O ranking da Fifa é chato e difícil de entender. Mas nós, brasileiros que gostamos de futebol, deveríamos levá-lo mais a sério. Por um motivo: o ranking reflete o desempenho das seleções nos últimos quatro anos. Ele dá peso maior aos jogos mais recentes e aos torneios oficiais. Assim, os resultados de 2013 têm 100% de peso na pontuação, enquanto os de 2012 têm 50%, os de 2011 têm 30% e os de 2010 têm apenas 20%.

Mesmo com a pequena importância dada, no momento, aos resultados de 2010, quando foi campeã mundial, a Espanha lidera o ranking da Fifa com 1.538 pontos. Quanto ao Brasil, é apenas o 19º colocado, com pobres 902 pontos. Significa que a Espanha manteve seu nível em relação a 2010, enquanto o Brasil despencou sob as direções de Mano Menezes e Luís Felipe Scolari. A média de pontos da Seleção Brasileira vem caindo: 975 em 2010, 634 em 2011, 451 em 2012 e 290 em 2013. Para comparar, veja a líder Espanha: 692 pontos em 2010, 1.051 em 2011, 497 em 2012 e 835 em 2013.

Considerando só os países que foram campeões mundiais, o Brasil está atrás de todos: Espanha (P1), Alemanha (P2), Argentina (P3), Inglaterra (P7), Itália (P8), Uruguai (P17) e França (P18). A Seleção Brasileira também está atrás de Croácia, Portugal, Colômbia, Holanda, Equador, Rússia, Costa do Marfim, Grécia, Suíça, Bélgica e México.

Um vexame, portanto.

Recorri a esses dados “científicos” para tratar de um tema muito mais profundo: a qualidade dos jogadores convocados para a Seleção Brasileira. O Brasil não tem mais craques como tinha antes. Ok, temos Neymar. Ele é fora-de-série, capaz de driblar em cima do próprio drible, finalizar com precisão. Só que Neymar não tem tido boas companhias em campo, nem na Seleção nem no Santos depois da saída de Paulo Henrique Ganso. No Barcelona, com ótimos jogadores ao seu lado, é capaz de brilhar ainda mais do que brilhou no Santos.

Mas, além de Neymar, quem pode ser o diferencial para a Seleção Brasileira na Copa do Mundo de 2014? Kaká? Não consegue sequer ser titular do Real Madrid. Ronaldinho Gaúcho? Por que o seria, se não foi na Copa de 2006, quando era o melhor jogador do mundo? Oscar? Não se firmou nem em seu time, o Chelsea. Paulinho e Hernanes? São ótimos jogadores, mas não chegam sequer ao nível de um Toninho Cerezzo, que dirá de um Falcão, um Zito, um Didi ou um Cloadoaldo. Hulk? Menos, Felipão, menos. Lucas? Não se firmou ainda no Paris Saint-Germain.

O fato é: o Brasil não tem mais craques. Nas cinco Copas que ganhou, o Brasil tinha pelo menos dois foras-de-série na equipe, ou um fora-de-série ao lado de um  virtuoso. Em 1958 havia Didi, Pelé, Garrincha, Nilton Santos e Djalma Santos. Em 1962 idem, sem Pelé, mas com “o possesso” Amarildo. Em 1970 havia Carlos Alberto, Clodoaldo, Gerson, Rivellino, Pelé, Jairzinho e Tostão.

Até que algo mudou. A derrota na Copa de 1982 matou o futebol-arte do Brasil. E ele foi definitivamente sepultado na Copa de 1986, quando a geração de Zico e Sócrates caiu eliminada pela França. Apesar de tudo, em 1994 havia o gênio Romário e o virtuoso Bebeto. Em 2002 havia o gênio Ronaldo e o virtuoso Rivaldo. A história mostra que é possível perder a Copa do Mundo com craques. Mas ganhá-la sem ter nenhum craque é quase impossível. Pelo menos um tem que haver — e que os outros trabalhem por ele, caso sejam apenas operários da bola.

As gerações de brasileiros convocados têm caído de nível. Nos anos 70 o Brasil tinha jogadores como Rivellino, Ademir da Guia, Tostão, Jairzinho, Edu, Zico, Falcão, Reinaldo e Toninho Cerezzo. Nos anos 80 continuamos com Zico, Falcão, Reinaldo e Cerezzo e a eles se juntaram Sócrates, Careca, Junior, Oscar e Renato Gaúcho. Nos 90 tivemos Raí, Neto, Romário, Bebeto e Muller. Mas aí já estávamos na era Dunga, personalizada pelo capitão de 1994, de valorização do jogador mais viril, marcador e operário, em detrimento dos meias que cadenciavam o jogo e atacantes que arriscavam dribles. A lista de exemplos é enorme. Mas a verdade é aquela mesma estampada no ranking da Fifa: Brasil, 19º colocado.

Quem haverá de mudar isso? Não queremos muito. Não precisa ser uma seleção como a de 1962, esta da foto. Uma como a de 1994 já estava bom. Com a varinha mágica, Felipão e Neymar. 

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