Quando o assunto é meio ambiente, os prognósticos para os próximos 100 anos são alarmantes. Não se trata apenas de exagero dos ambientalistas. A preocupação com o desenvolvimento sustentado ganhou espaço em universidades, governos e grandes empresas. Finalmente percebeu-se que, se há um limite para o crescimento das atividades do homem na Terra, essa linha divisória é justamente o modo como o ser humano interage com a natureza. Haverá água para todos? Comida? Qual será o efeito do superaquecimento global? Devem ser estabelecidas barreiras comerciais ou penalidades para países que agridem o meio ambiente? As perguntas proliferam e as respostas são nebulosas. “A verdade é que ninguém sabe exatamente o que pode acontecer, mas se cruzarmos os braços e esperarmos para ver será tarde demais”, avisa o professor John Holdren, da Universidade de Berkeley.

Desde os anos 50 a economia mundial praticamente quintuplicou seu tamanho. Quase metade dos seis bilhões de habitantes do planeta hoje vive em cidades e o mundo moderno, que trouxe a tecnologia, definiu novos padrões de comportamento. Essas transformações foram ainda mais intensas nos paí-ses ricos e carregaram a tiracolo o impacto ambiental. Desmatamento, alto consumo de energia e poluição são os mais visíveis. Nos países subdesenvolvidos, a situação não é melhor. A pobreza é um poderoso inimigo que põe em risco os recursos naturais renováveis, como solo e água. Some-se a isso o crescimento da população, que deverá atingir nove bilhões de habitantes até o ano 2050. O cientista Holdren não tem dúvidas de que esse cenário vai criar situações bastante adversas. “Até 2010 ou 2015 o clima terá mudado tanto que a maioria das regiões do planeta já terá sido afetada.” O leque de consequências será variado: de tempestades e furacões mais constantes e intensos à diminuição do potencial da agricultura e da pesca, incluindo a disseminação de doenças tropicais. Holdren cita ainda o exemplo do índice de calor (combinação de umidade e temperatura) de Washington, que deverá aumentar consideravelmente. Nos últimos 30 anos esse índice foi de 29,4oC. A expectativa, no entanto, é de que alcance 35oC em 2010 e 40,5oC em 2025.

Mas se ninguém ficará livre dos perigos, o que poderá acontecer no Brasil? Segundo o biólogo João Batista Drummond Câmara, gerente de resíduos do Ibama e Coordenador do Global Environment Outlook Report Relatório da UNEP (United Nations Environment Programme), os principais problemas ambientais que o País vai enfrentar são os seguintes:
1. Perda de biodiversidade, principalmente pelo desmatamento contínuo em praticamente todos os ecossistemas.
2. Contaminação do solo e água pelo uso indiscriminado de agrotóxicos.
3. Assoreamento de cursos d’água pela agricultura inadequada e inundações severas em cidades e áreas rurais.
4. Redução de disponibilidade de água potável.
5. Aumento local da temperatura. O Brasil, assim como os demais países que possuem urbanização intensa na região costeira, sofrerá com a elevação da temperatura estimada entre 1oC e 3,5oC até o ano 2100, devido ao conhecido efeito estufa.
6. Contaminação do ar e aumento de perdas econômicas resultantes de queimadas e incêndios florestais em larga escala, causando problemas de saúde pública (respiratórios e alérgicos), interrupção frequente de fornecimento de energia elétrica e outros problemas comuns durante os períodos de queimadas, principalmente no cerrado e na região da Amazônia.
7. Desertificação intensa em áreas de solo frágil que estão sendo destruídos pela expansão da soja, especialmente na Bahia, no Piauí e no Tocantins.
8. Aumento da contaminação ambiental de áreas urbanas, por deposição inadequada de resíduos sólidos (domésticos, industriais e hospitalares) e devido aos poucos investimentos públicos e privados em programas de reciclagem em relação à produção total de resíduos no País.

A situação é tão preocupante que as grandes empresas se renderam aos apelos ambientais e começaram a se movimentar. Ninguém quer ter a sua imagem associada à degredação da natureza. Um recente consórcio formado por gigantes como Volvo, Monsanto, Unilever, Electrolux e Deutsche Bank retrata a batalha que atualmente se trava na busca de estratégias sustentáveis. Segundo pesquisas dessas companhias, é opinião corrente entre líderes industriais e a comunidade financeira que o meio ambiente será a principal preocupação mundial num prazo não maior que 15 ou 20 anos. Assim, quem está engajado em projetos de crescimento sustentável para o futuro pode sentir no bolso o que isso representa hoje: uma sensível valorização de suas ações. Outro ponto é a receptividade do mercado. Aos poucos os consumidores começam a procurar os chamados “produtos verdes”, que provocam menor impacto ambiental, mesmo que isso implique em preços mais altos (entre 5% e 15%). Um exemplo é o que acontece na maior área de negócios da Electrolux, a Linha Branca/Europa. Os produtos “verdes” responderam por 10% das vendas da empresa em 1997, naquele segmento. Leif Johansson – presidente da Volvo e do consórcio, explica que a conscientização dos consumidores pode ser percebida principalmente em regiões como Escandinávia, Alemanha, Suíça e costa leste dos Estados Unidos, mas a tendência é se espalhar cada vez mais. “Em países como a Itália, por exemplo, em que a população não era nada ‘verde’, agora há muito mais preocupação”, garante.