Tully More é uma aldeiazinha perdida no meio da Irlanda. Seus 52 habitantes levam o cotidiano a um estado tal de repetição, que a felicidade se resume justamente no prazer de sempre comer torta de maçã, tomar aquela deliciosa cerveja preta no único pub do local e sonhar com a loteria. Mas um dia a fantasia da riqueza torna-se realidade. Jackie O’Shea (Ian Bannen) descobre que o prêmio principal saiu para Tully More. Resta saber quem, entre as cinco dezenas de pessoas, foi o felizardo. Jackie e seu amigo Michael O’Sullivan (David Kelly) começam a busca. É aí que o diretor e roteirista Kirk Jones desenha um delicioso perfil da alma humana, a alma inocente, divertida, até infantil, mas não desprovida de ambição e certa maldade. No anseio de talvez ser beneficiado com um pequeno quinhão da fortuna, Jackie – com a ajuda de Michael – promove uma rodada de bebida para os amigos, organiza um jantar para a comunidade e até compra sabonetes com perfume de fruta e dá a Pig Finn, um microfazendeiro que não consegue se livrar do cheiro de porco para um dia conquistar a amada de nariz sensível. Quando ele descobre o ganhador, o filme promove uma mudança muito mais radical misturando humor nigérrimo a momentos de grande sensibilidade. O cinema irlandês está cada vez melhor. (A.R.)
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