Há um século, a humanidade desconhecia a existência de Plutão, o menor, mais gelado e mais distante planeta do sistema solar. Também não sabia que o universo estava em expansão nem que surgiu há 15 bilhões de anos numa explosão primordial, o Big Bang. A possibilidade de um dia se projetar naves para explorar outros mundos era impensável. Como fazê-lo se ainda nem tínhamos aprendido a voar? Os irmãos Wright só inventariam o avião em 1903, Edwin Hubble descobriria que as galáxias se afastam umas das outras em 1928 e Plutão seria encontrado apenas em 1930. De lá para cá, o soviético Yuri Gagarin tornou-se em 1961 o primeiro homem no espaço; o americano Neil Armstrong pisou na Lua em 1969; o telescópio espacial Hubble tem revelado desde 1990 nebulosas de coloração maravilhosa e explosões cósmicas de vio-lência estarrecedora; e o primeiro planeta orbitando uma estrela fora do sistema solar foi detectado em 1995 (hoje, sabe-se de mais de 30). Desde os anos 60, americanos e russos enviaram sondas a quase todos os planetas do sistema solar (a exceção é Plutão) e as naves Voyager se afastam nesse instante da influência do Sol, acelerando ao espaço interestelar. Faltam poucos meses para a primeira tripulação ocupar a Estação Orbital Internacional, projeto do qual participa o Brasil. Em termos de pesquisa espacial, fizemos muito no século que termina. Mas este esforço não é nada quando comparado ao que está por vir. No século XXI, lançaremos a primeira missão tripulada a Marte; construiremos colônias na Lua, enviaremos missões a outras estrelas; colocaremos em órbita telescópios capazes de fotografar planetas a anos-luz de distância.

O recente revés da Nasa com suas sondas para Marte em 1999 – a Climate Orbiter destruiu-se ao chegar lá e a Polar Lander emudeceu após o pouso – não passou exatamente disso, um caro revés de US$ 300 milhões. Nesse meio tempo, a China anunciou sua entrada no clube espacial, ao lançar e recuperar com sucesso uma nave não-tripulada. Os planos de Pequim são grandiosos: quer mandar astronautas à Lua, abandonada em 1972 com a partida da tripulação da Apollo 17. O Japão e a União Européia são também candidatos a potências espaciais. Ambos preparam missões marcianas. Enquanto isso, nos EUA, a Nasa torce para que em 2004 a sonda Cassini chegue em segurança a Saturno e possa dissecar em profundidade o planeta dos anéis. Um pouco depois disso, os americanos podem vir a colocar uma sonda em órbita de Europa, satélite de Júpiter cuja calota gelada pode ocultar um ocea-no. Se onde há água, há vida, Europa é um local excelente para buscá-la. A mesma procura por bactérias alienígenas será o eixo-motor da exploração de Marte. De dois em dois anos, Washington lançará uma armada de espaçonaves que coletará todo tipo de dados daquele astro irmão da Terra. A meta é torná-lo tão nosso conhecido como o mundo em que pisamos. Tudo culminará em 2008, quando as primeiras amostras de rochas e solo marciano coletadas por robôs retornarem à Terra.

O passo seguinte será o envio de uma missão tripulada, uma aventura de três anos para Vascos da Gama do novo milênio. O projeto consumirá mais de US$ 50 bilhões e só poderá ser tocado como um esforço comum da humanidade. Mas isso só acontece depois de 2010. Colônias na Lua ou Marte são um sonho ainda distante. Algo para além de 2020. Mas para concretizá-lo, é preciso resolver a equação da energia. No Centro de Vôo Espacial Marshall da Nasa, no Alabama, estuda-se a construção de centrais elétricas orbitais para captar energia solar e suprir as necessidades de uma futura base. Os engenheiros do Marshall encaram também um outro desafio: criar novas formas de propulsão mais velozes que as atuais, para reduzir o tempo de viagem de missões para Marte, Júpiter ou Saturno, de vários anos para alguns meses. Entre os projetos, destaca-se a construção de rampas de levitação magnética para colocar satélites em órbita e de velas solares que estenderiam uma fina película por vários hectares no espaço. A vela seria inflada pelos raios solares (ou canhões laser) por meses a fio, sendo capaz de atingir – em tese – 30 mil km/h (10% da velocidade da luz), milhares de vezes superior aos 12 km/s da Voyager 1, o veículo mais rápido projetado pelo homem.