A história da medicina ensina que muitas vezes a solução para grandes problemas está na simplicidade. Um novo equipamento desenvolvido para acabar com o sangramento contínuo do endométrio (camada que reveste o interior do útero) é uma prova do sucesso dessa estratégia. Trata-se do ThermaChoice, capaz de substituir com vantagens a histerectomia total (cirurgia para retirada do útero), o tratamento mais utilizado para acabar com o problema. Mas enquanto a operação exige três dias de internação e mais 30 de recuperação, além dos riscos de infecção, a técnica permite que a mulher permaneça apenas um dia em repouso.

O sangramento anormal do endométrio pode ser causado por um desequilíbrio nas quantidades de estrógeno e progesterona – hormônios femininos –, complicação decorrente do envelhecimento do sistema reprodutor da mulher. O que os médicos conseguem fazer com a ajuda do aparelho é simples. O procedimento, feito com anestesia local ou peridural, consiste na introdução de um balão flexível, acoplado a um cateter, dentro do útero. O balão é inflado com soro e se expande até se moldar ao formato do órgão. O líquido é aquecido e mantido dentro do útero por oito minutos. Esse tempo é suficiente para destruir o endométrio, acabando com a fonte dos sangramentos.

O ThermaChoice está sendo usado no Brasil há três meses. Os médicos se mostram satisfeitos com os resultados. “O procedimento não deixa na mulher a sensação de ter sido mutilada, como pode ocorrer quando a paciente tem seu útero retirado”, acredita Luiz Soares, do Hospital São Rafael, em São Paulo, um dos lugares que aplicam a nova técnica. O médico José Aristodemo Pinotti, professor da Universidade de São Paulo, também está testando o equipamento. “Em alguns meses teremos resultados preliminares. Mas o método é cômodo e pouco agressivo”, afirma. Quem experimentou a técnica está feliz. É o caso da promotora de vendas Ieda de Oliveira, 47 anos. Depois de menstruar por 63 dias seguidos, ela se submeteu ao procedimento. “Estou ótima. Não podia passar por uma cirurgia maior porque tive problemas de choque anafilático com a anestesia. Com o ‘balão’, só fiquei oito minutos anestesiada”, conta.

O método é parecido com outro que vem sendo usado no Brasil há cerca de quatro anos chamado ablação hidrotérmica. A diferença é que, agora, o líquido é injetado diretamente no útero. A experiência com a técnica vem sendo realizada na Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e é coordenada pelos médicos Gerson Botacini das Dôres e Sérgio Nicolau. Até agora, cerca de 50 mulheres submeteram-se ao procedimento. “Os resultados são muito bons”, assegura Nicolau. A recuperação da empregada doméstica Antônia Silva, 42 anos, é um exemplo da eficácia do método. Ela se valeu da técnica há um ano e meio e não teve mais sangramentos. “Em dois dias voltei ao meu trabalho, fazendo meu serviço sem sentir nada”, conta. Uma ressalva: ela não é indicada para sangramentos provocados por câncer. Também só pode ser aplicada em mulheres que já tiveram filhos ou que não querem ter, já que é no endométrio que o embrião se fixa.


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