BRUNO MIRANDA/FOLHA IMAGEM

PRECISÃO O perito Adilson Pereira com o aparelho crimescope

É um erro capital teorizar antes de ter a evidência, escreveu Sir Arthur Conan Doyle em Um estudo em vermelho, a primeira aventura do detetive inglês Sherlock Holmes. É com o mesmo rigor que a equipe de peritos a auxiliar na investigação do assassinato de Isabella Nardoni espera esclarecer o crime. Mas a polícia científica não irá apenas apresentar à Justiça provas para desvendar o ocorrido nos minutos anteriores à queda da menina do sexto andar do prédio onde vivia a família Nardoni. Acompanhada de perto pela imprensa, a atuação dos técnicos do Instituto de Criminalística de São Paulo está mostrando a evolução dos meios disponíveis para detectar, coletar e analisar as evidências materiais de um crime.

Entre o que surgiu ou foi aprimorado nos últimos 20 anos (leia quadro) está um arsenal que vem melhorando e acelerando o trabalho da perícia em crimes de difícil solução. “Isso é um reflexo da demanda da Justiça por provas cada vez mais precisas”, diz Roberto Augusto de Carvalho Campos, professor de direito penal, medicina forense e criminologia da Universidade de São Paulo (USP). Se todos esses meios existissem há duas décadas, o desfecho de outro crime de projeção nacional talvez tivesse sido diferente. Conhecido como “o crime da rua Cuba”, o assassinato do advogado Jorge Toufic Bouchabki e de sua mulher, Maria Cecília Delmanto Bouchabki, em 1988, segue sem solução. Os dois foram mortos a tiros e os corpos encontrados na cama do casal. Na época, as suspeitas recaíram sobre o filho mais velho da família, Jorge Delmanto Bouchabki, então com 18 anos. O rapaz foi denunciado pelo Ministério Público como o autor do crime, mas o processo foi arquivado por falta de provas. “Na ocasião falou-se que a cena havia sido alterada. Se isso ocorreu, por mais meios que tivessem os peritos, a investigação ficou comprometida”, observa o legista Carlos Alberto Souza Coelho, diretor do Instituto Médico Legal de São Paulo.

A observação faz eco em toda a categoria. A preservação do local onde ocorreu uma morte violenta é a principal medida a ser tomada se já não há feridos para socorrer. E se no seriado americano CSI, que trata dessas investigações, os peritos vivem pedindo para ninguém mexer na cena do crime, no Brasil a situação é igual. “O problema é o tempo entre o fato e a chegada da polícia. As pessoas entram no local e deixam vestígios que não pertencem à cena”, diz Celso Perioli, coordenador da Superintendência da Polícia Técnico- Científica de São Paulo.

No caso da rua Cuba, a arma utilizada pelo assassino, um revólver calibre 32, nunca foi encontrada. Hoje, um sistema informatizado que reúne imagens e dados sobre armas, cartuchos e projéteis envolvidos em crimes teria auxiliado nas investigações. Trata-se do Ibis – Sistema Integrado de Identificação Balística. Alimentado com imagens das marcas deixadas em cartuchos e projéteis coletados em crimes, ele ajuda a identificar de quais armas eles foram disparados. Rio de Janeiro, Bahia e Espírito Santo já têm o sistema, que, apesar de eficiente, é caro e de difícil manutenção.

Além do Ibis, o Brasil tem outro moderno instrumento de combate ao crime. Desde 2004 a Polícia Federal usa o Afis – Sistema Automatizado de Identificações de Impressões Digitais – para comparar as digitais colhidas no local do crime com as registradas em um banco de dados de criminosos. “Se ele indica compatibilidade, elas ainda são analisadas por um especialista”, afirma Adilson Pereira, diretor do Núcleo de Física do Instituto de Criminalística de São Paulo. O objetivo é tornar a evidência irrefutável diante da Justiça. No caso Isabella, a intenção é a mesma. Após a reconstituição do crime, tudo indica que o elenco de provas apresentadas pelos peritos que esquadrinharam o apartamento dos Nardoni será robusto e bem fundamentado. No melhor estilo CSI.