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Michael Slaby é conhecido como o “guru” digital de Barack Obama. Com apenas 30 anos, foi o chefe de tecnologia da campanha que levou o então senador a seu primeiro mandato presidencial, em 2008. Em 2011, repetiu a dose como líder do departamento de inovação e integração da campanha de reeleição de Obama, também vitoriosa.
 
O estrategista ficou conhecido por seu pioneirismo no uso das redes sociais em campanhas políticas. Ao interagir com possíveis eleitores por meio de ferramentas como o Facebook e o Twitter, a campanha de Obama conseguiu engajar muitos jovens voluntários e arrecadar um valor expressivo em doações. 
 
Hoje, Slaby dá consultoria sobre mídias digitais a vários tipos de organização, entre outros projetos. O estrategista virá ao Brasil para o Ciab FEBRABAN, evento para os setores financeiro e de tecnologia que será realizado nos dias 12, 13 e 14 de junho, em São Paulo.   
 
ISTOÉ – Depois de trabalhar na reeleição de Obama, que tipo de trabalho você está desenvolvendo?
Michael Slaby – Estou trabalhando em vários projetos independentes, dando palestras e fazendo trabalhos de consultoria sobre estratégias digitais com diferentes organizações sociais e humanitárias, como a ONU e outras instituições menores. Estive também fazendo pesquisa na Harvard Kennedy School. 
 
ISTOÉ – Como as tecnologias podem ajudar essas organizações sociais?
Slaby – Vou dar um exemplo, tenho trabalhado com uma organização chamada Bright Pink, em Chicago, focada em informações sobre câncer, e tenho os ajudado a entender como as redes sociais podem auxiliá-los a alcançar mais pessoas e como os voluntários podem ser treinados a usar ferramentas online.
 
ISTOÉ – Quais tipos de ações você ajuda a desenvolver?
Slaby – Eu ajudo a traduzir conteúdo offline para um conteúdo online, de modo que as pessoas possam interagir umas com as outras e levá-las a assinar petições, curtir conteúdos no Facebook e compartilhar informações com os amigos.   
 
ISTOÉ – Como você começou a trabalhar na campanha de Barack Obama?
Slaby – Em 2007 eu procurei a equipe de campanha logo que o então senador Obama anunciou que iria concorrer à presidência. Ele é o primeiro político que me fez sentir inspirado a falar sobre o assunto, sobre liderança, sobre serviços públicos e comunidade. E um mês depois de contatá-los eu estava trabalhando com eles.

ISTOÉ – E qual foi sua primeira ação para inserir a campanha nas mídias digitais?
Slaby – Meu primeiro plano foi ajudar a campanha a criar uma estratégia para gerar conteúdo e usar as mídias sociais pela primeira vez. O trabalho inicial foi entrar nessas comunidades. Em 2011, quando começamos a trabalhar na campanha de reeleição, tivemos que recrutar uma equipe de inovação e integração para trabalhar em uma escala muito maior. 
 
ISTOÉ – Como você compara as diferenças entre as campanhas de 2008 e 2012?
Slaby – Em 2008, havia menos gente nas redes sociais. Então nosso foco foi abrir novas portas para os eleitores participaram de política e ajudá-los a encontrar um papel significativo na campanha. Em 20011/2012 as mídias sociais já estavam bem mais maduras e onipresentes e foram integradas de forma mais abrangente. Quase todo mundo podia ser encontrado nas redes. Então a campanha se concentrou nesse tipo de mídia. Tivemos mais tempo para planejar a campanha de 2012, então pudemos construir nossas próprias tecnologias. 
 
