Ajoelhada na cama, dedos num ágil batuque sobre o teclado, Dara veste as únicas quatro peças que jamais despe em cena. O par de luvas pretas, as meias de náilon presas na altura das coxas, as sandálias de salto altíssimo e a peruca – ora loira, ora morena. Fora isso, Dara faz de tudo. Ou quase tudo, já que ela se recusa a penetrar o corpo com vibrador diante das câmeras, uma fantasia frequente entre os espectadores dos shows eróticos que há mais de dois anos ela faz ao vivo, numa modalidade de peep show pelo computador. Para compensar essas “falhas”, a stripper aprimorou sua habilidade de contar histórias carregadas de sensualidade aos clientes virtuais. Estudante de Comunicação e noiva há seis anos, essa gaúcha de 23 anos descreve situações e cenas eróticas capazes de estimular o mais convicto dos celibatários. Mal começa o show interativo e ela sabe qual abordagem lançar. O grau de ousadia – e de sacanagem – depende do tom do voyeur eletrônico, com quem Dara só se comunica por teclado. A conversa pode oscilar da delicadeza romântica, “que agrada mais às mulheres e às vezes aos casais”, segundo a stripper, até a afetuosidade carente dos solitários. E, claro, a vulgaridade ou escatologia de quem se excita com termos chulos e práticas sexuais nada ortodoxas.

Não, Dara não é prostituta. Mas seu trabalho acaba exatamente quando o cliente atinge o clímax. Para usar a terminologia dos shows de sexo online, é quando ele chega ao EJ – ou ejaculação – e desliga sua conexão com o computador do peep show. No estúdio de gravação, três câmeras de vídeo capturam a todo instante imagens da stripper. Quem escolhe o melhor ângulo para apreciá-la é o próprio espectador, a partir da tela de seu computador. A câmera mais utilizada “é a que dá close no bumbum, a boa e velha preferência nacional”, diz Dara. Mas não é só.

Sexo anal – “Incrível como os clientes gostam de ver língua em movimento, sexo oral com vibrador e outras coisas que eles reclamam que as esposas não fazem em casa”, explica Danúbia Zum, atriz pornô conhecida como a rai-nha do sexo anal. Sua especialidade, aliás, é a grande preferida dos clientes assíduos do site erótico Planeta Virtual (www. planetavirtual.com.br). Com shows diários das seis da tarde às duas da manhã, o site tem 20 strippers femininas e 15 masculinos. E, embora a imensa maioria dos clientes seja homem, há também algumas mulheres que lançam mão de estímulos para esquentar sua vida sexual. Ou matar o tempo com um belo colírio que está ali na tela para realizar seus desejos mais inconfessáveis. Loiros, morenos, ruivos, negros, eles fazem o que o cliente virtual digitar. “Muita gente quer ver um homem nu se exibindo só para seu deleite”, conta Jorge, stripper profissional cujo trabalho lhe impõe uma rotina de ficar excitado por horas seguidas. Vestido apenas com uma minúscula sunga que mal cobre seu pênis ereto, Jorge acaricia-se diante das câmeras, manda beijos e apalpa o peito musculoso. Dois segundos depois, está nu e masturba-se a pedido do internauta. Seu forte não é o teclado, embora ele escreva ali uma coisa ou outra. “As pessoas dizem que sou gostoso e pedem para eu fazer o básico”, conta Jorge. Para quem não sabe, o básico consiste em exibir-se para o voyeur virtual. Para aguentar o tranco, o stripper conta com a ajuda de um aparelho de tevê que passa filmes pornôs. Sem parar. Há ainda revistas de mulheres nuas para os dias mais difíceis.

Na calada da noite – Os principais clientes dos peep shows online são homens casados, muitas vezes empresá-rios na casa dos 40 anos. Uma grande fatia acessa o serviço na calada da noite, depois de colocar as crianças na cama. Outros horários de pico são entre meio-dia e duas da tarde e logo depois do expediente, das seis e meia até nove da noite. Os gastos com sexo virtual muitas vezes chegam aos milhares de reais. A seleção natural acontece pelos pré-requisitos para usar o peep show digital. É preciso ter computador veloz, telefone e cartão de crédito, pelo menos. “Houve quem gastasse R$ 11 mil em dez meses”, lembra Ubirajara Teodoro, campeão brasileiro de boliche e dono do Planeta Virtual.

Como numa transa qualquer, uns chegam ao EJ mais rápido que outros. No sexo online, porém, o tempo do gozo é importante, sim senhor. “As ligações duram em média 20 minutos, que é o tempo médio para chegar ao EJ”, tranquiliza Teodoro. A regra não é fixa, evidente. “Há quem fique 50 minutos conectado”, diz Nahum Novak, vice-presidente comercial para a América do Sul da Wild Technology. Fabricante de equipamentos para segurança e vigilância, hoje a empresa ligada a um grupo americano faz parte de uma das maiores ca-deias de sites eróticos na Internet, com 80 endereços em 28 países. No Brasil, a companhia gerencia quatro, www.sexysite.com.br, www.69sex.com.br, www.musculos.com.br (para o público gay) e www.arrombadas.com.br. Em cada site, o minuto custa R$ 6,99, para um show com um único modelo, ou R$ 10,99, no espetáculo com duas strippers, que, apesar de caro, ainda assim é o campeão de audiência. Entre as fantasias recorrentes nos serviços de sexo online estão o sexo anal e a transa entre duas mulheres. “Na era pós-Madonna, muitas clientes têm curiosidade sobre como é o sexo entre mulheres”, contam os diretores de um dos sites. “Comandar um show pelo computador é uma forma segura e discreta de experimentar variações”, diz Novak. “É o sexo seguro sem camisinha”, resume.

Com 29 polegadas – Hoje as ligações com o peep show eletrônico são irritantemente lentas. No Planeta Virtual, a transmissão acontece num ritmo de tartaruga e cada imagem permanece na tela por um segundo. A recomendação para os strippers é agir em câmera lenta. O mesmo vale para o Sexysite, onde a conexão é mais rápida, com dez imagens por segundo. A qualidade da transmissão é ruim se comparada à televisão, que transmite 30 quadros por segundo. Mas essa limitação tem prazo para acabar, já que os principais serviços de pornografia online têm planos para transmitir suas imagens pelos cabos de tevê por assinatura, tão logo o acesso esteja disponível. Inútil dizer que apreciar um show de strip-tease é muito melhor quando visto numa tela de 29 polegadas. Estendido no sofá. Com o controle remoto numa mão. E a outra livre. Pro que der e vier.