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Messi e Neymar vão jogar juntos no Barcelona a partir de agosto. É muito provável que façam jogadas espetaculares, que irão contribuir para que o Barça volte a ter o melhor time da Europa, título que perdeu em 2012 para o Chelsea e em 2013 para o Bayern de Munique. Por mais que façam com a camisa do Barça em estádios europeus, entretanto, Messi e Neymar precisam mostrar, nos novos estádios brasileiros, que são realmente mitos do esporte bretão. Se não jogarem o que sabem com as camisas da Argentina e do Brasil, na Copa do Mundo de 2014, suas biografias sempre terão a lembrança de que nunca ganharam uma Copa do Mundo. Muito menos que podem ser comparados a Maradona e Pelé, para citar um deus argentino e um rei brasileiro. 

Muitos críticos defendem a tese de que um jogador não precisa ser campeão da Copa do Mundo para ser considerado um gênio. Citam vários nomes que não conseguiram a proeza e comungam da frase de Armando Nogueira: “Se não ganharam a Copa, azar da Copa”. Ainda mais que, de uns anos para cá, a paixão pelos times cresceu tanto que as seleções nacionais perderam importância. O futebol se internacionalizou demais e não é na Copa do Mundo que o público conhece a fundo os craques de outros países –- pelo contrário, a exposição na televisão é tão grande que ninguém mais surpreende ninguém. Para os principais países europeus, o fato é que os craques de todas as partes do mundo estão no dia-a-dia dos clubes e podem ser analisados nos campeonatos nacionais e nos torneios continentais. Para os sul-americanos, a situação é pior, pois os craques nunca ficam em seus países de origem –- pode até demorar um pouco, como Neymar, mas acabam saindo. O reflexo disso é que as seleções da Argentina, Brasil e Uruguai –- que ganharam nove Copas do Mundo e quatro Olimpíadas –- se distanciaram dos torcedores.

Mas convém ir devagar com o andor quando se trata de analisar Messi e Neymar na Seleção Argentina e na Seleção Brasileira. Messi pode dizer que foi campeão olímpico com a Argentina, em 2008 (Pequim). Neymar, nem isso. Mas na real tanto um quanto o outro ainda devem uma exibição de gala em um torneio top de linha com a seleção de seus países. Afinal, a lista daqueles jogadores que, por azar da Copa, não ganharam a Copa do Mundo, não é tão grande assim. Podemos destacar nove craques, se muito: Puskas (Hungria), Fontaine (França), Platini (França), Di Stéfano (Argentina e Espanha), Zico (Brasil), Sócrates (Brasil), Falcão (Brasil), Cruyff (Holanda) e Eusébio (Portugal). Quem sabe ainda caberiam um Van Basten (Holanda) e um Kocsis (Hungria), mas nada além disso.

Um olhar na carreira desses nove craques que a Copa do Mundo não soube honrar mostrará que todos, sem exceção, brilharam com a camisa de sua seleção nacional. Puskas, além de ter ganhado o ouro olímpico em 1952 (Helsinque), marcou 84 gols em 85 jogos pela Hungria. Na Copa de 1954, mesmo machucado, fez o primeiro gol da final contra a Alemanha. Seu time sofreu a virada faltando três minutos para o fim do jogo e Puskas ainda encontrou forças para empatar a partida, mas seu gol foi anulado. Em sua carreira, Ferenc Puskas marcou 324 gols em 372 jogos.

Na Copa seguinte, em 1958, o francês Just Fontaine fez nada menos de 13 gols. Foi, disparado, o maior artilheiro de uma única Copa do Mundo e teve a má sorte de seu time atuar todo o segundo tempo com apenas 10 jogadores, na semifinal Brasil 5-2 França, pois Robert Jonquet se machucou, quando estava 1-1, e naquela época eram proibidas as substituições. Just Fontaine teve uma carreira curta (marcou 165 gols em 200 jogos, sendo 30 gols em 21 jogos pela seleção) porque, aos 27 anos, sofreu uma fratura na perna e teve de pendurar as chuteiras.

Em 1962, quando poderia compensar o fato de a sua Argentina não ter tido Copa para disputar em 1946 (um ano depois da Segunda Guerra Mundial), Alfredo Di Stéfano era um jogador consagrado. Tinha sido campeão sul-americano de 1947 pela Argentina, tinha feito 267 gols em 294 jogos pelo Millonarios da Colômbia, e tinha conseguido, entre outros títulos, um pentacampeonato europeu em 1956/57/58/59/60 pelo Real Madrid, time pelo qual marcou 418 gols em 510 jogos. Di Stéfano foi ao Chile naturalizado espanhol, mas estava contundido e não jogou em sua única Copa.

Em 1966, quem merecia a Copa e não a levou foi Eusébio, o maior craque português de todos os tempos. Fez nove gols nos campos da Inglaterra, mas ficou apenas com o terceiro lugar, não sem antes ganhar dois títulos europeus pelo Benfica, de Portugal. De todos os azares da Copa, nenhum foi tão marcante como a derrota da Holanda para a Alemanha, em 1974. Johan Cruyff, o craque que liderou o Carrossel Holandês, sofreu pênalti no primeiro minuto da partida, mas os donos da casa viraram e o campeão foi Beckenbauer. Cruyff marcou apenas 33 gols em 48 jogos pela Seleção Holandesa, mas seu legado ficou para sempre –- no Ajax tricampeão europeu de 1971/72/73, nos títulos que ganhou no Barcelona de 1973 a 1978 e, principalmente, por ter conseguido implantar no próprio Barça, mais tarde, como técnico, o futebol bonito que é jogado até hoje. Cruyff poderia ter disputado e talvez ganhado a Copa de 1978, na Argentina, quando a Holanda chutou uma bola na trave aos 45 minutos do segundo tempo na final, que estava 1-1, mas não foi àquela Copa em protesto contra a ditadura militar argentina.

A Copa de 1982, na Espanha, era para ser de Zico, Sócrates e Falcão, o motor do time que encantou o mundo, mas foi destruído por Paolo Rossi. Assim como a Copa de 1986 era para ser de Platini, que talvez tenha sido melhor do que Zidane, mas não conseguiu levar a França ao título mundial –- ele que foi campeão europeu de 1984 e ganhou três Bolas de Ouro (1983/84/85) jogando pela Juventus, da Itália. Depois dele, tivemos ainda a derrota de Roberto Baggio com a Seleção Italiana, em 1994. Assim como Zico e Sócrates em 1986, Baggio, de carreira monumental pela Azurra e pela Juventus, errou um pênalti decisivo na Copa do Mundo, e o campeão foi Romário. Baggio já tinha perdido a semifinal de 1990, dentro de casa, para a Argentina de Maradona.

Como se vê, mesmo aqueles jogadores que, por azar da Copa, não ganharam o Mundial da Fifa, brilharam pela Seleção de seus países. Por isso, o mundo inteiro estará de olho em Messi e Neymar na Copa de 2014, queiram ou não seus fãs.