.”

Diferente do que acontece hoje com os PCs – todos os programas que você usa eventualmente ficam gravados no disco rígido da máquina –, o Handy 21 vai “baixá-los” da rede somente quando forem necessários e eliminá-los da memória quando não precisar mais. Essa “costumização” permitirá que os aparelhos que cercam a vida do usuário se adaptem às suas necessidades e hábitos. “O poder do Oxigênio estará não em uma única máquina, mas em todas essas tecnologias orientadas para o desejo humano”, conta o cientista. Dertouzos diz acreditar sem sombra de dúvida que essa nova filosofia tecnológica pode abrir uma nova era de computação voltada exclusivamente aos desejos humanos. Lembra ele que as três revoluções socioeconômicas da história foram todas baseadas em objetos – o arado na revolução agrária, o motor na revolução industrial e o computador na revolução da informação. “Talvez tenha chegado o momento de o mundo considerar uma quarta revolução, dependente não mais de um objeto, mas da compreensão do recurso mais pre-cioso da Terra – nós mesmos.”