Preferido por estrelas e socialites, o cirurgião carioca Paulo Müller conta que, com o silicone, os brasileiros passaram a valorizar peitos grandes

O ano começou com muito silicone. No Carnaval, por exemplo, tantas moças exibiram seus seios recauchutados na avenida Marquês de Sapucaí, no Rio, que logo apelidaram o sambódromo de Silicon Valley, numa referência ao Vale do Silício na Califórnia. Não se trata de um fenômeno isolado do Carnaval carioca. Aumentar os seios virou moda devido a uma conjuntura de fatores, que inclui uma forte influência americana – peito grande passou a fazer parte da cultura nacional – e a própria evolução das próteses. Quem conhece bem esse processo é o cirurgião plástico carioca Paulo Müller, 41 anos, o preferido de nove entre dez estrelas da sociedade brasileira. Está sempre nas colunas sociais, cercado por seus amigos badalados. "Sou festeiro", admite.

Um de seus mais bem-sucedidos trabalhos brilhou na avenida, por sinal, como madrinha da bateria da Viradouro: Luma de Oliveira, que recuperou o tamanho do seio anterior à amamentação. "Ela gosta de samba, de Carnaval e é linda", desconversa o médico, discreto. Outra cliente que só fez aumentar sua fama, mas trouxe muito aborrecimento, foi a atriz Vera Fischer, que tirou as bolsas ao redor dos olhos no ano passado. A recuperação da atriz foi mais lenta que o normal e seus fãs colocaram a culpa na plástica. Mas La Fischer já está maravilhosa de novo e a reputação de Paulo Müller não sofreu abalos. Muito pelo contrário.

Hoje em dia, o maior anseio da clientela é a naturalidade dos resultados. "Não há mais aquelas madames que perguntavam tudo aos maridos. Hoje elas são financeiramente independentes", descreve o médico. O consultório de Müller também é bastante frequentado por jovens. Ao contrário do que existia antigamente, quando as adolescentes esperavam o casamento e os filhos para se submeterem a cirurgias plásticas, hoje elas representam 5% da demanda das cirurgias realizadas pelo médico. Nesta entrevista a ISTOÉ, Müller conta que os homens também estão perdendo o preconceito e somam 30% de sua clientela. Eles retiram as bolsas das pálpebras e os famosos pneuzinhos. Entre as mulheres, há muita lipoaspiração, prótese de silicone e cirurgias a laser, que devolvem a juventude às peles de meia-idade. E para quem quiser ficar com o bumbum parecido com o de Tiazinha o cirurgião avisa: "Não podemos imitar a genética, mas dá para chegar bem perto."

ISTOÉ – O silicone nos seios foi uma das marcas do Carnaval de 1999. O sr. também sente essa demanda em seu consultório?
Paulo Müller

Nos últimos quatro anos houve um aumento grande em função dos melhores resultados das operações, que ficaram mais naturais. A prótese se sofisticou, com o silicone moderno, texturizado. Hoje, dentro da prótese há um outro silicone em gel. Por fora deste, há uma espumazinha de silicone, que também pode ser de poliuretano. Como consequência dessa evolução, não ocorrem tantos problemas como o endurecimento da prótese. O seio fica mais macio e o resultado estético é melhor. O comportamento em relação à prótese também mudou. As mulheres perderam a vergonha de falar sobre o assunto.
 

ISTOÉ – Antigamente havia a moda dos seios pequenos. Hoje o manequim acima de 44 passou a ser uma unanimidade? A que se deve essa mudança?
Paulo Müller

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 O seio 44 bonito hoje pode ser um sucesso, antigamente não era. A moda realmente mudou, com a influência americana. O brasileiro, que passou tantos anos só pensando nas nádegas, hoje divide suas atenções. Peito bonito já tem seu lugar em nossa cultura e deixa a mulher muito sexy.
 

ISTOÉ – As técnicas de cirurgia para implantação de silicone são hoje mais seguras?
Paulo Müller

 São, por causa da melhoria da qualidade das anestesias. Na maioria dos casos usamos anestesia peridural alta, que só atinge o tórax. Em outros, usamos anestesia local com sedação. Não há necessidade de anestesia geral. Hoje também recorremos a fibras ópticas para iluminação do local de operação, um buraquinho pequeno por onde se introduz a prótese. É importante para acompanhar a coagulação dos vasos que estão sangrando. Tudo isso junto traz como consequência a melhoria dos resultados e aumento da procura.
 

ISTOÉ – Os preços estão seguindo a alta do dólar? Quanto custa uma implantação de silicone no seio?
Paulo Müller

 Ficou mais caro, mas também já temos uma empresa brasileira que produz esse silicone, a Silimed. Os preços vão aumentar um pouco porque a matéria-prima ainda é importada. A cirurgia plástica de implantação de prótese de seio custa R$ 6 mil. É como um carro com peças importadas, montado no Brasil. Também usamos o silicone importado dos EUA, marca Maghan. O resultado é igual.
 

