Ocupando um lugar de destaque no imaginário americano, o assassinato da “Dália Negra”, ocorrido em 1947 e insolúvel até hoje, é assunto recorrente na literatura policial. No dia 15 de janeiro daquele ano, em um terreno baldio situado na esquina das ruas 39 com Norton, em Los Angeles, o corpo de Elisabeth Short, 22 anos, uma garota com aspirações a atriz e, como tantas outras, envolvida com prostituição, foi encontrado serrado pela cintura, sem os órgãos principais, com sinais de tortura prolongada e sem nenhuma gota de sangue. Sua boca havia sido rasgada de orelha a orelha. O apelido inventado pela imprensa, devido ao cabelo e às roupas pintadas de negro, saiu de um filme de sucesso na época, A dália azul, inspirado em uma história de Raymond Chandler. Quando James Ellroy, em 1987, escolheu para tema de seu sétimo livro, Dália Negra (Record, 352 págs., R$ 30), poucos sabiam que ele próprio sofrera situação semelhante. Sua mãe, Geneva, que levava uma vida irregular, também foi encontrada morta, estrangulada em um terreno baldio, quando ele tinha 11 anos. O assassino nunca foi identificado.

Ellroy só teria coragem de abordar o tema em Meus lugares escuros (1996). Misturando a frieza e o cinismo do citado Chandler ou de Dashiell Hammett, Ellroy reconta a infeliz história da “Dália Negra” sob a ótica do policial Bucky Bleichert, que participou das investigações e chegou onde ninguém jamais pensou em chegar: o que realmente teria acontecido com aquela menina? É um trabalho de ficção aterrorizante, ou “dark, dark, dark, dark, dark” (negro, negro, negro, negro, negro), cinco vezes, como afirma o autor que escreveria Los Angeles – cidade proibida, em 1990, depois adaptado às telas.