Até que enfim uma boa notícia está para surgir para quem precisa tomar remé-dios. Depois de ver os preços dos medicamentos aumentarem 14,48% em média de janeiro a agosto, contra uma inflação de 4,39%, conforme o IPC da Fipe, a população vai assistir a uma redução brutal nos custos. A estimativa dos especialistas é de que, quando a lei dos genéricos, assinada pelo presidente Fernando Henrique no dia 24 de setembro, der seus primeiros efeitos, ou seja, as prateleiras das farmácias passarem a vender finalmente remédios com seus princípios ativos ressaltados – ao contrário dos produtos de hoje, que têm a marca em evidência –, os preços ficarão em média 40% mais baratos. É uma redução significativa, que deve se tornar rea-lidade a partir de dezembro. “O barateamento ocorrerá porque muitas indústrias não precisarão gastar de 20% a 25% do valor de um medicamento com a sua divulgação junto aos médicos. Além disso, os medicamentos cujas patentes estão liberadas serão cada vez mais fabricados por qualquer indústria, o que elimina os 20% de custos com pesquisa”, admite Andreas Strakos, diretor da Novartis, a maior indústria de remédios do Brasil.

A lei dos genéricos mexe com enormes interesses. A indústria farmacêutica viu seu faturamento anual aumentar de US$ 6,18 bilhões para US$ 10,3 bilhões entre 1994 e 1998. Só que a quantidade de remédios comercializados permaneceu praticamente a mesma, por volta de 1,5 bilhão de caixas. “O sistema cartelizado de produção no Brasil é um dos principais motivos de os medicamentos custarem caro”, acusa o ministro da Saúde, José Serra. Pesquisas junto a empresas indicam, por outro lado, que o preço médio da caixa, depois da desvalorização do real, está em US$ 4,54. Mais barato que os US$ 9,81 cobrados na Argentina e bem mais em conta que os US$ 36,56 do Japão, US$ 20,60 dos Estados Unidos ou US$ 11,09 do Reino Unido. “Só que nesses países o valor pago pelo consumidor é bem menor, pois o Estado subsidia ou as seguradoras de saúde bancam parte do preço. O governo brasileiro deveria fazer o mesmo aqui”, rebate José Eduardo Bandeira de Mello, presidente da Associação Brasileira da Indústria Farmacêutica (Abifarma). O clima de animosidade entre governo e fabricantes piorou na semana passada, quando a Abifarma iniciou uma campanha defendendo que o médico só receite remédios de marca e não permita a troca por genéricos na farmácia. Para o Ministério da Saúde, uma provocação e tanto, já que sua estratégia é justamente permitir que o farmacêutico tenha a liberdade de trocar um medicamento por outro mais barato, caso o cliente solicite. “A Abifarma sempre defenderá produtos de marca, pois as grandes indústrias é que investem em novidades”, alega Bandeira de Mello.

Enquanto esse tiroteio de acusações ganha maiores proporções, o consumidor é que tem de se virar na compra de remédios, cujos preços muitas vezes chegam a ser assombrosos. A promoter paulista Helena Bastos sofre desde meados de 1998 de disautonomia, uma doença pouco conhecida que atinge o sistema nervoso autônomo. Seus gastos com remédios passaram de R$ 400 para R$ 900 desde dezembro. “Não entendo esse aumento, pois continuo consumindo os mesmos medicamentos.” As indústrias farmacêuticas justificam ainda os preços altos de remédios pelos investimentos que têm de fazer no seu desenvolvimento, em torno de US$ 500 milhões.

Existe ainda outro problema que deixa o público confuso. A lei dos genéricos determina que todo medicamento desse tipo terá de passar por testes de qualidade e aprovados pelo governo. Ou seja, eles passam a existir somente a partir de dezembro. “O que se encontra hoje nas prateleiras das farmácias são medicamentos patenteados ou similares”, lembra Elisaldo Carlini, professor de Psicofarmacologia da Universidade Federal de São Paulo. Os remédios similares, se não passarem por testes de qualidade, não poderão ser substitutos para quem apresentar uma receita de genérico. A Abifarma tem feito uma campanha para que a população não confunda similar com genérico e acusa os laboratórios Teuto, Luper, Neoquímica e Sanval de não fazerem a discriminação. Mas, de roldão, aproveita para defender o medicamento de marca. Para Serra, isso contribui para aumentar a confusão. Para piorar a situação, 20 representantes de grandes indústrias, entre eles Bayer, Lilly e Shering Plough, reuniram-se dia 27 de julho para definir uma estratégia para desestimular as receitas de genéricos e também cercar distribuidoras. Serra os acusa de conspiração contra a concorrência. A Abifarma diz que colabora com genéricos e acusa Serra de fazer uma campanha populista para tentar reverter a baixa popularidade do governo FHC. Mas uma coisa é certa. Com a lei dos genéricos, o País finalmente terá um mercado menos concentrado e mais próximo ao do Primeiro Mundo. O bolso da população agradece.


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