Conheça, em vídeo, as roupas inspiradas no rock´n roll que a grife levou a Paris neste ano:

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A maison criada pelo estilista Yves Saint Laurent (1936-2008) em 1961, que durante quatro décadas foi sinônimo de elegância e bom gosto, não é mais a mesma. Desde que o designer e fotógrafo francês Hedi Slimane assumiu a direção criativa da marca, em março de 2012, a grife imortalizada pela concepção do smoking feminino adotou uma estética rock’n’roll em suas coleções, passou a fazer figurinos para astros da música, trocou o nome para Saint Laurent Paris e até mudou de endereço – a sede do ateliê deixou a capital francesa e foi parar em Los Angeles, nos Estados Unidos. Toda essa revolução é uma tentativa de reeditar o sucesso da grife, abalado desde a morte de seu fundador. “A ideia é trazer a marca para a sua verdade, pureza e essência, levando-a para uma nova era e respeitando seus ideias e princípios”, disse Slimane, que, nos últimos meses, vestiu os roqueiros Courtney Love, Marilyn Manson, a banda francesa Daft Punk e o guitarrista dos Rolling Stones Keith Richards – este anunciado neste mês.

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DOIS TEMPOS
Acima, o estilista Yves Saint Laurent prepara a primeira coleção com o seu nome,
entre 1961 e 1962, quando a marca era sinônimo de sofisticação.
Abaixo, o designer Hedi Slimane, responsável pela atual revolução na grife

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Apesar de o novo diretor criativo afirmar que está respeitando a essência de Saint Laurent, a clientela tradicional da marca torceu o nariz ao ver, nas passarelas, modelos com cabelos desgrenhados e predomínio do couro preto, coturno, sobreposições e xadrez. E quase infartou quando o roqueiro Marilyn Manson, fotografado pelo próprio Slimane, se transformou em garoto-propaganda da grife e estampou seus outdoors. A crítica especializada, por sua vez, está dividida. Muitos acreditam que o trabalho do estilista beira a genialidade, enquanto outros apontam para o declínio da maison. Por conta desse último grupo, Slimane proibiu a imprensa de entrar em alguns dos seus desfiles e tem se negado a dar entrevistas. Unânime, no entanto, é o barulho que o designer tem provocado no mundo fashion e a constatação de que se fazia necessária uma mudança na marca. Mesmo com a chegada de Tom Ford, e depois com o italiano Stefano Pilati dando continuidade ao legado de Yves Saint Laurent, o prestígio da grife não era o mesmo. “Essa renovação da imagem é um trabalho de marketing, é uma estratégia comercial que visa ganhar um público novo e dialogar com os mais jovens, hoje os grandes consumidores de moda”, explica João Braga, professor de história da moda da Fundação Armando Álvares Penteado (Faap) e autor de “Um Século de Moda” (Ed. D’Livros). “Slimane está adotando um estilo que destoa da grife, mas a sua postura transgressora em muito se assemelha à de Yves Saint Laurent.”

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MUDANÇA
Astros do rock, como a cantora Courtney Love, são os rostos
escolhidos para a campanha de inverno 2014 da marca.
Nas passarelas, essa influência é retratata nas peças
de couro, xadrez e preto, além dos coturnos

Os dois têm mesmo muito em comum. Nascido na Argélia e radicado na França, Saint Laurent foi o primeiro a popularizar o prêt-à-porter e a colocar modelos negras em seus desfiles. “Se Chanel deu liberdade às mulheres, Saint Laurent lhes deu poder”, declarou por vezes Pierre Bergé, ex-sócio e companheiro do designer. Já o francês Hedi Slimane, 44 anos, causou furor com suas criações para a linha masculina da Dior, onde trabalhou de 2000 a 2007. Ao lançar o terno slim fit, ele trouxe de volta o espírito da alfaiataria mais justa. Desde que assumiu a YSL, Slimane nunca escondeu sua intenção de rejuvenescer a imagem da maison ao unir, nas criações, suas três paixões: moda, música e fotografia. “É muito complicado recriar o trabalho de um gênio. Para deixar sua marca na Yves Saint Laurent, é preciso talento, convicção e rigor, além de ser exigente e ter um ótimo senso de cores”, disse Pierre Bergé, que, alheio às críticas dos tradicionalistas, aprova o novo estilista. “Eu adorei, ele fez exatamente o que precisava ser feito.”

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Fotos: BILLY FARRELL/PatrickMcMullan.com; Pascal Le Segretain/Getty Images; Ze Takahashi