ISTOÉ – Luiza Brunet, por exemplo, pretende amamentar com silicone no seio. Alguma contra-indicação? Há risco para a mãe ou o bebê?
Paulo Müller

 Nenhuma contra-indicação. A única coisa é que quando a mulher engravida com silicone terá o aumento normal da mama. A tendência à mudança é a mesma, com ou sem silicone. Já tive clientes que diminuíram um pouco o seio depois de amamentar, outras acharam que a mama caiu e trocaram a prótese por outra maior. Cada caso é um caso.
 

ISTOÉ – Silicone também cai com o tempo? Requer manutenção?
Paulo Müller

A teoria moderna é a de que as próteses têm uma durabilidade de 15 anos. Depois disso, devem sofrer acompanhamento por mamografias. Se houver algum grau de ruptura, o silicone deve ser substituído. Mas cai um pouco menos que a mama natural. De qualquer forma, o seio sempre fica mais bonito, porque tem uma sustentação natural interna.
 

ISTOÉ – Uma das mulheres que mais brilharam no sambódromo foi uma cliente sua, Luma de Oliveira. Até que ponto o sr. atribui o desempenho da bela morena ao silicone implantado no ano passado?
Paulo Müller

 O sucesso de Luma vem dela. Dança bem, gosta de samba e adora Carnaval. Não tenho nenhuma participação nesse mérito. Luma sempre foi uma mulher linda.
 


ISTOÉ – A que outras operações plásticas Luma se submeteu com o sr.?
Paulo Müller

 Só silicone.

ISTOÉ – Qual o maior desafio profissional, recauchutar uma mulher linda ou melhorar uma nem tão bonita?
Paulo Müller

 Tanto faz. Tudo é desafio, não tem diferença. O maior desafio é deixar a cliente feliz. Às vezes uma mulher mais feia muda sua vida inteiramente só com um detalhezinho. E em uma linda o resultado não aparece tanto.
 

ISTOÉ – A cirurgia plástica é capaz de operar milagres? Algum exemplo?
Paulo Müller

 Não somos deuses. A cirurgia plástica pode melhorar bastante uma pessoa, corrigir problemas, dar qualidade de vida melhor, mas milagres, só Deus. O Brasil é uma escola maravilhosa de cirurgia plástica, mas não conheço nenhum milagreiro.
 

ISTOÉ – Outro fenômeno foi a Tiazinha. Existe alguma técnica capaz de copiar um bumbum como o dela?
Paulo Müller

 Bumbum perfeito é genético. Não dá para copiar e ficar exatamento como a Tiazinha. Mas é possível chegar quase lá, usando técnicas como a lipoescultura, que retira gordura de um lugar e coloca em outro. E se a mulher se sentir como uma Tiazinha, já é suficiente.
 

ISTOÉ – As mulheres gostosas, barrocas, desbancaram definitivamente as magras anoréxicas? Ou ainda há espaço para elas?
Paulo Müller

 Ainda há espaço para as magras. Mas realmente há uma tendência à mulher mais gostosa. Elas estão com tudo. Brasileiro gosta de carne. A mulher brasileira tem quadril e sua perna não é tão longa. O melhor mesmo é assumir esse tipo que ela tem. Mas também existem mulheres magérrimas e atraentes. O importante é se sentirem seguras com seu corpo.
 

ISTOÉ – Uma cliente que lhe trouxe ainda mais fama e muito aborrecimento foi a Vera Fischer. O que houve de errado, afinal, com a plástica que ela fez ao redor dos olhos?
Paulo Müller

Nem conheço a Vera Fischer (risos). O que aconteceu foi que demorou um pouquinho para acertar, ela ficou mais roxa que o normal, mas agora está linda de novo.


ISTOÉ – O sr. já recebeu queixas de seus serviços?
Paulo Müller

Várias, desde pessoas que acharam a cirurgia muito demorada a plásticas cujos resultados não gostaram. Só não tem problemas quem não opera, mas os meus não tiveram maiores consequências.
 

ISTOÉ – O resultado de uma operação plástica varia muito em função do organismo de cada paciente? Que fatores mais influem numa plástica bem-sucedida?
Paulo Müller

Varia muito, de acordo com a saúde da pessoa. Se ela fuma ou usa drogas, são fatores de muito inchaço. Outra coisa que influi é o repouso no pós-operatório. Se depois da plástica a paciente se movimenta muito, a cicatriz vai aumentar. Há fatores genéticos, como a tendência a formar quelóide, mais frequente aqui que na América por causa da miscigenação de raças. O diabetes e a anemia também podem prejudicar a cicatrização. Se a pessoa tomar sol, vai ficar vermelha.
 

