O presidente Bill Clinton estava irritadíssimo na noite da quarta-feira 13. E não era para menos: levou uma boa bofetada dos senadores republicanos que decidiram rejeitar o Tratado Abrangente de Banimento de Testes Nucleares (CNBT, Comprehensive Nuclear Ban Treaty). Por apenas três votos (51 a 48), a primeira potência mundial do planeta poderá reverter o rumo da história recente do controle sobre as armas nucleares. “Isso foi um ato do novo isolacionismo. Com esse voto, o Senado regrediu em 50 anos a liderança americana contra a proliferação de armas”, bradou Clinton.

A comunidade internacional também sentiu-se estapeada pelo Senado americano. “É uma decisão completamente errônea”, afirmou o ministro da Defesa da Alemanha, Rudolf Scharping. “Um retrocesso no desarmamento mundial”, endossou o presidente francês Jacques Chirac. A decisão saiu exatamente uma semana após a conferência de Viena sobre o assunto. Os chefes de Estado sabem que o CNBT é o maior controlador da proliferação de armas e o mais eficiente para tentar conter os testes nucleares. O perigo está justamente em países como Índia e Paquistão (em plena instabilidade política), que já realizaram suas acrobacias nucleares e podem pôr em risco a humanidade com a construção de uma bomba.

“O tratado foi enterrado. Se os EUA não o ratificaram, porque outros países o farão?”, questionou Brahma Chellaney, analista indiano de política armamentista. Os EUA encabeçavam a lista dos 26 entre 44 países com capacidade nuclear que assinaram o tratado. A China, que também assinou o acordo e disse “lamentar profundamente” a queda do tratado, pode aproveitar a ocasião para acusar os americanos de incoerentes e rebater as constantes denúncias de violações dos Direitos Humanos em território chinês.

O golpe do Partido Republicano, que outrora não havia conseguido acertar a cabeça de Bill Clinton com o caso Monica Lewinsky, cheira a eleitoreiro. Clinton desafiou o candidato republicano à Casa Branca, George W. Bush Jr., a reiniciar as explosões nucleares no deserto de Nevada caso seja eleito presidente no próximo ano. Oficialmente, em território americano, hoje elas só acontecem nas telas dos computadores.

Os favoráveis ao fim do CNBT afirmam que apenas o governo americano leva a sério os tratados de controle de armas e citam a Coréia do Norte como símbolo de desrespeito. “Os EUA, quando assinam um tratado, o cumprem. Porém, sabemos que outras nações burlam os tratados de não-proliferação. A Coréia do Norte, por exemplo, trapaceia”, afirmou Kathleen Bailey, do Instituto Nacional para Políticas Públicas.