O empresário brasileiro Daniel Mendez, fundador da empresa de alimentação industrial Gran Sapore, começou o seu negócio vendendo o próprio carro, um Gol GT cor vinho, avaliado hoje em R$ 14 mil. Isso há 15 anos. Atualmente, aos 44 anos, Mendez tem em caixa US$ 7 milhões para investir. Acaba de comprar uma empresa mexicana e sua meta é avançar pela América Latina. O perfil empresarial de Mendez está representado nos dados da mais recente pesquisa da Merril Lynch, o 11th World Wealth Report. O estudo sobre a riqueza mundial identificou um boom no crescimento econômico em 2006, cenário que ocorreu pela última vez em 2003. No ano passado, o número de milionários cresceu 10% no Brasil, que registra hoje 120 mil pessoas com mais de US$ 1 milhão líquidos para investir. No mundo, eles são 9,5 milhões.

Mendez ingressou nesse clube em um momento muito propício. “O aumento do consumo no mercado interno brasileiro em um cenário de inflação baixa impulsionou investimentos e levou a um crescimento expressivo de alguns setores”, diz o diretor de vendas e marketing para a América Latina da Merril Lynch, Lionel Baugh. Para Ricardo Rocha, professor de Mercados Financeiros do Ibmec São Paulo, as áreas de tecnologia e alimentação são um bom exemplo. “O crescimento econômico fez surgirem oportunidades de empreendimentos e novos empreendedores”, constata.

O perfil desses novatos também foi delineado na pesquisa, que traçou os hábitos de consumo desses milionários do século XXI. “Os investidores latinos estão mais sofisticados e maduros”, atesta Lionel Baugh. A sofisticação está até na prioridade dos gastos pessoais. Automóveis, obras de arte, jóias e viagens estão no topo das preferências de quem tem dinheiro de sobra para investir em estilo de vida.

No comando de 800 restaurantes no País, Daniel Mendez orgulha-se de uma clientela que inclui a Motorola, a Fiat e o Projac, mas é um homem de hábitos discretos. Não ostenta a fortuna e prefere passar os finais de semana com a família em sua fazenda em Vinhedo, no interior de São Paulo. Seu único luxo é a alta gastronomia. “Sou especialista em paella”, diz ele, e aí revela uma iguaria da qual não abre mão: o açafrão espanhol. “Mas é muito caro. Tem de usar pouquinho. Até ouro em pó é mais barato que o açafrão”, compara Mendez, que, na contramão do comportamento ostensivo atribuído aos novosricos, revela uma faceta menos deslumbrada e mais empreendedora dos novíssimos milionários brasileiros.