O governador Mário Covas (PSDB) passou a semana resmungando. Ele ficou irritado com a revelação feita por ISTOÉ de que pode ter havido intermediação do esquema de Eduardo Jorge – ex-secretário de FHC – nos negócios realizados pela Companhia de Seguros Gerais do Estado de São Paulo (Cosesp). Sua raiva, porém, de nada adiantou. Tão logo termine o recesso parlamentar, a agenda da Assembléia Legislativa paulista será preenchida com um pedido de CPI. Deputados de oposição querem saber qual foi a participação do Grupo Meta, ligado a Eduardo Jorge, na transferência, sem licitação, de 99,9% da carteira de seguros de automóveis da Cosesp para a Sul América Seguros. A transferência levou de carona R$ 33 milhões a título de reserva técnica, uma espécie de poupança usada para eventuais sinistros. “Covas se diz a favor das CPIs e das transparências. E há denúncias de que sua caixa de campanha passou por empresas de consultoria, de publicidade e pela Cosesp”, afirma o petista Jilmar Tatto, que promete pedir a imediata instalação da CPI.
O também petista Paulo Teixeira enfatiza a necessidade de o Legislativo buscar informações sobre o que chama de caso nebuloso. “Tudo aconteceu às vésperas de uma campanha eleitoral”, diz. Sabedor desse movimento, o governador tentou se justificar. Na quinta-feira 27, convocou uma coletiva apenas para dizer que não tem nada a ver com Eduardo Jorge. “Não houve intermediação da Meta por parte da Cosesp no negócio com a Sul América”, esbravejou o tucano. O vice-presidente de produtos da Sul América, Minas Mardirossian, no entanto, confirma que a Meta intermedia a aquisição de novos clientes na sua companhia, incluindo os que vieram da carteira da Cosesp, conforme ISTOÉ publicou em sua última edição. O caso teve início em junho de 1998 e até hoje não foi investigado.

O deputado Teixeira bem que tentou. Em agosto daquele ano, questionou a falta de licitação, mas não houve resposta da Cosesp.
Na semana passada, o Ministério Público começou a se mexer. Chamou para depor o ex-presidente da Cosesp José Maria Monteiro, tesoureiro da campanha de Covas em 1998. O promotor Fernando Capez suspeita que o negócio tenha violado a Lei de Licitações. O Ministério Público tem informações de que Monteiro assumiu a presidência da Cosesp por indicação de Eduardo Jorge. Monteiro foi trabalhar na seguradora Brasil Saúde quando deixou a Cosesp em janeiro de 1999. A Sul América é uma das principais controladoras da Brasil Saúde. O restante pertence ao Banco do Brasil.

Em Brasília, o deputado Agnelo Queiróz (PCdoB-DF) descobriu que a Brasil Saúde recebeu, em 1999, R$ 11,7 milhões de órgãos federais relativos a convênios de saúde. Desse total, R$ 7 milhões teriam saído do Ministério da Cultura. Os contratos foram intermediados pela mesma Metacor. A Brasil Saúde não comenta a informação e se diz no direito de não revelar os corretores de seus clientes. “Por que o BB usou a Metacor se tem a sua própria corretora?, indaga o deputado, que pediu ao TCU investigação sobre o caso. Não é de hoje que o Grupo Meta fecha contratos na área de saúde sem licitação. Em 1999, intermediou contrato entre a Cosesp e a Golden Cross para atender órgãos públicos.