ISTOÉ – E que tipo de tecnologia sua equipe desenvolveu na campanha de 2012?
Slaby – Construímos centenas de produtos. Um dos mais interessantes foi uma plataforma chamada “dashboard”, uma maneira de conectar e unificar as atividades offline e online de nossos voluntários. Todo o trabalho que cada um estava fazendo era registrado em um só lugar, como um escritório de campanha online. Os voluntários podiam se conectar, conhecer seus vizinhos que também faziam parte da campanha, saber quem eram os líderes locais e trabalhar juntos como um time. Também fizemos ferramentas online de registro de eleitores e manuais para ajudar nossos voluntários a usar o Facebook de maneira mais eficiente para atingir mais pessoas.   
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ISTOÉ – Como você avalia o papel que sua equipe teve nas eleições de Obama. Como a equipe de integração e inovação o ajudou a vencer?
Slaby – Acho que a tecnologia é uma força de multiplicação para toda a organização. A tecnologia e a análise de dados torna nossos voluntários mais eficientes, pois permitem que se comuniquem melhor uns com os outros e evitem perder tempo indo atrás dos alvos errados. Não tínhamos a intenção de construir a tecnologia mais avançada, mas usá-la para tornar a campanha mais eficiente. 
 
ISTOÉ – Como sua equipe usou algoritmos e análise de dados para determinar onde posicionar anúncios de TV?
Slaby – No caso dos anúncios de TV, nosso objetivo foi usar dados de mídia para alcançar grupos específicos, em vez de grupos demográficos mais abrangentes. Pudemos ser mais específicos em relação aos programas em quais anunciávamos, em vez de comprar espaços em grandes fatias da programação das televisões. Sendo mais segmentados, pudemos usar a verba de campanha de maneira mais eficiente e com um custo-benefício maior. Geralmente as campanhas tentam atingir grupos demográficos mais amplos, a nossa foi mais direcionada. 
 
ISTOÉ – E como vocês usaram a tecnologia para aumentar as arrecadações de doações?
Slaby – Valorizar o doador de quantias pequenas, que são os que dão até U$ 200 e representam 95% dos apoiadores, foi uma maneira importante de empoderar o eleitor e inseri-lo na campanha. Então criamos experiências com sites e plataformas para aparelhos móveis como smartphones e tablets. Criamos um sistema de “doação rápida” em que, para doar uma segunda vez, bastava um clique. Queríamos que as pessoas tivessem uma experiência o mais simples possível. Na campanha de 2012 conseguimos arrecadar quase US$ 700 milhões de forma online, de 4 milhões de eleitores. Foi uma oportunidade para que milhões de pessoas participassem do processo. 
 
ISTOÉ – Você disse em outra entrevista que a campanha de 2016 será mais focada em localização e personalização. O que significam esses conceitos?
Slaby – Acho que, na medida em que as mídias sociais se tornam mais e mais o meio pelo qual as pessoas interagem com o mundo exterior, incluindo perspectivas sobre política e tomadas de decisão, quanto mais pessoal a experiência, mais engajado e disposto a participar o eleitor será na campanha. E a localização é importante, porque as pessoas votam com base no lugar onde vivem. Ainda não sabemos exatamente como tirar vantagem disso, mas acredito que até 2016 estenderemos melhor esse processo. 
 
ISTOÉ – O governo americano está passando por uma crise com o escândalo da Receita Federal e a acusação de que o procurador-geral dos EUA, Eric Holder, está envolvido em espionagem de jornalistas. Como o presidente Obama pode usar as mídias digitais para contornar esses problemas?
Slaby – Eu não posso responder a essa questão, porque não trabalho para a administração Obama no momento. Em geral, posso dizer que o poder das mídias digitais está em ser uma força a favor da transparência. Acho que governos deveriam oferecer oportunidades significativas para as pessoas participarem, espaço para que elas deem suas opiniões e entendam o que está acontecendo na administração. A “opacidade” dos governos, ou seja, o oposto da transparência, pode tornar os governos muito distantes da população que estão servindo.

ISTOÉ – Você virá ao Brasil em breve. O que espera dessa visita?
Slaby – Estou ansioso para compartilhar as minhas experiências e, sinceramente, para aprender com a comunidade local sobre como as tecnologias digitais funcionam na sociedade brasileira e como a minha vivência pode ajudar os brasileiros. Eu não entendo muito de política brasileira, então será um aprendizado importante para mim.  
 


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