Se, por um singular acaso, o escritor colombiano Gabriel García Márquez tivesse de vir a ganhar a vida no Brasil, teria, com toda a certeza, enormes dificuldades. O autor do clássico Cem anos de solidão sofreria por aqui a cruel concorrência da nossa realidade, muito mais extravagante e absurda do que a produção do mestre do realismo fantástico. Por exemplo, o prefeito de São Paulo, Celso Pitta, com sua inabilidade e infortúnios, dificilmente encontraria personagem à altura na obra de García Márquez. Tampouco a inacreditável “não-posse” de seu novo secretário da Administração teria algum capítulo parecido nas páginas do escritor colombiano.

Abandonado há tempos por seu criador, Paulo Maluf, Pitta foi rejeitado pela maioria dos partidos políticos até conseguir abrigo no PTN. Dando sequência à caudalosa e interminável série de denúncias que assola a Prefeitura de São Paulo, agora é a sua Secretaria da Administração que vem sendo acusada de superfaturamento nas obras por ela gerenciadas. Pitta, então, resolveu substituir seu titular. Para o cargo definiu Marco Aurélio de Oliveira Abreu, que é filho de Dorival de Abreu, o cacique do tal PTN, acima referido. Festa marcada, mais de 500 convidados aguardando, banda de música tocando, enfim, a pompa tradicional aguardava o secretário a ser empossado no salão mais nobre da prefeitura. Do outro lado da cidade, na porta de sua casa, o futuro secretário, dentro de seu melhor terno e a bordo de sua Mercedes preta, era abordado por policiais da Divisão de Capturas: “O senhor é Marco Aurélio de Abreu?” Ao orgulhoso e satisfeito sim, recebeu de volta: “Então o senhor vai nos acompanhar, pois temos um mandado de prisão.” O futuro secretário foi encaminhado à Delegacia do Patrimônio, o Depatri, sob acusação de não obedecer a uma intimação da Justiça para explicar as causas da falência de sua empresa, a Exame Comércio Exterior Ltda., requerida em 1997 pela Madri Pisos e Revestimentos em função de um débito de R$ 3.461,60.

Festa cancelada, banda e convidados perplexos em retirada, sobrou um prefeito que, como em Macondo, melancolicamente explicava que havia escolhido o secretário pelo seu currículo, “no qual a experiência administrativa predominava.