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A Copa das Confederações tem um paradoxo. Ganhá-la pode ser uma derrota. Perdê-la pode ser uma vitória. Por ser disputado um ano antes da Copa do Mundo, esse torneio da Fifa é visto como um importante termômetro da condição das equipes que o disputam. Como se sabe, são apenas oito: o país anfitrião, o último campeão mundial e os campeões da América do Sul, Europa, Ásia, Oceania, África e Américas Central e do Norte. Por esse critério, teremos a partir do sábado 15 os seguintes países disputando a Copa das Confederações: Brasil, Espanha, Uruguai, Itália, Japão, Taiti, Nigéria e México

É uma excelente oportunidade para avaliar a atual fase de três favoritos ao Mundial (Brasil, Espanha e Itália), mas todo cuidado é pouco, pois a Copa das Confederações também pode deixar de fora seleções que estão em bom momento e que não serão “avaliadas” antes – é o caso da Alemanha e da Argentina, por exemplo. Uma situação que nos leva a Sócrates e Platão.

Platão: “O campeão da Copa das Confederações também será campeão da Copa do Mundo, mas a próxima afirmação de Sócrates será falsa.”

Sócrates: “O campeão da Copa das Confederações também será campeão da Copa do Mundo, mas Platão disse a verdade.”

Eis o paradoxo da Copa das Confederações. Quem ganha, pensa que está bem – e talvez esteja mesmo, por isso relaxa e vai mal no Mundial. Quem perde, pensa que está mal – e talvez esteja mesmo, por isso aprimora-se e vai bem no Mundial.

Em 1997, na Arábia Saudita, o Brasil ganhou a Copa das Confederações e julgou-se favorito para o Mundial de 1998. Afinal, era o atual campeão do mundo e a dupla Ronaldo-Romário havia funcionado muito bem no torneio. Só que a única seleção europeia participante foi a República Tcheca. Quando veio a Copa de 1998, na França, não só os anfitriões jogaram bem, mas também outros times europeus, como a Holanda. E Romário – contundido numa de suas melhores fases – foi cortado para dar lugar ao volante Emerson. O Brasil venceu a Holanda nos pênaltis. Na final, quando Ronaldo teve uma convulsão, Romário não pode ser escalado, embora já estivesse recuperado e em atividade no Brasil. Uma contusão que facilitou a vida de Zagallo, pois não engolia o comportamento de Romário. Na final, sem Ronaldo e sem Romário, o Brasil perdeu de 3-0 para a França.

Em 2001, no Japão e na Coreia do Sul, a França foi campeã. Ela viveu a mesma situação do Brasil em 1997 – era campeã do mundo e favorita disparada. O Brasil ficou atrás até do Japão e da Austrália. Poucos meses antes de começar o Mundial, em 2002, a CBF chamou o técnico Luis Felipe Scolari para dirigir a Seleção Brasileira. Formando um grupo unido e com enorme força de vontade, Felipão ainda contou com a sorte de ter Ronaldo recuperado de uma contusão e ganhou o quinto título mundial para o Brasil. Enquanto isso, de salto alto, a França era eliminada na primeira fase sem fazer um único gol.

Em 2005 o Brasil voltou a desfilar como favorito. Mais uma vez, só havia uma seleção europeia na competição: a anfitriã Alemanha. A Seleção Brasileira não tomou conhecimento dos adversários e, para mostrar que na Copa de 2006 o “hexa” estava no papo, derrotou a arquiinimiga Argentina na final por 4-1. No ano da Copa, entretanto, o Brasil tinha um treinador desmotivado (Parreira), um fenômeno fora de forma (Ronaldo), um craque desinteressado (Ronaldinho) e vários jogadores sem foco (como Roberto Carlos). Ninguém deu bola para o título da França na Copa das Confederações de 2003, que anunciava sua recuperação. E a própria França eliminou o Brasil nas quartas de final, quando Roberto Carlos preferiu ajeitar a meia ao invés de marcar o francês Thierry Henry, que fez o gol da vitória. O título ficou com a Itália, que se superou durante a Copa.

Finalmente, em 2009, o Brasil voltou a ganhar a Copa das Confederações. Na final, contra os Estados Unidos, o time estava perdendo por 2-0 e conseguiu uma vitória heróica, na raça, por 3-2. O fracasso da favorita Espanha (campeã europeia) diante dos Estados Unidos era a prova definitiva que a Fúria mais uma vez jogaria como nunca e perderia como sempre. Dunga considerou que a Seleção Brasileira estava pronta para a conquista do Mundial – tanto que ignorou os pedidos do Brasil inteiro para convocar dois jovens que estavam “comendo” a bola: Neymar e Ganso. Em 2010, na Copa, o Brasil foi eliminado novamente nas quartas de final, diante da Holanda, e a Espanha foi campeã.

As lições históricas estão aí. É perigoso julgar se a seleção está pronta na Copa das Confederações. Como dissemos, Alemanha e Argentina não estarão nos estádios brasileiros. Analisando nesse sentido, uma derrota nesse torneio da Fifa pode não valer nada, mas pode valer tudo em 2014. Da mesma forma, o título pode valer tudo, inclusive o tri da Copa das Confederações, mas em 2014 pode não valer nada.

Platão: “Ganhar é uma derrota, ou não.”

Sócrates: “Perder é uma vitória, ou não.” *

 
 
*As frases originais de Platão e Sócrates foram:
Platão: “A próxima afirmação de Sócrates será falsa.”
Sócrates: “Platão disse a verdade.”