Quem circulava pelos bastidores do Domingo legal no dia 23 deparou-se com a presença estranha de dois peixes enormes e feios, colocados dentro de um aquário num canto escuro do corredor do estúdio onde Gugu Liberato apresenta seu programa ao vivo. Já com o Ibope afogando as chances de o Domingão do Faustão virar o jogo, Gugu anunciou: “Vêm aí os incríveis peixes que andam.” Não deu outra. Com a artimanha, novamente Gugu aplicou uma surra na atração da Rede Globo, mantendo uma sistemática que vem se tornando tradição. Claro que o casal de bagres carnívoros asiáticos não andou. Mas, por terem guelras especiais, permaneceram vários minutos se arrastando numa rampa. Foi o que bastou para a audiência se manter lá em cima e – no acúmulo de 11 vitórias e um empate com o Domingão do Faustão – fazer com que a direção da Globo se escabelasse e pressionasse ainda mais Fausto Silva.

As sucessivas vitórias de Gugu sobre Faustão na verdade não exigem grandes análises. Gugu simplesmente não tem pudor em associar sua imagem a qualquer bobagem que prenda a atenção do espectador. Também não se faz de rogado quando algo sai fora dos planos como a tentativa frustrada de ressuscitar três moscas congeladas com a chama de um isqueiro. Para completar, ao contrário de Faustão, que simplesmente faz o papel de apresentador, Gugu tem total controle sobre tudo o que acontece no Domingo legal. A onipresença lhe dá vantagens absurdas e a identificação com o que faz não lhe causa constrangimentos como os que Faustão tem passado por trazer atrações nas quais ele aparentemente não acredita. O estilo Gugu é tão radical que no palco nem água ele toma para não precisar ir ao banheiro e assim perder, por minutos, os movimentos da concorrência.
Gugu abusa da espontaneidade. Se as moscas mortas não revivem, com a maior cara-de-pau ele muda de assunto e, no instante seguinte, aparece levitando por obra do mágico Mister M, que agora bate ponto no SBT com e sem sua famosa máscara. “Olhe a diferença”, enfatiza Gugu. “Eles (a Globo) nunca colocaram o Mister M ao vivo. Eu fui a Las Vegas e fiz um acerto com ele. A Globo tem um baita elenco e não explora. Se eu tivesse esse elenco faria mil coisas. É uma questão de sobrevivência”, explica o apresentador que, durante recente visita aos estúdios da rival, ganhou recepção de nobre. A Globo sabe, porém, que para ter o loiro no seu quadro de estrelas teria que desembolsar muito dinheiro. No SBT, Gugu fatura R$ 4 milhões mensais entre salário e as cotas dos 16 comerciais que apresenta a cada domingo. O retorno em audiência está à altura da remuneração. Ele se comprometeu com Silvio Santos, o dono do SBT, a nunca dar menos que a média de 15 pontos de audiência. Tem superado a marca com folga. No mesmo domingo 23, por exemplo, às 17h52 houve um pico de 34,5 pontos do SBT contra 14,8 da Globo.
A marca foi registrada durante o Telegrama legal – espécie de pegadinha com a câmera escondida –, que é um dos maiores êxitos do programa, ainda que, como todas as brincadeiras do gênero, seja de gosto duvidoso. Não é à toa que, mesmo depois de terem sido decepadas do Domingão do Faustão, pelo potencial de audiência, as pegadinhas ameaçam voltar à atração global. O telegrama armado pela produção de Gugu visou a apresentadora Liliane Ventura, do programa feminino Viver, da Rede Mulher. Levada por uma assessora ao salão do cabeleireiro Julinho do Carmo, ela viveu um pesadelo. Primeiro, ele empapou seu cabelo com borra de café. Ao reclamar, foi tratada com rispidez. A explosão de Liliane, entretanto, aconteceu quando Julinho – representando muito bem seu papel de algoz – maltratou uma funcionária do salão. Gugu se divertiu, Liliane nem tanto. “Eu me senti ridícula, perdendo o controle em rede nacional. Esse quadro tem muita adrenalina e o perigoso é na hora da raiva a gente mostrar quem é”, conta ela, ainda se sentindo ridícula, mas envaidecida com os 150 fax recebidos comentando sua aparição.
Curiosamente, nem Gugu ou o diretor Roberto Manzoni sabiam em que momento iriam colocar no ar o tal telegrama. A decisão veio de acordo com a oscilação do Ibope, controlado por Gugu com olhos de lince num monitor especial, estrategicamente colocado ao lado do palco. Juntos há 15 anos, Gugu e Manzoni atuam em sintonia afinada, embora não raro discutam num vocabulário não muito polido. Manzoni releva. “Somos uma dupla, e fazemos uma eterna guerrilha”, diz o diretor, que não faz mais jus ao apelido de Magrão – tem 1,80m e 95 quilos – e há anos veste o mesmo agasalho branco e puído para dirigir o programa dominical. “É meu talismã”, explica. Gugu Liberato, em fase total de elegância, jamais se deixaria flagrar tão mal vestido, ainda que na intimidade goste mesmo de sandália, bermuda, camiseta, óculos e boné. É com este figurino que ele pode ser visto nos seus frequentes refúgios em praias paradisíacas do Nordeste.

 

Elegância – Ainda que seja um workaholic, Gugu tem se empenhado em melhorar a qualidade de vida. Em dois anos afinou a silhueta eliminando 12 quilos dos quase 90 que pesava. Ele mede 1,74m. O novo layout do loiro de 41 anos veio de uma lipoescultura que lhe retirou dois litros e meio de gordura e de uma rotina diária de duas horas e meia de ginástica. Guarda-roupa é um capricho à parte. Seus horrendos ternos coloridos foram há muito aposentados e substituídos por roupas e relógios de grife comprados em Nova York e Paris pela figurinista Márcia Maia. “Ele nunca repete uma gravata”, garante ela. Apesar da aparência de dândi, Gugu Liberato tem se mostrado um gladiador.

 

Contra a parede

 

Nos últimos tempos, Faustão tem mostrado um semblante tenso. Seja pelas tundas frequentes do Domingo legal, seja pela pressão interna da Globo e até dos publicitários que lhe cobram um mínimo de 20 pontos no Ibope. Ele tem raspado nos 21 pontos. Claro, 30 segundos no Domingão do Faustão custam R$ 54.828. Marluce Dias da Silva, diretora-geral da Rede Globo, quer uma recuperação imediata. Afinal, o faturamento anual do programa gira em torno de R$ 130 milhões.

Por enquanto, a direção da Globo aguarda a recuperação que se esboça. Mas Fausto Silva corre o risco de ver seu horário achatado. Nos corredores da emissora sabe-se que mexer com ele não vai ser fácil. O contrato de Faustão, que se estende até 2003, é muito bem elaborado. Ele é protegido por cláusulas que incluem multas milionárias em caso de rompimento. Seja como for, o simpático Fausto Silva tem sido obrigado a conviver com boatos desagradáveis. O mais recente é que o apresentador da Rede Record Raul Gil estaria sendo sondado para reforçar o domingo. Todos desmentem, mas a história não deixa de fazer sentido. Raul Gil também promove alguns estragos aos sábados, concorrendo com o Caldeirão do Huck. Na Globo, o espalhafatoso apresentador da emissora do bispo mataria dois coelhos numa só cajadada.