Tudo começou em 1997 com a febre dos Tamagotchis, os bichos virtuais comprados aos milhões por colegiais japonesas. Em outubro de 1998, a moda dos mascotes eletrônicos se sofisticou. Foi lançado nos EUA Furby, um ser com cara de coruja e recheado de tecnologia. Ele mexe os olhos, vira as orelhas e abre o bico enquanto balança de um lado para o outro emitindo sons incompreensíveis numa voz infantil. Nas mãos de uma criança, Furby "aprende" inglês. A mágica se dá através de chips gravadores de som. Quando uma criança pronuncia uma entre as 200 palavras pré-gravadas em sua memória, Furby começa a repeti-la, dando a impressão de ter aprendido um novo termo. Por suas propriedades digitais, a ave de brinquedo tomou de assalto os corações das crianças americanas, encabeçando as listas de presentes de Natal. Resultado: os estoques se esgotaram no início de dezembro, criando um mercado negro que fez seu preço saltar de US$ 35 para US$ 200. Esse fenômeno não escapou aos olhos das indústrias de brinquedos e de informática. Quatro meses depois, elas começam a desovar uma legião de pequenos entes peludos e coloridos totalmente interativos. A Microsoft, por exemplo, resolveu capitalizar em cima dos personagens do programa infantil Teletubbies, sucesso da tevê inglesa que contagiou o mundo. A empresa de Bill Gates lançou versões interativas de La-la e Po, dois dos quatro Teletubbies. Cada um tem o seu próprio vocabulário, e quando apertado exibe na tevê em sua barriga diversas formas com cores e padrões variados, além de tocar 13 canções. O preço dos bonecos é US$ 59,95. Por outros US$ 54,95 adquire-se um pacote de fitas VHS com programas das séries e um radiotransmissor para plugar no videocassete. Feito isso, La-la ou Po podem interagir com as palavras ditas pelos personagens na tevê.

Enquanto isso, do outro lado do mundo, os criadores dos Tamagotchis não param de investir numa diversificada fauna eletrônica. No país do Sol Nascente, onde a proporção de idosos em relação ao resto da população é a maior do mundo, um importante público para as mascotes eletrônicas são os velhos, principalmente aqueles que vivem sozinhos. É esse o filão no qual a Matsushita Electric aposta. A empresa apresentou dois protótipos, o tigre Nako e o urso Kuma. Eles pronunciam 50 frases do tipo "Bom dia" ou "Esse é um lindo dia" logo de manhã. Seu vocabulário, no entanto, é bem mais vasto. Os totós podem ser conectados a um celular ou a um PC, permitindo que funcionários dos serviços de saúde ou assistentes sociais enviem informações médicas e mensagens a seus donos, como, por exemplo, "Hoje é quinta-feira, dia de ir ao médico". Microfones e sensores em sua cabeça permitem a Nako e Kuma "entender" perguntas dos proprietários através da tecnologia de reconhecimento de voz e assim poder respondê-las. A Matsushita quer lançá-los em 2001, por US$ 500 cada um. Antes disso, já estará disponível um bichano concorrente, o Tama, da Omron. Esse gatinho robô expressa seus sentimentos de várias formas. Ele abana a cauda quando acariciado. Se leva um tapa, fica bravo e surpreso ao ouvir um barulho.

De todo esse zoológico robô, nenhum ikebana interativo é mais impressionante que o peixe mostrado pelo laboratório da Mitsubishi no domingo 4, em Hiroshima. Sua pele é de silicone e seus olhos são câmeras de vídeo. Segundo a empresa, ele pesa 2,6 quilos, mede 60 centímetros e pode nadar até 30 minutos à velocidade de meio nó, sendo que sua bateria pode ser recarregada dentro d’água. Se a evolução da vida eletrônica continuar nesse passo, o velho chinês fabricante de serpentes replicantes de Blade Runner vai não só existir como investir seu conhecimento no mercado mais lucrativo das carpas coloridas. Cada uma delas, viva, pode custar até R$ 60 mil. Quanto não se pagaria por uma carpa robô?