17/05/2013 - 20:45
Era janeiro deste ano e não se falava em outra coisa na agência de publicidade em que Camila Gadelha trabalha. A excitante novidade vinha da Califórnia, Estados Unidos. Três jovens haviam lançado o aplicativo ?Bang with friends? (?Transe com amigos?, na tradução do inglês), uma espécie de joguinho vinculado ao Facebook. Camila se cadastrou no site que prometia sigilo absoluto e seguiu o passo a passo. Ela se viu diante das fotos de todos os seus amigos na rede social. Depois, selecionou aqueles com quem toparia ir para a cama. Camila diz que, de brincadeira, escolheu dezenas da lista. Se algum deles também participasse do aplicativo e a tivesse marcado, os dois receberiam um e-mail automático sugerindo um encontro ?caliente? ? sem perder horas sondando as intenções alheias ou correndo o risco de levar um fora. Sob o slogan ?Seus amigos nunca vão saber que você está interessado, a não ser que estejam também?, a ferramenta parecia discreta e prática. Os usuários só não contavam com um furo do sistema descoberto na semana passada por um jornal americano que os dedurou. Camila, que namora há dois anos, foi pega em flagrante. ?Eu só queria testar como funcionava?, afirma, aos risos, frisando que seu namorado confia nela.
Nos últimos dias, notícias sobre a falha circularam pela internet com um link para os curiosos. Bastava clicar para descobrir quais contatos da sua página no Facebook usam o joguinho do sexo. Além de descobrir quem usa a internet para buscar sexo, muita gente deu de cara com conhecidos comprometidos, homens e mulheres que se aventuraram a pular a cerca, supostamente protegidos pelo anonimato. Pronto: pipocaram as indiretas na rede social sobre aquela ?distinta senhora casada?, ?o noivo de uma amiga? ou a ?ex-chefe conservadora?. Uns apressaram-se em curtir os posts e especular nos comentários. Outros fuçaram em busca de artimanhas tecnológicas para sumir com o próprio perfil da lista tornada pública. Os criadores do ?Bang with friends?, que nunca se identificam, culparam as mudanças na configuração do Facebook pela situação. O aplicativo adotava o tipo de privacidade do usuário na rede social, onde a maioria mantém a opção de tornar todo o conteúdo que produz visível para todos os amigos. Pouquíssimos, no entanto, tinham conhecimento de que havia uma forma de saber quem era usuário do ?Bang?. O atalho descoberto pelo jornal americano tornou pública a informação, constrangendo usuários que confiaram na discrição da ferramenta. ?Quem buscou esse serviço de encontro sexual não tinha como prever que o sigilo seria quebrado?, diz Sheila Reis, psicóloga da Sociedade Brasileira de Estudos em Sexualidade Humana. ?É como contar para uma amiga, pedindo segredo, e ela espalhar para todo mundo com quem você transou ou gostaria de transar.? De um dia para o outro, esta repórter assistiu a oito amigos cometerem o suicídio virtual depois da exposição. Um simples ajuste, porém, corrige a gafe.
FLAGRA
Comprometida, Camila Gadelha foi descoberta no joguinho
do sexo, mas diz que se inscreveu por brincadeira
Em abril, o ?Bang? havia anunciado a conquista de um milhão de cadastrados ? 70% com idade entre 18 e 34 anos. Exatamente a faixa etária que os desenvolvedores do aplicativo pretendiam alcançar. A ideia surgiu em duas horas, enquanto os três amigos bebiam e conversavam sobre sites de relacionamento como eHarmony ou Par Perfeito. Para eles, o modelo é retrógrado e mentiroso à medida que romanceia o que seria o verdadeiro propósito desses encontros: sexo. O principal argumento é promover as amizades coloridas na geração dos vinte e poucos anos, ?por um mundo sexualmente mais honesto?. O problema é que as donzelas são menos adeptas dessa filosofia. O tímido publicitário Marcos Magário Filho reclama que nunca conseguiu encontros porque, de seu círculo social, só homens parecem recorrer ao aplicativo. ?Mulher transa quando quer?, diz. ?A gente tem que ralar para conseguir.? A frustração também se estende a Rafael Posso, um rapaz extrovertido formado em comércio exterior. Ele selecionou todas as meninas atraentes do seu Facebook, mas não recebeu sinais de reciprocidade. ?Tudo bem, continuo lá?, afirma, após o vazamento das informações. Camila, a publicitária comprometida pega no flagra, ficou numa saia-justa quando um amigo não acreditou na brincadeira dela ao se cadastrar no ?Bang with friends? e marcá-lo como alguém sexualmente interessante. ?Foi bem esquisito, ele veio com um papo de ?Ué, por que não???. Não é só ela que está dando explicações por aí.
