O atacante Hulk é um ser estranho aos olhos do torcedor, que tem feito cara feia quando ele pega na bola durante os jogos da Seleção Brasileira. Os críticos de plantão querem mesmo que o paraibano de Campina Grande nascido Givanildo Vieira de Souza, 26 anos, deixe o time para dar lugar a Lucas, 20, o xodó da torcida. Mas o técnico Luiz Felipe Scolari nem se abala. Com a moral de quem não convocou Romário para a Copa de 2002, disputada no Japão e na Coreia do Sul, e voltou de lá com o caneco nas mãos, o comandante mira os números do atleta e vira as costas para a grita geral. Jogador do Zenit, da Rússia, comprado no ano passado por incríveis R$ 171 milhões – mais caro que o badalado Neymar, que custou R$ 159 milhões ao Barcelona –, Hulk acerta mais passes, cruza mais bolas, finaliza mais vezes a gol e faz mais desarmes do que Ronaldinho Gaúcho e Kaká, como mostrou o instituto de pesquisas Datafolha, que comparou o desempenho dos três em dois amistosos sob a batuta de Scolari.

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ELE TEM A FORÇA
E chuta bem. Mas está longe dos padrões físicos e de
habilidade dos jogadores brasileiros. E o torcedor chia

Acontece que, diferentemente de Felipão, que é o último treinador brasileiro campeão do mundo, Hulk não tem crédito. Vai precisar jogar muito mais do que mostram os números para que não vire uma espécie de Dunga, que, injustamente, foi crucificado pela torcida e virou símbolo de uma era de um futebol feio da Seleção, que caiu nas oitavas de final, em 1990, na Itália, em jogo contra a Argentina. Alguns fatores jogam contra o atacante, atualmente. Não há uma torcida de time brasileiro que o defenda, já que ele fez apenas dois jogos no Vitória, da Bahia, nove anos atrás, e foi para o Exterior atuar no Japão, depois em Portugal e, agora, na Rússia. Pior: sua compleição física e seu estilo de jogo estão distantes dos padrões dos atacantes brasileiros. Hulk não é um atleta criativo, daqueles que produzem dribles desconcertantes, nem demonstra ter muita malícia durante o jogo. Seu repertório é simples, de passe e chute – muito potente, aliás. “Essas características, associadas ao fato de ele ser muito forte e meio durão, fazem com que seja visto como um jogador grosso, o que é um erro”, afirma o ex-jogador Tostão, campeão mundial em 1970.

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Com 28 jogos e sete gols marcados na Seleção, o atleta paraibano é sucesso de crítica, desejado por grandes treinadores como José Mourinho, que trabalha para levá-lo ao inglês Chelsea, mas não de público. “Se o Brasil jogar mal e perder, ele pode ficar marcado, infelizmente”, reforça Tostão. Aos olhos do público, Hulk já é considerado a teimosia da vez. Na Copa passada, na África do Sul, Felipe Melo, o volante que oscilava entre o temperamento explosivo e lampejos de grande jogador, foi o alvo da crítica. Na ocasião, ele confirmou a desconfiança dos que diziam que o atleta não tinha envergadura para defender o Brasil em um Mundial ao pisar de forma desleal no atacante holandês Arjen Robben e ser expulso do jogo que eliminou a Seleção comandada por Dunga. Hulk seguirá pisando com a chuteira em ovos. Para Paulo Vinícius Coelho, comentarista dos canais ESPN, o excesso de jovens talentos em um mesmo setor é um dos problemas da Seleção. E com Oscar e Neymar no time, a escalação de Hulk torna-se também necessária para que o ataque não fique ainda mais jovem com uma possível entrada de Lucas. “Até o fim da Copa das Confederações, eles (torcedores) vão me aplaudir”, garante Hulk. Sem fazer cara feia.

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Foto: Paulo Duarte/AP Photo