É maravilhoso conseguir me aproximar do mar”, afirma Ione Paixão da Silva, 39 anos, que há mais de 20 anda de muletas. Ela desfrutava de uma cerveja à beira da praia de Ondina, em Salvador, com a manicure Valdete Oliveira dos Santos, 40 anos, vítima de poliomielite, que anda em cadeira de rodas. Inaugurada há um ano, a Bahiasol, primeira praça adaptada a portadores de deficiência da Bahia, tornou possível a esse público prazeres gratuitos e insubstituíveis, que até então só eram realizados com muita ajuda. É uma área de seis mil metros quadrados, que conta com uma quadra poliesportiva feita de poliuretano alinfático, material que garante a melhor movimentação da cadeira de rodas e diminui o risco de derrapagem. É cercada por um alambrado de quatro metros de altura feito com ferro revestido por um tipo de plástico que reduz o impacto de choque contra a grade. Cerca de 70% das vagas do estacio-namento são reservadas para veículos de pessoas com deficiência; os banheiros são adaptados e, espalhadas pela praça, há barras espe-ciais para exercícios de reabilitação, além de indicações em braile. Para os próximos dois meses, a prefeitura promete preparar a “pista tátil”, uma calçada em relevo para auxiliar as pessoas cegas a andar. Conforme se aproxima um obstáculo ou a rua, o piso muda de textura.

Salvador tem 16 mil deficientes que vivem com menos de dois salários mínimos por mês. O acesso a praias é complicado para eles, principalmente quando o desnível entre a areia e a calçada é muito grande. A Bahiasol tem uma rampa que facilita a chegada à praia. “Não é fácil conseguir reunir os amigos”, reclama Valdete. “Esse espaço é o nosso ponto de encontro”, diz Luiza Camara, presidente da Associação Baia-na de Deficientes Físicos, paraplégica há 23 anos. “Funciona como meio de inclusão na sociedade. É a liberdade.” O responsável pela praça é o ex-vereador Agenor Gordilho (PL-BA), agora secretário municipal do Trabalho e Desenvolvimento Social. Ele é paraplégico há 18 anos, quando foi vítima de acidente de automóvel.

Uma obra inédita e elogiável, a Bahiasol, um ano depois de inaugurada, ainda precisa de muitas melhoras para atender completamente aos seus usuá-rios. Algumas indicações em braile desapareceram. “Isso acontece por causa do salitre que é muito forte. Por isso fazemos manutenção há cada 90 dias”, explica Gordilho. Ainda assim, uma das inscrições que sobreviveu, informava, para quem enxerga, “sanitário masculino”, mas a inscrição em braile dizia “sanitário feminino”. Mulheres e homens cegos ficam expostos ao constrangimento de entrar sem saber no banheiro errado. “Já estamos tomando providências”, garante o secretário.


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