George Bush e o seu secretário do Tesouro, Henry Paulson, estavam visivelmente constrangidos na terça-feira 14, ao anunciarem mais um capítulo do pacote anticrise. Tratava-se da compra de ativos de bancos em dificuldade – algo muito parecido com o que vingou por essas bandas no passado. Bush e Paulson, em seus postos, já não fazem mais o que querem, mas o que é exigido deles. Para o homem mais poderoso do planeta, suas últimas ações antes de entregar a Casa Branca são um retrato deprimente de um governo que não deu certo. Bush teve de capitular e seguir tintim por tintim o modelo europeu de resgate, que flerta com a estatização. Logo ele, um arauto do liberalismo econômico a qualquer preço, teve que apelar para a cartilha marxista de um Estado forte, interventor e regulador da atividade econômica. Paulson, que possui a chave do cofre mais recheado do mundo, era visceralmente contra isso. Mas não teve outro jeito. Bush e Paulson rasgaram os princípios dogmáticos e foram em frente. Não é a única guinada de rumo da dupla nos últimos tempos. Agora eles andam pedindo conselhos até aos países emergentes, que antes desprezavam como celeiros de economias descontroladas. O contato se deu durante reunião do FMI na semana passada. Paulson chegou a se consultar com o ministro brasileiro Guido Mantega para saber se o caminho estava certo. Bush telefonou direto para o presidente Lula para pedir conselhos e trocar idéias a respeito da situação. Dá para imaginar quão difícil é para eles tomarem aulas de quem já conviveu com hiperinflação e desemprego recorde. Mas hoje o Brasil tem MBA de crise. Fez o Proer de socorro aos bancos, geriu um rombo imobiliário monstro no FCVS, passou por uma quase quebra de sua bolsa de valores – que lá atrás havia inflado devido a peripécias de algumas corretoras. Enfim, o Brasil está mesmo na condição de professor de momentos de aperto, enquanto os EUA, nesse campo, só agora estão voltando à escola. Alguns diriam que essas cenas são sinais da mudança de eixo do poder econômico do mundo. Quem sabe.