SENHA Alckmin quer declaração pública
de Serra para desistir da candidatura a prefeito

Na semana em que o País comemorou o Dia de Tiradentes, o herói da Inconfidência Mineira, uma articulação paulista, protagonizada no tabuleiro da sucessão paulistana, abalou o projeto presidencial do governador mineiro Aécio Neves. “Faz 100 anos que São Paulo não tem um presidente”, disse o exgovernador Orestes Quércia, ao abrir a reunião da Executiva Estadual do PMDB que aprovou por unanimidade o apoio do partido à reeleição do prefeito Gilberto Kassab (DEM), na quinta-feira 24. “Se o PMDB não tiver candidato (à Presidência da República), o governador José Serra será uma alternativa”, completou Quércia. A aproximação do PMDB de Quércia com o prefeito Kassab foi promovida por Serra e conduzida pelo vice-governador, Alberto Goldman, e pelo secretário da Casa Civil, Aloysio Nunes Ferreira. No cassino político, Serra jogou com o cacife alheio. Coube a Kassab assegurar a Quércia a indicação para a disputa por uma vaga no Senado em 2010. O prefeito, por sua vez, pouco tem a perder. Com a aliança, obtém preciosos 4,5 minutos no horário eleitoral e, se reeleito, terá mais quatro anos à frente do terceiro maior orçamento do País. Se perder, certamente sairá da disputa com força para liderar sua própria bancada na Câmara dos Deputados a partir de 2011. Quem perdeu foi o tucano Geraldo Alckmin, que insiste em disputar a Prefeitura de São Paulo e tem dividido o PSDB paulista. Depois da adesão de Quércia à candidatura do prefeito, até mesmo os aliados de Alckmin avaliam que sua desistência será uma questão de tempo.

LEO CAOBELLI/FOLHA IMAGEMNa noite da quinta-feira 24, Alckmin avisou a Kassab que não pretende fugir da briga. Disse que vai buscar apoios no PTB e no PSB, mas forneceu a senha para uma provável saída honrosa. Quer que o governador Serra assuma publicamente que não será candidato à reeleição em 2010, mesmo que Aécio seja o candidato tucano à sucessão de Lula. A inesperada aliança do PMDB com o DEM deixou o ex-governador emparedado. Alckmin já havia recebido recados de que poderia conquistar a legenda, mas não teria o partido em sua campanha. Apostava que os números das pesquisas eleitorais poderiam reverter esse quadro e contava com a ajuda de Aécio Neves para ter apoio do PSDB nacional. Mas o ex-governador jamais considerou a possibilidade de Serra se aproximar de Quércia. Afinal, foi quebrado um tabu histórico. O PSDB teve origem exatamente nas divergências de Fernando Henrique Cardoso, José Serra e Mário Covas em relação ao estilo político de Quércia. Insatisfeitos com os rumos do PMDB paulista, o célebre triunvirato chegou a apoiar o empresário empresário Antônio Ermírio de Moraes, candidato ao governo de São Paulo pelo PTB. Ermírio foi derrotado por Quércia em 1986 e os dissidentes, sem saída, fundaram o PSDB, em 1988. Essa história foi atropelada pelas necessidades do novo momento. O acordo foi comemorado pelos peemedebistas, que deverão ser agraciados com cargos nos governos estadual e municipal. “Estamos de volta ao poder”, comemorou, no plenário da Assembléia Legislativa de São Paulo, o deputado Baleia Rossi, fiel quercista do PMDB de Ribeirão Preto. Uma euforia que não existia enquanto Quércia buscava acordos com a ministra do Turismo, Marta Suplicy, do PT.

Para passar uma borracha na antiga rixa com Quércia, Serra encontrou motivos nos movimentos de Aécio. Se Minas é capaz de atrair simpatia até do presidente Lula, Serra também se mostra capaz de superar antigas diferenças. E avisa ao concorrente mineiro que São Paulo pode se unir em torno de seu nome em 2010. Não importa se o preço a pagar é a candidatura de Alckmin. “Eu acho que quem ficou numa situação desfavorável foi o ex-governador Alckmin, quando seu próprio partido articula em direção contrária a ele”, constata Marta. Mas o PT também entrou em rebuliço com o acordo entre Quércia e Kassab. O café da manhã de correligionários paulistas com Marta, na quinta-feira 24, em Brasília, que deveria ser um ato festivo de apoio à candidatura da ministra, transformou-se numa tensa reunião de trabalho de 11 deputados estaduais, 12 vereadores, oito deputados federais e dois senadores. Coube ao deputado José Genoino, ex-presidente do PT, fazer uma avaliação da guinada política em São Paulo. Genoino alertou que, ao se aliar a Quércia para responder às investidas de Aécio Neves, Serra “deu um significado nacional à eleição municipal”. Isso, a seu ver, aumenta a responsabilidade do PT e obriga Marta a assumir a candidatura o quanto antes. Ao sair da reunião que durou duas horas, a ministra se disse sensibilizada com o apoio e “propensa” a entrar na disputa. Mas explicou que tem prazo até dia 5 de junho para anunciar sua decisão. Esse prazo certamente encurtará tão logo Alckmin confirme sua desistência.

SAMIR BAPISTA/AE

NOVA ALIANÇA Ao se desligar de Marta Suplicy e fechar acordo com o prefeito Kassab, Quércia conquista legenda para o Senado em 2010, cargos na prefeitura e no Estado e muda o rumo da sucessão paulistana

Depois do naufrágio do acordo com Quércia, a última coisa que o PT quer ver é um avanço de Kassab sobre os partidos que formam o chamado bloquinho de esquerda, entre eles o PDT e o PSB. Como Luiza Erundina não topa uma aliança com Marta, Serra teve um longo encontro com o presidente do PSB, Eduardo Campos, para tentar atrair o partido para Kassab. Foi mais um movimento para neutralizar o governador Aécio Neves, que apóia um candidato do PSB em Belo Horizonte. Não bastasse a conspiração paulista para fortalecer Serra, a Executiva Nacional do PT vetou a aliança com o PSDB nas eleições para a capital mineira. As negociações com o PT voltaram à estaca zero e o sonho da união de Minas em torno do candidato de Aécio foi adiado.