ISTOÉ – Até que ponto suas clientes pagam qualquer preço pelo anonimato? Alguma história de exagero de sigilo?
Paulo Müller

Lembro-me de um caso engraçado. Tive uma cliente que exigiu que eu desmarcasse duas horas antes de sua consulta e duas depois. Veio disfarçada. Quando saiu de meu consultório, em Ipanema, esqueci de tirar o pilot que marcava a cirurgia que iria ser feita. Ela deu de cara com a melhor amiga na portaria do prédio, que sacou tudo. Acho cirurgia plástica uma coisa tão normal que no fundo tudo isso é uma bobagem, não vejo por que não falar nada. Mas respeito e preservo o anonimato de quem assim quiser.
 

ISTOÉ – Qual o anseio mais frequente das mulheres neste final de milênio?
Paulo Müller

 O que mais pedem é o aspecto natural. Ninguém quer ter cara, corpo ou peito de plástica. Não querem um peito de silicone maravilhoso demais que dê para ver que é silicone. O perfil da clientela mudou. É difícil ver aquela madame que vem com o marido e fica pedindo sua opinião. A maioria tem seu trabalho e é financeiramente independente. O que todas querem é o melhor resultado, mais duradouro e no menor tempo de recuperação possível.
 

ISTOÉ – É verdade que mulheres cada vez mais jovens estão procurando cirurgia plástica? Nesse caso, quais as operações mais requisitadas?
Paulo Müller

 Mudou muito a faixa etária em função da lipoaspiração. Meninas de 17 anos que tivessem um culote grande antes não queriam se operar. Mas hoje dá para reduzir problemas como esse com lipoaspiração, só com um furinho. Muitas querem começar a vida sexual mais seguras de seu corpo. Antes elas se casavam, tinham filhos e depois operavam. Hoje, isso mudou. Pelo menos 5% do meu movimento é de adolescentes, que procuram a lipoaspiração, corrigir mamas grandes ou orelhas de abano.
 

ISTOÉ – Fala-se muito em técnicas rejuvenescedoras como botox e raio laser. Quais o sr. considera mais eficazes? Por quê?
Paulo Müller

 Botox não é uma cirurgia, mas a aplicação de toxina botulínica que age na placa motora, inibindo a contração do músculo e, como consequência, diminuindo as rugas, principalmente da testa. Só que a durabilidade é de seis meses. Já o laser é uma cirurgia, uma esfoliação da pele, como uma queimadura controlada. Depois que essa pele sai, é substituída por outra mais jovem. Só dá para fazer em pessoas com ruguinhas finas, de pele muito clara, sem tendência a manchar. O resultado é duradouro e melhor, desde que haja precauções com o sol.
 

ISTOÉ – E a lipoaspiração, continua com força total? Ou a procura diminuiu depois do episódio Cláudia Liz (que teve problemas pós-operatórios)?
Paulo Müller

 Continua com força total. É uma cirurgia maravilhosa, desde que bem indicada. Não é para emagrecer ninguém, não é dieta, mas sim uma retirada da gordura localizada. O melhor de tudo é que não deixa cicatrizes. Cláudia Liz teve problemas de anestesia. Nós usamos anestesia peridural ou local. Se for um procedimento maior, deve ser feito em duas etapas, ou então deixar a pessoa preparada com a retirada de seu sangue antes da operação. Porque se acontecer qualquer coisa, ela não precisa usar sangue de terceiros para fazer uma transfusão. O que acho na realidade é que cirurgia estética não deve oferecer riscos.
 

ISTOÉ – Até pelo próprio Ivo Pitanguy, os cirurgiões plásticos brasileiros são uma categoria de renome internacional. A que o sr. atribui esse sucesso?
Paulo Müller

Acho que se deve à experiência. Somos um país jovem que vive um verdadeiro culto ao corpo. Tudo isso fez com que trabalhássemos mais. Dessa forma, trabalhamos melhor. O restaurante que está sempre cheio tem a comida mais fresquinha.
 

ISTOÉ – A procura de homens por cirurgias plásticas continua aumentando? Quem são os maiores interessados e por quais intervenções?
Paulo Müller

Pelo menos 30% da minha clientela é de homens. O que eles mais fazem são as bolsas palpebrais e a lipoaspiração, principalmente naquele pneuzinho, que depois dos 30 não adianta malhar que não sai. Os maiores fregueses são os políticos e profissionais liberais, na faixa dos 40. Muitos se divorciam e fazem plástica. E há vários casos de executivos, na faixa dos 60 anos, que se sentem jovens, produtivos e se acham envelhecidos para conseguir um trabalho. Nem são tão vaidosos, mas acreditam que com a plástica podem melhorar a posição no mercado.
 

ISTOÉ – Quais as maiores diferenças entre os clientes homens e mulheres?
Paulo Müller

 A diferença da mulher é que ela é menos exigente do que os homens. Estes, por sua vez, são mais manhosos no pós-operatório, porque não estão acostumados a sofrer, como a mulher.


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