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A crônica esportiva gosta de dizer que o Brasileirão é “o campeonato mais difícil do mundo”. Faz sentido. Afinal, em 54 anos, o título foi ganho por 17 clubes diferentes. Uma situação impensável nos campeonatos da Inglaterra, Alemanha, Espanha, Itália e até da Argentina. Por causa dessas estatísticas, convencionou-se dizer que o Campeonato Brasileiro começa sempre com pelo menos 12 times em condições de ser campeão — os chamados 12 grandes, formados por quatro cariocas (Flamengo, Vasco da Gama, Fluminense e Botafogo), quatro paulistas (Santos, Palmeiras, São Paulo e Corinthians), dois gaúchos (Internacional e Grêmio) e dois mineiros (Cruzeiro e Atlético). A eles se juntam forças do Paraná (Coritiba e Atlético), do Nordeste (Bahia e Sport) ou do interior paulista (Guarani) que, de vez em quando, levantam o Brasileirão. Ou seja: num certame com 20 participantes, quase todos são candidatos ao título.

Mas será que é assim mesmo ou os números escondem outra realidade? Para obter uma resposta, vale a pena mergulhar nas estatísticas históricas do campeonato nacional de futebol. Para começo de conversa, os 12 grandes não são exatamente 12, mas apenas sete, que levantaram nada menos de 41 títulos dos 57 distribuídos em 56 campeonatos durante 54 anos*: Santos, Palmeiras, Flamengo, São Paulo, Corinthians, Vasco da Gama e Fluminense. São apenas esses os verdadeiros papões de títulos brasileiros. Com boa vontade poderíamos incluir o Internacional, que ganhou três dos 56 campeonatos realizados (5,4%). Na verdade, o correto seria considerar a dupla Gre-Nal como uma única força, já que, além dos três títulos do Inter, o Rio Grande do Sul teve também dois do Grêmio, somando cinco, o que dá quase 9% das disputas.

Entretanto, os três títulos somados de Cruzeiro (1966 e 2003) e Atlético Mineiro (1971) têm praticamente o mesmo peso dos três títulos do Nordeste (Bahia 1959 e 1988, Sport em 1987) e dos dois títulos do Paraná (Coritiba 1985 e Atlético Paranaense 2001). Minas Gerais é uma grande força em termos de Campeonato Brasileiro? Não. Da mesma forma, com apenas dois títulos (1968 e 1995), o Botafogo não pode ser considerado favorito só porque é do Rio de Janeiro (16 títulos). Como campeão carioca de 2013, o Botafogo poderia naturalmente se credenciar ao título, assim como o Corinthians, o Atlético Mineiro e o Internacional, campeões paulista, mineiro e gaúcho, respectivamente, mas os campeonatos estaduais — que nos anos 60 classificavam para a disputa da Taça Brasil — não são mais parâmetro técnico para apontar os favoritos.

O Campeonato Brasileiro é muito longo e, desde que passou a ser disputado em sistema de pontos corridos (2003), costuma premiar os times com melhor elenco para reposição de jogadores afastados por contusões ou cartões, bem como a regularidade. Para exemplificar como é falsa a ideia de que “todos” são favoritos, basta dizer que, nos últimos oito anos, somente quatro times foram campeões: São Paulo, Corinthians, Fluminense e Flamengo. Os quatro, aliás, fazem parte do “Clube dos 7”, que levantou 41 títulos. Os demais são o Vasco da Gama, o Santos e o Palmeiras, que não poderá levantar seu 9º título porque está na Série B. Quanto aos demais, Flamengo e Vasco estão em má fase — o time cruzmaltino, inclusive, foi campeão pela última vez há longos 13 anos. O Santos não ganha desde 2004 e suas maiores glórias foram no tempo de Pelé.

Com São Paulo, Corinthians e Fluminense fortes, presentes no Clube dos 7 e donos de sete dos últimos oito títulos, resta pinçar mais um ou dois clubes, no máximo, para formar a lista dos favoritos ao título nacional. Mas quem? Um mineiro? O Atlético está em ótima fase, mas carrega um jejum de 41 anos. Um gaúcho? O Grêmio foi mal no Estadual, tropeçou na Libertadores e ganhou seu último título há 16 anos. O Inter? Talvez, mas vem de um jejum de 34 anos. Evidentemente, as estatísticas não ganham jogo, mas é uma divertida forma de ver quem, ao longo dos anos, vem fazendo jus à fama de favorito e quem está jogando apenas com o nome.

Taça Brasil
1959 Bahia, 1960 Palmeiras, 1961 Santso, 1962 Santos, 1963 Santos, 1964 Santos, 1965 Santos, 1966 Cruzeiro, 1967 Palmeiras, 1968 Botafogo.

Torneio Roberto Gomes Pedrosa
1967 Palmeiras, 1968 Santos, 1969 Palmeiras, 1970 Fluminense.

Campeonato Brasileiro com mata-mata
1971 Atlético Mineiro, 1972 Palmeiras, 1973 Palmeiras, 1974 Vasco da Gama, 1975 Internacional, 1976 Internacional, 1977 São Paulo, 1978 Guarani, 1979 Internacional, 1980 Flamengo, 1981 Grêmio, 1982 Flamengo 1983 Flamengo 1984 Fluminense, 1985 Coritiba, 1986 São Paulo, 1987 Flamengo e Sport, 1988 Bahia, 1989 Vasco da Gama, 1990 Corinthians, 1991 São Paulo, 1992 Flamengo, 1993 Palmeiras, 1994 Palmeiras 1995 Botafogo, 1996 Grêmio, 1997 Vasco da Gama, 1998 Corinthians, 1999 Corinthians, 2000 Vasco da Gama, 2001 Atlético Paranaense, 2002 Santos.

Campeonato Brasileiro com pontos corridos
2003 Cruzeiro, 2004 Santos, 2005 Corinthians, 2006 São Paulo, 2007 São Paulo, 2008 São Paulo, 2009 Flamengo, 2010 Fluminense, 2011 Corinthians, 2012 Fluminense.

*Em 1967 e 1968 foram disputados a Taça Brasil e o Torneio Robertão. Na unificação dos títulos nacionais, a CBF não fez distinção entre os dois campeonatos. Em 1987, o Flamengo (campeão da série A) não quis disputar uma final com o Sport (campeão da série B) e a CBF deu o título ao time pernambucano, mas em 2011 também reconheceu o Flamengo como campeão brasileiro daquele ano.