A União dos Movimentos de Moradia (UMM) acaba de dar um passo decisivo em sua meta de conquistar um peso político similar ao do Movimento dos Trabalhadores Sem-Terra, o MST. Ao invadir a obra abandonada do Fórum da Justiça do Trabalho em São Paulo, a UMM adotou mais do que uma ousada estratégia de marketing. Atingiu, em cheio, um símbolo da corrupção no Judiciário, personalizada pelo juiz Nicolau dos Santos Netto, aquele que coleciona imóveis, carros de luxo e contas bancárias no Exterior. Iniciada em 1992, a construção das duas torres, com 20 andares cada uma, já consumiu R$ 263 milhões dos cofres públicos, sendo que R$ 169 milhões foram desviados para fins escusos. Pelas investigações da CPI do Judiciário e do Ministério Público, o principal beneficiário da roubalheira é o juiz Nicolau, ex-presidente do Tribunal Regional do Trabalho (TRT-SP) e responsável pela obra até outubro do ano passado.

“Com o dinheiro roubado dava para construir 20 mil moradias populares”, contabiliza o líder da invasão, Sebastião de Oliveira Júnior. Numa ação que durou apenas 40 minutos, na madrugada da segunda-feira 25, Júnior estava à frente de um grupo de 600 pessoas que invadiu os prédios. Simultaneamente, outros cinco imóveis da cidade foram ocupados pela UMM, que mobilizou, no total, 6.100 pessoas. No caso das torres da Justiça do Trabalho, a invasão deveria ser simbólica, de curta duração. No dia seguinte, porém, os militantes da UMM decidiram permanecer na obra, para forçar as negociações com o governo do Estado, às voltas com as violentas rebeliões na Febem.

A construção abandonada, no entanto, pertence à União. “Temo pela segurança das pessoas que estão lá, pois, além do risco de acidentes, os prédios não têm nenhuma condição sanitária”, afirma o atual presidente do TRT, Floriano Vaz da Silva. Mãe de quatro filhos e grávida de nove meses, a dona de casa Silvania Tessitore de Castro argumenta que os riscos de morar na rua são maiores. “Cansei de esperar pelos programas habitacionais do governo”, diz. Desde que o marido ficou desempregado, há um ano e três meses, ela parou de pagar o aluguel do quarto-e-sala em que vivem. Na quarta-feira 27, junto com os outros invasores, Silvania rebatizou os prédios invadidos. Agora, eles integram o Condomínio Nicolau, lau, lau.