i69849.jpgBlogueira, fã de tatuagens e escritora compulsiva, a americana Brook Busey-Hunt, 30 anos, deixou uma boate de terceira classe no subúrbio de Minnesota, nos EUA, onde trabalhou como stripper, para quatro anos depois encarar a glamourosa festa do Oscar, em Hollywood, onde recebeu este ano o prêmio de melhor roteiro original pelo filme Juno, protagonizado pela atriz Ellen Page. Sob o pseudônimo de Diablo Cody, Brook criou a história da adolescente que engravida aos 16 anos e decide dar o filho para adoção. Ela jamais imaginara, no entanto, que o filme, uma produção pequena e independente, lhe traria fama, prêmios e ainda outros dois novos contratos cinematográficos: The United States of Tara, produzido por Steven Spielberg, e Jennifer’s body, de Karyn Kusama. O segredo dessa bem-sucedida trajetória reside no livro autobiográfico Minha vida como stripper (Editora Nova Fronteira, 212 págs.), que será agora lançado no Brasil. Nele, ela conta como deixou a confortável casa de seus pais em Chicago e foi trabalhar como dançarina de strip-tease no gélido Estado de Minnesota, na divisa com o Canadá. Foi a partir da publicação desse livro nos EUA em 2006 que Diablo recebeu o convite para escrever um roteiro de cinema. E então ela criou Juno.

O livro preserva o mesmo tom bemhumorado, ácido e ágil dos diálogos que fizeram do filme um grande sucesso de público. Diablo vai contando a sua história sem julgamentos ou a intenção de passar uma mensagem e quase sempre revelando momentos constrangedores e cômicos que ela própria vivenciou. Ela deixa a sua casa aos 23 anos para viver com um rapaz que conhecera pela internet. Após alguns meses, entediada em seu trabalho como digitadora de uma agência de publicidade, inscreveu-se numa seleção de strippers numa tosca casa de shows da cidade. Achou que a experiência poderia ser divertida. Nessa época, Diablo era uma menina roqueira que usava camisas de flanela xadrez, tênis All Star de cano alto e tinha os cabelos pretos cortados em forma de cuia. "Era magricela (nós neuróticas geralmente somos assim), mas tinha a carne fraca e molenga de alguém que gosta de computadores e não de esportes pesados. Eu estava a dois mil anos-luz de uma Pamela Anderson como uma stripper chique convencional." Os dedos de suas mãos exibiam unhas em meia-lua devido ao seu hábito de roê-las. Mesmo assim, ela decidiu arriscar e foi contratada.

i69851.jpgENTRE GLAMOUR E FETICHES

Gostou do que experimentou e chegou a trabalhar em média nove horas por dia, intensamente. Ela largou o emprego, e passou para a equipe permanente da boate Skyway Lounge em tempo integral. E o que leva uma menina de classe média, que cursou bons colégios e faculdade, a viajar para Minnesota e tirar a roupa numa boate de strip-tease? Na primeira linha de seu livro ela diz: "Ninguém vem a Minnesota para tirar a roupa. Pessoas assim são classificadas por aqui, na melhor das hipóteses, como ‘diferentes’." E Diablo fornece algumas alternativas para explicar a sua decisão: "Eu tinha ido parar nessa história principalmente por prazer, para ser uma espécie de Maria Madalena devassa que fora ultrajada nas igrejas da minha juventude", escreve ela. "Eu nunca roubei um batom e terminei a faculdade em oito semestres certinho. Eu era um saco, queridos."

Após alguns meses de experiência, Diablo elege as melhores músicas para se tirar a roupa, e na sua lista estão Honky tonk woman, dos Rolling Stones, Hash pipe, do Weezer, e Purple rain, do Prince. Ela trabalhou em diversas casas de striptease e logo descobriu o lado perverso da profissão – houve um cliente mexicano que mordeu os seus seios até que sangrassem e um outro, indiano, que a assediou sexualmente de forma agressiva. Ela também presenciou situações dramáticas envolvendo suas colegas de trabalho. Mergulhou no mundo cão. Em algumas passagens, revela situações patéticas, como um teste em que ela fica presa ao poste onde deveria girar pelo salto de seu sapato e cai. "Eu me perguntei se sobreviveria ao teste sem esmagar o meu cóccix e passar o resto da minha carreira de digitadora sentada numa almofada inflável em forma de anel." Ela não só sobreviveu como soube transformar a sua faceta secreta num best-seller que já está entre os dez livros mais vendidos, segundo o jornal The New York Times.

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