A reportagem de capa desta edição de ISTOÉ traz dois dados assustadores. A banalização da violência é um deles. O outro é consequência do primeiro. Em pesquisa feita pelo instituto Brasmarket, em São Paulo, apenas 27,8% dos entrevistados descartaram a pena de morte como solução para a epidemia de barbárie que assola o País. Mais de 70% deles acham que executar o infrator pode ser o caminho para resolver o problema.

Apoiar a pena de morte encabeça o índex de assuntos considerados politicamente incorretos, mas mesmo os que são radicalmente contra a sua aplicação entendem e tentam explicar o surpreendente número acima. É o caso do subsecretário de Segurança do Rio de Janeiro, Luiz Eduardo Soares. Para ele, a corrupção, a lentidão da Justiça e a incapacidade da polícia geram “perplexidade e repugnância a ponto de se defender o absurdo da pena de morte”. O presidente da Associação dos Advogados Criminalistas do Rio, Vagner Cavalcanti, apesar de ser filosoficamente contra, apoiaria a medida em casos de crimes de extrema crueldade.

Na realidade, a pena de morte já está nas ruas. E para ambos os lados desta guerra civil não-declarada. O simples gesto de soltar o cinto de segurança do carro selou a sorte de Rodrigo Damus, um estudante de apenas 20 anos, assassinado por Rogério Ribeiro, um delinquente de apenas 17 anos, que achou que Rodrigo fosse pegar uma arma para defender-se do assalto. Para Rubem Cezar Fernandes, coordenador da ONG Viva Rio, “a punição que mais se aplica é a pena de morte. Bandido vacilou, morreu na mão do rival ou da polícia”.

O certo é que há muito o que fazer antes de se discutir a viabilidade ou não da pena, mas muito pouco está sendo feito e, politicamente correto ou não, o assunto tornou-se recorrente e essa preocupação da população ameaçada revela a incompetência das autoridades em lidar com o problema. Para o ministro da Justiça, José Carlos Dias, militante de longa data na defesa dos direitos humanos, “não é bom discutir o caso em clima emocional”. Na pág. 116, o subeditor Aziz Filho, da sucursal de ISTOÉ no Rio, retrata o drama num texto equilibrado, eficiente e muito pouco emocional.


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