Após dois anos no ar, o seriado Mulher, exibido às terças-feiras pela Rede Globo, começa a se despedir do público. Há duas semanas, a equipe gravou a última cena do programa, que irá ao ar no dia 30 de novembro. O fim pode parecer um sinal de fracasso, mas na verdade Mulher foi elaborado para durar só um ano. Ficou mais outros tantos meses no ar graças ao interesse que os temas despertaram. Para surpresa geral, o seriado chegou a atingir 31 pontos no Ibope, média considerada alta para o horário. Foi a primeira vez que a tevê brasileira falou de saúde com tanta clareza e qualidade. Parto, menopausa, menstruação precoce e até violência contra a mulher. Todas essas questões eram debatidas principalmente pelas “doutoras” Cris, vivida por Patrícia Pilar, e Marta, protagonizada por Eva Wilma. Outros atores, como Carlos Zara (hoje debilitado por causa de uma polineurite, doença que ataca os nervos espinhais e causa atrofia muscular), Cássio Gabus Mendes e Mônica Torres participavam dos dramas desenhados por Daniel Filho e dirigido por José Alvarenga Jr. Foi para falar de sua experiência em Mulher que Eva Wilma recebeu ISTOÉ em sua casa, em São Paulo.

ISTOÉO que o seriado trouxe para você?
Eva Wilma – Quando o Daniel Filho me propôs esse trabalho, ainda estava gravando a doida da Indomada. Estava muito estressada porque a Altiva me consumiu muito. Mas senti uma coisa irresistível. Vi que o seriado teria um papel social importante. E eu me importo com isso. Gosto dos seres humanos e principalmente os do nosso país.

ISTOÉA Marta tinha algo a ver com você?
Eva Wilma – Acho que toda personagem tem um pedacinho de mim. Mas essa tem pedações. Foi uma das que mais se aproximaram da minha pessoa.

ISTOÉPor causa do seu lado social?
Eva Wilma – Exatamente. Os colegas me chamam carinhosamente de irmã Paula. Mas acho que existem três atividades humanas que são missões. A do médico, teria de ser a do político (felizmente têm alguns que são bons) e a do sacerdócio. Essas atividades exigem uma entrega total. É uma dedicação a salvar vidas humanas e amenizar sofrimentos. No seriado as duas personagens tinham uma luta pelo ambulatório, apesar de trabalhar numa clínica de luxo.

ISTOÉHouve assessoria de médicos?
Eva Wilma – O tempo todo. Tínhamos assessoria de profissionais contratados pela empresa e outros que procurávamos por conta própria. O meu ginecologista ajudou e também contamos com a colaboração do ginecologista Malcom Montgomery, que tem um livro chamado Mulher, o negro do mundo.

ISTOÉVocê aprendeu muito sobre saúde?
Eva Wilma – Bastante. No começo foi muito difícil. No primeiro parto que fiz, com bebê de verdade, eu vestia luvas com sangue artificial. Quando o bebê veio para minhas mãos para eu fazer o gesto da retirada e colocá-lo nas mãos da pediatra, o sangue artificial tinha secado, e ele é grudento. Minhas mãos não saíam das costas do bebê. Então, eu não as tirei, para preservá-lo. Fui abaixando para a câmera não pegar. E a Mônica Torres, que fazia a pediatra, percebeu. Cruzamos as mãos e ficamos segurando. Mais para o final do seriado, foram elaborados bebezinhos de mentira, muito parecidos com os verdadeiros. O único problema é que eles eram muito pesados. Nós os chamávamos de Chuck, e cada vez que queríamos fazer o efeito de segurar pelos pezinhos, eles se a-briam. Mas tive acesso a leituras científicas sobre gi-necologia que os diretores de arte colocavam na mesa.

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ISTOÉO seriado foi o primeiro no Brasil a falar de saúde sem a pirotecnia de um americano, como Plantão médico. Ele cumpriu seu papel?
Eva Wilma – Acho que sim. Foram excelentes interpretações e informações. Casos de estupro, violência, que sabemos que existem, foram mostrados com profundidade, sem sensacionalismo.

ISTOÉComo o público de lugares distantes, onde quase não existe tevê, respondeu?
Eva Wilma – Soubemos que em cidades onde existe o “televizinho”, as pessoas se cotizaram para conseguir um posto médico, por influência do Mulher. Conseguir isso na tevê aberta é uma vitória.

ISTOÉ – Há poucos programas preocupados com a qualidade. O que se privilegia hoje é o Ibope?
Eva Wilma – Dentro da tevê aberta essa luta pelo Ibope é muito feia. Nivela-se por baixo e toda vida eu senti que é subestimada a inteligência do público. Vendem-se droga, destruição.

ISTOÉ – Numa fase do Mulher, o Carlos Zara, que fazia o marido da doutora Marta, ficou mais fragilizado. Por quê? Ele está com algum problema de saúde?
Eva Wilma – Ele ficou fragilizado para ter o conforto de atuar dentro da condição dele. Ele está fazendo reabilitação de um problema na perna por causa de uma atrofia e precisa usar bengala. No seriado, simularam um acidente para que ele pudesse usar a bengala em cena.

ISTOÉ – A experiência do Mulher pode gerar outros programas semelhantes?
Eva Wilma – Deve continuar um outro seriado, que começa em março, com outros temas. Por nós, atores, continuaremos a prestar serviços por meio de entretenimento, que é a melhor maneira de chegar às pessoas.


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