A indústria da moda já tratou de mexer suas agulhas. Todo mundo sabe que este réveillon promete. E os estilistas, melhor do que ninguém, conhecem a vaidade humana. Apostam todos os alfinetinhos de seus ateliês que, do mesmo modo que as pessoas têm planejado festas de arromba e viagens mirabolantes para curtir o último dia de 1999, em breve vão estar atrás do melhor figurino para começar o ano 2000.

A Viva Vida está tão empolgada com a possibilidade de vendas que preparou uma minicoleção para este réveillon. “Acreditamos que as comemorações serão feitas em alto estilo e por isso decidimos dar ênfase ao black-tie”, conta Nardi Davidson, diretor-comercial da griffe. Ao contrário dos anos anteriores, quando ter algumas roupas brancas na loja era praxe, Davidson elaborou 30 modelos diferentes feitos à mão. Só não podem ser chamados de alta-costura porque para cada criação haverá cerca de 50 peças iguais. Milhares de bordados, metros de shantung, gazzar de seda e gazzar metalizado foram utilizados para fazer vestidos de gala e saias longas com corseletes que custam entre R$ 780 e R$ 980.

A joalheria Amsterdam Sauer começa a vender no início de novembro o Diamante do Milênio da De Beers, a famosa mineradora responsável pela comercialização de 80% dos diamantes produzidos mundialmente. São pedras redondas de um quilate, com altíssima qualidade de lapidação. Esta é a primeira vez que a De Beers assina um diamante para o público e a Amsterdam Sauer vai ter duas versões. Uma é a pedra solta que sai por R$ 5 mil. A outra versão é o anel com o Diamante do Milênio (R$ 25 mil), montado em base de platina, cercado com 20 pedras pequenas. “Oferecemos um design exclusivo em número limitado: apenas dez peças para o lançamento”, conta Daniel Sauer, dono da joalheria.

Esse anel vem em uma caixa de aço em formato de elipse que lembra uma espaçonave. O charme extra (se é que ainda precisa) para os dois modelos fica por conta dos certificados que vêm junto com cada peça: a inscrição internacional no GIA (Gemological Institute of America), o certificado com o número e nome de uma estrela, o cartão holográfico com o nome da pedra e cadastro do proprietário que será registrado no banco de dados da De Beers, em Londres.

Animada com as festas de gala do fim de ano, a Daslu Homem está preparando para novembro a abertura da coleção do milênio, com roupas de griffes internacionais e smokings do clássico ao fashion, de marcas consagradas, como Gucci, Zegna e Saint Laurent, a partir de R$ 500. Também existem peças que podem dar um toque especial. Entre elas, camisas com bordados feitas para acompanhar smokings tradicionais, sem contar com bermudas e até cuecas brancas. “Onde quer que o cliente da Daslu resolva passar o réveillon, a gente quer que ele esteja chiquérrimo”, empolga-se Elena Montanarini, diretora da loja.

O designer de jóias Antonio Bernardo é outro que investiu neste réveillon. “Nossa geração cresceu com muitas expectativas em relação ao ano 2000. Eu achava que tudo fosse se desmaterializar”, explica. Mas, como acredita que nem todo mundo vai a uma festa de gala para comemorar, fez peças para quem vai curtir o nascer do ano nos salões grã-finos das cidades e para aqueles que preferem algo mais intimista.

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O colar Contour, com 1.649 diamantes gravados em uma base de ouro branco, custa R$ 160 mil e é a homenagem especial que Bernardo faz ao filme 2001, uma odisséia no espaço. “Decidi fazer um colar que parecesse entrar no pescoço magicamente”, conta o designer que projetou um fecho tão discreto que dá a impressão de não existir. A outra peça, unissex, é a pulseira Wish (R$ 55), montada em couro com ponteiras de ouro branco. A idéia é poder juntar uma ou mais placas (R$ 17 cada) – também de ouro branco – onde estão impressos alguns dos desejos: amor, saúde, dinheiro, amizade, sexo ou, simplesmente, escrito 2000.

Para todos os gostos – A Forum pretende agradar a turma da praia e o povo das grandes festas. “A gente criou uma coleção inteira de branco e dourado”, conta Tufi Duek, dono da marca. No final de novembro, põe na loja a linha paetê, com seis modelos: vestidos, calças, saias, tops. Para os homens, a Forum fez terno branco. Fora isso, desenvolveu uma linha de camisetas, uma delas com estampa imitando chuva de prata onde está escrito 2000, que será limitada a 700 peças. Também vai vender t-shirts com mensagens do tipo “Divirta-se” ou “Seja gentil com os amigos.”

Waldemar Iódice, dono da griffe Iódice, aposta num final de ano relax. “Faço roupa para jovem, então só posso imaginar um réveillon na praia, com um pequeno grupo de amigos”, diz. Para os práticos que só querem champanhe e mar, a marca vai lançar o Kit Milênio (R$ 148,50), uma sacola de náilon com: calça comprida, camiseta e sandálias Havaianas. Tudo branco, como manda a tradição. Outra idéia da Iódice é a fitinha de cetim branca, inspirada naquela do Nosso Senhor do Bonfim, onde está escrito: “Iódice 2000. Feliz Milênio”.

A Le Lis Blanc aposta no meio-termo. Criou uma linha réveillon bem mais sensual do que sofisticada. “A mulher quer ficar linda. E vai usar decotes, transparências e rendas para realçar sua beleza”, afirma Traudi Guida, estilista e sócia da griffe. Na sua coleção de branco, pequenas contas bordadas aqui e ali, garantem um discreto brilho à roupa. Há tecidos com tramas abertas para fazer o jogo do esconde-revela.

A marca Havaianas entra no embalo do réveillon com o modelo 2000. Vai fabricar inicialmente 400 mil pares de sandálias. “Essas datas nos dão oportunidade de criar uma novidade em torno das Havaianas”, explica Edimar Ferreira de Andrade, gerente de produto da marca. A dificuldade, segundo ele, está em fazer um modelo diferente sem perder a identidade do produto. A boa e confortável Havaiana 2000 tem base e sola brancos. Apenas as tiras e o filete que fica no miolo do solado são prateados.

Desapego chique – Na linha de acessórios o estilista Lenny Mattos, da Lenny & Co, surpreende com a petit pochette, que custa R$ 200 e é um tremendo desafio ao desapego material. “Tive uma experiência esotérica e disseram que eu deveria me livrar da peça que mais gostasse”, conta Mattos. O objeto do desejo do estilista, recém-comprado, era uma bota da Gucci que ele deu à primeira pessoa que encontrou. “Em troca adquiri milhões de outras coisas positivas”, garante. Por conta disso, a tal petit pochette, bordada com canutilhos e cristais, foi feita para colocar patuá, trevo de quatro folhas e outros símbolos acumulados neste milênio. Depois, de acordo com Mattos, a pessoa deve jogá-la dentro no mar ou dar para alguém. “O grande barato é ver até que ponto as pessoas estão dispostas a se desprender dos bens materiais. Quem usar terá de optar. A virada do ano é um pretexto para fazer mudanças. As pessoas querem felicidade ou não?”, questiona.


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