Com a morte do empresário Calim Eid, num acidente de carro na rodovia Ayrton Senna, no sábado 16, o ex-prefeito Paulo Maluf (PPB) perdeu muito mais que um amigo. Fiel e discreto como convém a um tesoureiro de campanha, Calim era o depositário dos mais íntimos segredos de 30 anos de malufismo. Era ele quem mobilizava empresá-rios em busca dos recursos fartos que financiam as incontáveis campanhas do amigo Paulo. Com o talento de tesoureiro aliado à inegável habilidade política, era o único que conseguia apaziguar as hostes malufistas quando a discórdia imperava. Leal ao político, distribuía as benesses e jamais se negava a arcar com o ônus das operações desastrosas.

Na disputa presidencial indireta, em 1984, sobrou para Calim a acusação de tentar subornar o deputado Mário Juruna (PDT) para trocar Tancredo Neves por Maluf. No último mês de março, Calim envolveu-se até em um escândalo sexual. Em depoimento ao Ministério Público, o ex-funcionário municipal Sílvio Rocha de Oliveira afirmou ter recebido dinheiro do empresário para não revelar que Maluf tem uma filha fora do casamento. No caso, a própria neta de Sílvio, hoje com oito anos. O escândalo mais constrangedor para Calim, porém, foi o chamado esquema Paubrasil, a captação ilegal do equivalente a US$ 19 milhões para as campanhas malufistas de 1990 e 1992.

No caso Paubrasil, Calim teve de passar mais de oito horas prestando depoimento na sede da Polícia Federal em São Paulo. “Demorei tanto porque o delegado me fez copiar três vezes a carta-testamento de Getúlio Vargas”, disse Calim na saída. Este era, de fato, o texto preferido do delegado Eldo Saraiva Garcia para o exame grafotécnico. Mas a demora se justificou pelo envolvimento do empresário no caso. Com base na investigação policial, o Ministério Público considerou Calim como o “mentor intelectual” do esquema e o denunciou por formação de quadrilha, falsidade ideológica e sonegação fiscal.

Nas últimas semanas, Calim estava empenhado em reaproximar Maluf do prefeito Celso Pitta (PTN), o economista que ele próprio ajudou a lançar na política em 1996. E foi justamente Maluf o seu último interlocutor. Na manhã do sábado 16, Calim deixou seu sítio em Santo Antônio do Pinhal, no interior paulista, e passou três horas com Maluf na cidade vizinha de Campos do Jordão. Preferiu não almoçar, pois não gostava de dirigir após as refeições. Na volta para São Paulo, morreu em um acidente, aos 76 anos, após perder o controle de sua perua Citroën. “Foi um grande choque”, lamentou Maluf. “Ele era um paradigma da honestidade.”