No esforço para reduzir o número de doentes, melhorar a qualidade de vida e aumentar a longevidade humana, a medicina preventiva tem voltado sua atenção para descobrir métodos capazes de avaliar com precisão o risco individual para o desenvolvimento desta ou daquela enfermidade. O consenso é de que quanto mais personalizada a avaliação, melhores são os resultados para cada pessoa e para a coletividade.

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A consequência mais visível dessa nova mentalidade é a popularização dos check-ups personalizados. Eles são a antítese do velho modelo pelo qual o interessado se submete a exames indicados em uma lista pronta, fornecida a todos de forma indiscriminada. Sua versão pressupõe, antes de tudo, uma boa conversa com o paciente, durante a qual seus riscos são levantados tomando-se em conta fatores como estilo de vida, história familiar de doenças, personalidade e até estrutura emocional. A análise é importante para que os testes sejam recomendados de acordo com sua necessidade e para que as orientações posteriores de fato acabem acatadas. “Não adianta falar a um executivo que ele terá de separar um tempo, do qual ele não dispõe, para se exercitar”, diz Danielle Syllos Dezen, do Centro de Acompanhamento de Saúde e Check-up do Hospital Sírio-Libanês, de São Paulo. “Nesse caso, o segredo é exigir pouco”, recomenda.

Nos Estados Unidos, o check-up da Clínica Mayo – uma das mais renomadas do mundo – inclui a verificação da imunização e, se o paciente citar uma viagem internacional em breve, o médico checará se alguma vacina será necessária. Estão incluídas ainda correções estéticas com avaliações de um cirurgião plástico e de um dermatologista.

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FUTURO
O médico Cutait observa mais pessoas preocupadas com a prevenção

Apesar de específicos, os principais alvos desses programas são as doenças que mais preocupam o mundo, como as cardiovasculares e o câncer. “Os tumores mais comuns, como os de mama e de próstata, têm prognóstico excelente se detectados precocemente”, diz o médico Raul Cutait, um dos mais respeitados cirurgiões oncológicos do País. “Felizmente, vejo mais pessoas preocupadas com a prevenção.” O check-up personalizado também está na ordem do dia nos consultórios. “Gosto de dizer que o bom médico é um ‘riscologista’”, diz o endocrinologista Alfredo Halpern, um dos palestrantes do Fórum de Saúde e Bem-estar, realizado recentemente em São Paulo pelo Grupo Doria e que teve como foco a medicina preventiva. “Ele prevê hábitos que podem comprometer a qualidade de vida.”

Ajudar o paciente a conhecer seus indicadores de saúde – como pressão arterial – é outra nova ferramenta da medicina preventiva destinada a uma atenção individualizada. Um sistema interessante criado na Virginia Commonwealth University (Eua) permite ao indivíduo acessar os dados e descobrir o que é mais indicado ao seu caso – o programa envia mensagens com orientações criadas para ele. Uma das pesquisas feitas sobre sua eficácia mostrou que aqueles com acesso ao sistema procuraram com maior frequência os serviços de diagnóstico precoce de tumores colorretal, de mama e cervical.

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Na Espanha, o foco é a criação de um dos primeiros exames da chamada medicina preventiva molecular (objetiva identificar os riscos moleculares de cada pessoa de vir a ter uma doença). Cientistas do Centro Espanhol de Pesquisa em Câncer descobriram que o perfil metabólico do corpo aponta o nível de envelhecimento celular e o estado geral da saúde. Em estudos em animais, foram detectadas 48 substâncias associadas ao metabolismo e relacionadas a doenças típicas do envelhecimento. Os pesquisadores agora trabalham em um teste de sangue pelo qual seria possível avaliar a concentração desses compostos, o que forneceria uma indicação precisa de como vai a saúde de cada um.

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