A solução para a escassez de água potável pode estar nos oceanos – basta que os cientistas descubram um meio de dessalinização mais eficaz e barato que os atuais. Na Arábia Saudita, por exemplo, muitos habitantes do deserto são salvos graças a um eficiente sistema de dessalinização da água do mar. Podem estar em território marítimo as soluções para várias outras questões. Uma delas é a falta de espaço em países pequenos ou superpopulosos, que já obriga a ocupação dos mares de maneira inédita. Uma das iniciativas mais arrojadas é o Megafloat, a maior pista flutuante de aviação do mundo. Com um quilômetro de extensão e 60 metros de largura, este aeroporto sobre o mar está ancorado na baía de Tóquio. Custou nada menos que US$ 164 milhões e demorou três anos para ficar pronto. O Megafloat é a principal obra das várias similares previstas pelo Ministério dos Transportes japonês. “Também no Japão já existem ilhas artificiais”, conta o oceanógrafo David Zee, do Departamento de Oceanografia da Universidade Estadual do Rio de Janeiro. Outra medida foi tomada pelos Países Baixos, onde se desenvolveu uma tecnologia para permitir que o solo avance sobre o mar. Há ainda a possibilidade de geração de energia, para a qual podem ser usadas as forças das marés, o movimento das ondas ou a força dos ventos marinhos.

Mas para que os oceanos se tornem uma solução, é preciso antes salvá-los. “A Terra levou vários milhões de anos para esfriar e a intervenção do homem está revertendo esse processo”, critica David Zee, do Departamento de Oceanografia da Universidade Estadual do Rio de Janeiro. “Isso causa o aumento do nível do mar graças ao degelo das calotas polares.” O aquecimento foi de 0,7 grau centígrado no último século, causado principalmente pela queima de combustíveis fósseis. Essa alta de temperatura torna mais frequentes os fenômenos como El Niño e La Niña. Por isso, o Nordeste brasileiro tem uma das secas mais prolongadas da história, enquanto o calor demorou a chegar ao Sudeste. Além disso, o aumento do nível do mar diminui as faixas de areia, como aconteceu recentemente na praia do Arpoador, no Rio de Janeiro. Há um outro motivo fundamental para tratar bem o mar: nada menos que 75% da população mundial vive na zona costeira. Essa ocupação faz com que o lançamento de resíduos urbanos seja muito maior que o suportável. Como consequência, além da praia suja, acontece a mudança da vegetação e a proliferação de algas – algumas tóxicas. No novo milênio, o mar terá mil e uma utilidades.