O prefeito de São Paulo, Celso Pitta, é um homem acossado. Cercado de denúncias de corrupção, nepotismo e omissão, atingiu índices de rejeição popular que, sem exageros, lhe dariam o título de pior prefeito de todos os tempos. Mergulhado na lama e isolado politicamente, Pitta está tendo dificuldades em interromper a contagem regressiva para que desocupe o Palácio das Indústrias. Na semana passada, o prefeito passou a ser alvo das principais acusações da CPI da propina, embora a comissão tenha sido instalada para apurar o envolvimento de um grupo de vereadores com o achaque praticado no submundo da administração municipal. A comerciante Amazília Leonardo, mulher de um fiscal da prefeitura, inaugurou a leva de citações diretas ao prefeito. Em depoimento na Câmara, Amazília contou que ajudava o marido na contabilidade da corrupção e que parte da propina arrecadada entre os camelôs da Sé, na região central, foi destinada à campanha de Pitta, em 1996. "Entre os envelopes com dinheiro havia um escrito ‘comitê Celso Pitta’", garantiu Amazília.

No dia seguinte, o nome do prefeito ganhou destaque no relatório do Ministério Público sobre o esquema de corrupção comandado em outra região da cidade pelo vereador Vicente Viscome, a quem Pitta teria concedido "plenos poderes", o que implica omissão diante de prática mafiosa. Atualmente atrás das grades, Viscome é aquele vereador que passou uma temporada foragido e acabou se entregando à polícia. Na quinta-feira 15, a primeira acusação documentada contra o prefeito entrou oficialmente na agenda da CPI. Trata-se de outro caso de omissão, desta feita na cobrança de uma dívida de R$ 200 milhões do Estado, no qual Pitta contrariou parecer da própria Procuradoria Geral do Município. O episódio já gerou um pedido de cassação do prefeito, mas também será investigado pela CPI. "Pode ser um caso de falta de fiscalização", diz o presidente da comissão, José Eduardo Cardozo (PT). "O pedido de impeachment é procedente porque a lei foi descumprida." No mesmo dia, o Ministério Público (MP) abriu dois inquéritos para apurar casos de omissão do prefeito.

A sequência de revelações comprometedoras contra Pitta continuou na sexta-feira 16, com Marcos Maldonado, um dos líderes dos ambulantes da avenida Paulista. "Sou testemunha de que o prefeito recebeu várias denúncias sobre a cobrança de propina e nunca tomou providências", acusa Maldonado. Apesar da gravidade da situação, a defesa de Pitta tem sido pífia. Quando adota a tática do contra-ataque, anuncia chumbo grosso e acaba caindo ainda mais no descrédito. Foi o que ocorreu com a "pasta verde", o dossiê que entregou ao MP e que deveria comprometer administrações anteriores. Na pasta só havia denúncias já investigadas pelo próprio órgão. "Nossos documentos deram uma volta e caíram aqui de novo", ironizou o procurador-geral de Justiça, Luiz Antônio Marrey. Nem quando anuncia medidas moralizadoras Pitta é competente. Depois que veio à tona o esquema de falcatruas e "cabide de emprego" em empresas vinculadas à prefeitura, que abrigam inclusive apadrinhados seus, Pitta resolveu tomar uma atitude. No domingo de Páscoa, demitiu a diretoria de uma dessas empresas, a Anhembi Turismo, mas deixou os diretores no posto até o dia 27. Não deu outra: na madrugada da quarta-feira 14, um caminhão abarrotado de documentos deixou a Anhembi com destino ignorado.

Cadáver político Equilibrando-se na prefeitura por um fio, sem partido e sem conselheiros políticos, Pitta passou agora a contar com a assessoria informal de Frederico Pinto Ferreira Coelho Neto, o Lilico, conhecido por sua polêmica atuação nos bastidores do governo do irmão, o atual deputado Luiz Antônio Fleury Filho (PTB-SP). Enquanto isso, as diversas frentes abertas para apurar as denúncias contra o prefeito, incluindo a imprensa, tentam apurar desde denúncias formalizadas até insistentes rumores, como o de remessas de recursos para o Exterior. Na Câmara, as articulações são para transformar Pitta no primeiro prefeito cassado da história da cidade, embora algumas alas do PT e do PSDB prefiram arrastá-lo como um cadáver político para faturar eleitoralmente. O presidente da Câmara, Armando Mellão (sem partido), que chegou a participar de um ato da Força Sindical em frente à Casa, também está se mexendo. Para esta semana Mellão tem outro compromisso, desta vez organizado pelo PT. Com direito a ato público, ele vai receber um pedido de impeachment assinado por uma comissão de notáveis e ancorado em um amplo leque de irregularidades.

Colaboraram: Gilberto Nascimento e Mário Simas Filho