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 O experiente e genial pacificador William Ury revela que
 só há uma pessoa capaz de deixá-lo vez ou outra sem
 saber como negociar: sua filha adolescente Gaby

Na última quinta-feira, alguns dos principais jornais do mundo noticiaram algo verdadeiramente inédito. Pela primeira vez na história, o governo da Colômbia e as lideranças das Farc concordaram sobre algo. A notícia dá conta de que, depois de longa negociação, as duas partes estavam chegando a um acordo em relação ao controle de territórios e a outras questões cabeludas que geraram incontáveis mortes e atos de violência nas últimas décadas. Não há como provar, dado o sigilo da própria atividade, mas fontes confiáveis dão conta de que por trás do improvável acordo estaria mais uma vez a interferência daquele que é considerado por muita gente boa o melhor mediador de conflitos do mundo. O americano William Ury vive com a esposa brasileira e seus três filhos numa cidade bonita e calma ao pé das montanhas do Colorado. De lá, costuma sair com frequência para cumprir as mais diversas tarefas . De uma singela palestra num evento sobre sucessão familiar no Brasil à intermediação de conflitos pesadíssimos entre governos no Oriente Médio. Da participação no conselho de uma corporação gigante às voltas com brigas societárias bilionárias, à imersão em tribos de nativos da Papua-Nova Guiné. Guerra fria, conflitos entre russos e chechenos, batalhas odiosas entre irmãos ou casais em separação… uma vocação natural de recolher e costurar os mais variados saberes existentes dá a Ury uma incomum e adorável capacidade de ouvir com humildade e ao mesmo tempo encantar com sabedoria o mais envenenado dos interlocutores.

Formado em antropologia por Yale com pós-graduação em Harvard, onde dirige o Global Negotiation Project, Ury bebe em inúmeras outras fontes. Do hinduísmo e do budismo tibetano ao esqui na neve, da “Torá” aos manuais de física quântica ou psicanálise, pouca coisa escapa aos seus olhos verdes e curiosos. Entre outros feitos cada vez menos vistos nos dias de hoje, Ury jura ser um bom amigo de sua ex-mulher, com quem inclusive compartilha natais e outras festas familiares, sem deixar de fora o atual cônjuge dela, de quem também garante ser amigo.
 
Apaixonado pelo Brasil, lugar que, segundo ele, tem muito a ensinar ao mundo sobre como lidar com a diversidade, escreveu best-sellers interessantes sobre as sutilezas das negociações entre seres humanos. “Como Chegar ao Sim, Supere o Não” e o recém-lançado em português “O Poder do Não Positivo” somam milhões de exemplares vendidos mundo afora. Semear o entendimento deve fazer bem também ao corpo. Mesmo sem aparentar, este “quase vegetariano” completa 60 anos em setembro.
 
Mais do que tudo, Ury parece ter conseguido ao longo dos anos, polindo seus dotes naturais, desenvolver no limite algo que ele considera a chave para destrancar 99,9% dos conflitos entre pessoas no mundo: a arte de ouvir de verdade e de dialogar de forma construtiva, firme e amorosa com o outro.
 
Foto: Kiko Ferrite/Revista Trip
A coluna de Paulo Lima, fundador da editora Trip, é publicada quinzenalmente