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Todo-poderoso no PSC, mas desconhecido dos eleitores, o vice-presidente do partido, Everaldo Pereira, ganhou notoriedade ao apadrinhar o polêmico Marco Feliciano na Comissão de Direitos Humanos da Câmara. Para confirmar seu poder, há duas semanas, Pereira conseguiu, com o apoio de pastores evangélicos, ser lançado candidato do PSC à Presidência da República nas eleições de 2014. Se a candidatura resistirá até lá, ninguém sabe. Mas, antes mesmo da campanha, ele já está enrolado e pode ser obrigado a prestar explicações à Justiça por utilizar a estrutura da liderança do PSC na Câmara para fins pessoais e partidários. Em situações semelhantes, o Tribunal de Contas da União recomenda que o dirigente de um partido empregue recursos do fundo partidário – o PSC recebe R$ 500 mil por ano – em vez de se valer de instalações e benesses da Câmara. Mas o pastor desdenha essa orientação. Usa a sala como se fosse ele o deputado que lidera o partido e se vale cotidianamente dos serviços de motoristas e assessores.

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MORDOMIAS
O vice-presidente do PSC Everaldo Pereira requisita assessor
da Câmara até para comprar roupas e pedir comida

Everaldo Pereira costuma desembarcar em Brasília na terça-feira de manhã e desde o primeiro minuto já tem um motorista, custeado pela Câmara, à sua disposição no aeroporto. Sob orientação de Pereira, funcionários que deveriam estar encarregados de matérias legislativas são mobilizados para elaborar textos e até imprimir panfletos de divulgação de atividades partidárias externas ao Congresso, como os do encontro do PSC Mulher. O evento é coordenado pela esposa de um assessor legislativo do PSC. O casal Adolfo Lúcio e Denise Assumpção recebe no total R$ 19 mil da Câmara, mas trabalha para Pereira na maior parte do tempo. Por R$ 10,4 mil mensais, a Câmara paga Adolfo Lúcio para ser uma espécie de faz-tudo de Pereira. Servidores contam que o funcionário é requisitado até para comprar roupas e providenciar alimentação para aplacar a fome do pastor. Outros funcionários do gabinete, com salários de R$ 8,6 mil, são escalados para emitir bilhetes aéreos.

O TCU condena o uso da estrutura do Congresso para quem não tem cargo eletivo

A ascendência de Pereira sobre o gabinete da liderança na Câmara constrange o líder de fato eleito pelos correligionários, deputado André Moura (PSC-SE). Quando Pereira convocou coletiva para anunciar a permanência de Feliciano à frente da comissão, Moura – bastante irritado – decidiu nem aparecer como sinal de sua contrariedade. A assessoria de Pereira, que também é a assessoria paga pela liderança a um custo de R$ 23 mil, foi procurada e respondeu que “as dependências físicas da Casa são utilizadas pela bancada de acordo com as normas administrativas previstas no Regimento Interno da Câmara”. Os órgãos de controle externo, porém, condenam comportamentos como o de Pereira. Em 2008, o TCU considerou irregular a utilização da estrutura do Congresso para atividades pessoais e partidárias, pois os partidos políticos são “entidades privadas”.