Uma revolução silenciosa está ocorrendo sob nossos pés. Inovações tecnológicas inimagináveis há alguns anos estão se tornando realidade com a explosão da fibra óptica. Muito em breve será possível, por exemplo, falar ao celular vendo o rosto do seu interlocutor – seja lá onde ele estiver. A Internet terá condições de ser acessada por um simples comando de voz. Em outras palavras, trata-se do tráfego de informações (dados, voz, som, Internet e TV a cabo) que vai chegar a sua casa através dos mais diferentes meios: gasodutos, redes de energia elétrica, ferrovias, rodovias e dutos de saneamento. Além, é claro, da própria rede de telecomunicações. O potencial de negócios que este tráfego de informação vai gerar já a partir do ano 2000 está deixando as empresas de infra-estrutura alvoroçadas. Cálculos preliminares da iniciativa privada dão conta de negócios na casa dos US$ 9 bilhões, podendo alcançar o volume de US$ 27 bilhões nos próximos cinco anos.

Interligar o País inteiro ou parte dele através de fibra óptica é a palavra de ordem do momento. A Intelig, que chegou ao País no ano passado com o nome de Bonari e virou empresa-espelho da Embratel, está construindo sua rede de fibra óptica em praticamente toda a extensão da rede ferroviária começando pelo eixo Rio–São Paulo–Belo Horizonte. Outro acordo já assinado inclui a Companhia Paulista de Trens Metropolitanos, o metrô de São Paulo. Para os próximos quatro anos, o volume de investimentos da Intelig brasileira será de R$ 2,8 bilhões. “Temos a vantagem de começar do zero, o que nos dá um diferencial com relação à concorrência”, vibra o vice-presidente de operações da empresa, Ben Buley.

Briga de xerifes – A concorrência desdenha o comentário e garante não temer a competição: “Somos a única empresa hoje com abrangência nacional. Até o final do ano 2000, já teremos uma rede de fibra óptica de 300 quilômetros quadrados”, calcula o executivo Leonello Patitucci, da Embratel-MCI. A aparente competição entre a Intelig e a Embratel é apenas um micropedaço da disputa de mercado que vem por aí. O temor generalizado é com relação às gigantes de infra-estrutura que estão de olho no mercado de transmissão de dados. E o motivo é simples: os muitos cifrões que este negócio pode gerar. Na Europa e nos Estados Unidos, o retorno do investimento chega a 30% contra os tradicionais 15% obtidos nos negócios de infra-estrutura. Esta alta taxa de retorno também está sendo esperada no Brasil. É por isso que as operadoras de telefonia não querem estranhos neste negócio. A briga já chegou até as altas esferas do governo. De um lado está a Anatel e de outro a ANP (Agência Nacional de Petróleo). “A Anatel quer ter o controle e o poder desse novo mercado”, alfineta o diretor-geral da ANP, David Zylberstajn. A acusação é rejeitada pela Anatel, que, oficialmente, diz “ter interesse na competição”. Já a Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica) garante que busca um entendimento com as demais agências.

Alguns presidentes de operadoras de telefonia chegam a alegar inclusive que a entrada de estranhos no setor não estava previsto no momento da privatização. Outra alegação é de que a concorrência seria desleal, já que o custo de implantação de uma rede de fibra óptica para as empresas de infra-estrutura seria ínfimo porque elas já têm uma extensa malha de distribuição. “O mercado de fibra óptica está crescendo numa ordem de 30% anuais no Brasil”, calcula o diretor de marketing grandes clientes da Telefônica, Shibata Mitsuo. O BNDES, gestor da privatização, acha a briga totalmente infrutífera. Tanto assim que, segundo a superintendente da área de projetos de infra-estrutura, Ivone Saraiva, os editais de privatização para algumas áreas de transmissão de energia já incluem uma autorização para as empresas entrarem no mercado de transmissão de dados. São os casos, por exemplo, das concorrências para as hidrelétricas de Tucuruí-Vila do Conde, no Pará, e Taguaruçu-Assis-Sumaré, em São Paulo.

Novos rivais – Gigantes como Petrobras e as empresas de energia elétrica Light e Metropolitana, do Rio e de São Paulo, respectivamente, já encaminharam seus pedidos a Renato Guerreiro – o xerife da Anatel. Todas elas querem prestar serviço limitado de telecomunicações, ou seja, transmitir dados. O pedido da Petrobras, o primeiro a ser encaminhado, em setembro de 1998, ainda não foi concedido. A Anatel considerou os dados técnicos insuficientes. A gigante de petróleo pretende entrar neste mercado pela porta da Gaspetro, tanto assim que já criou duas subsidiárias para atuar no setor: a Dataflux e a Engeflux. Na tentativa de abafar a disputa entre a ANP e a Anatel, a Petrobras está preferindo não comentar o assunto até que a autorização seja dada.

Assim como a Petrobras, a Light também não recebeu a autorização da Anatel. Os empecilhos no caso da concessionária de energia elétrica não são técnicos, mas políticos. Segundo a Anatel, existem problemas de participação cruzada de acionistas. Como a empresa não queria perder tempo, criou, há um mês, uma subsidiária para operar em telecomunicações: a Telecom. “Vamos absorver apenas 30% da nossa capacidade de transmissão de dados, o restante pretendemos vender ao mercado”, antecipa o gerente de desenvolvimento estratégico da Telecom, Maurício Dayan Arbetman. Ele, no entanto, prefere manter segredo sobre o volume de investimentos que está sendo feito pela Light na área de transmissão de dados. Diz apenas que, no futuro, a Light pretende ser um híbrido de concessionária de energia elétrica e empresa de telecomunicação. Esta revolução da fibra óptica está apenas começando e os entendidos no assunto acreditam que, no futuro, esta tecnologia vai proporcionar avanços que até Deus duvida. Quem viver, verá.