Enquanto a Otan despeja suas bombas sobre a Iugoslávia, a indústria bélica mundial se movimenta. Calcula-se que, só no ano passado, o faturamento foi da ordem de US$ 100 bilhões. No Rio de Janeiro, nos próximos dias 13 a 16, será realizada a maior feira de armamentos da América Latina, a Latin America Defentech 99, que tem o apoio do governo brasileiro. As gigantes do mercado internacional participam da feira, entre elas a Boeing/ Mac Donnald Douglas, Lockheed, Raytheon (americanas), Dassault e Aerospatiale (francesas), Rolls Royce (britânica), Erickson e Saab (suecas). A avaliação de alguns executivos é de que possam ser fechados negócios em um total de US$ 5 bilhões. A escolha do Rio para o evento se deve ao fato de o Brasil ser o maior mercado do continente e também para facilitar o acesso de compradores de outros países do Terceiro Mundo. Deverão estar presentes ministros da Defesa de Bolívia, Equador, Moçambique, Namíbia, Suriname, Uruguai, além de representantes da Arábia Saudita e do Paraguai.

Entre as atrações da LAD 99 está o avião de ataque F-16, muito usado em conflitos internacionais, inclusive na guerra do Golfo. Cada unidade custa pelo menos US$ 25 milhões e o fabricante, a Lockheed/Martin, costuma vender no mínimo um esquadrão (12 aeronaves). No Brasil, há quem discorde de sua eficácia. O brigadeiro Eden Asvolinsque, consultor aeronáutico com passagem pela Junta Interamericana de Defesa, em Washington, afirma que "o F-16 já é considerado sucata do Primeiro Mundo". Ainda assim, acha que, "para o Brasil, que nos últimos dez anos teve praticamente extinta a sua Força Aérea, o F-16 faria os pilotos vibrarem".

Segundo Asvolinsque, a FAB chegou a negociar a compra dos F-16 em 1993, mas como a aeronave estava na lista das prioridades dos Estados Unidos, os americanos não autorizaram sua venda. "Agora eles fazem concessões, em nome dos prejuízos sofridos por sua indústria com o fim da guerra fria", diz. Assim, na avaliação do oficial, a venda de armas como o F-16 e F-18 para o Terceiro Mundo interessa aos Estados Unidos para que a sua indústria tenha condições de atender às novas encomendas de suas Forças Armadas.

Nos próximos dois anos a Aeronáutica terá de definir os critérios para a substituição dos aviões Bufalo, Hércules, Xavante, Mirage e F-5. A prioridade é, entretanto, para projetos que não contribuam para elevar a dependência externa na área de material. O diretor de Pesquisas e Desenvolvimento, brigadeiro José Marconi dos Santos, é enfático: "O F-16 é o avião que menos interessa à FAB." Para dar um exemplo de avião que corresponde às necessidades brasileiras, Marconi cita o ALX, de treinamento e que poderá ser usado também para defesa. Até julho a Embraer vai entregar à Aeronáutica seu primeiro protótipo. Ele terá condições de operar em pistas da Amazônia, sem a sofisticação daquelas existentes em outras regiões do País e seu consumo de combustível não será tão elevado quanto o de alguns aviões projetados para ações do Primeiro Mundo, voltadas para a supremacia e domínio aéreo.