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Cansado dos abacaxis da vida corporativa, o administrador
Gustavo Siemsen, 44 anos, partiu em busca de um tipo mais doce de abacaxi

Há poucos dias, uma carta assinada pelo presidente da Coca-Cola do Brasil chamou a atenção daqueles que têm se interessado por questões importantes de saúde pública. Apesar de poucas mudanças efetivas nas políticas da companhia, havia alterações importantes no discurso do representante no Brasil de uma das maiores corporações do mundo. Pela primeira vez, por exemplo, a empresa menciona preocupação com o assunto obesidade (e ousa mencionar a palavra), classificado como um desafio que se coloca para a sociedade.

No mesmo documento, a empresa se compromete a não mais dirigir publicidade a audiências com menos de 12 anos. Não se trata exatamente de uma revolução, mas quem acompanha de perto as práticas e políticas da companhia centenária jura que se trata de algo histórico.

Tomada de consciência? Adequação às pressões da sociedade e de um mercado que não aceita mais entregar seu dinheiro e sua devoção a marcas que não demonstrem um mínimo de comprometimento com o mundo? Difícil dizer com certeza. Talvez haja até uma forte influência dos responsáveis pelo RH da companhia. Eles sabem bem como está ficando complicado atrair e reter talentos para empresas que não tenham um propósito com alguma nobreza e uma ética clara e não divorciada dos interesses coletivos.

O sujeito na foto é uma prova viva. Depois de estudar na escola Waldorf, centro da educação antroposófica, Gustavo Siemsen foi parar no mais respeitado polo de formação de executivos, gestores e empresários do Brasil, a escola de administração de empresas Getulio Vargas. De lá, já saiu empregado em corporações de grande porte. Multinacionais de salgadinhos, de produtos de limpeza, de refrigerantes e, por último, um gigante do varejo. Foram anos de muita correria em busca de resultados para acionistas dos quais diversas vezes nem sequer sabia o nome. Claro, havia também a promessa de um pacote gordo de remuneração, sempre, porém, atrelado ao alcance de novas metas de faturamento e depois de outras ainda maiores. O tempo foi passando e o garoto já passava dos 40 anos. Tinha conquistado algum patrimônio, uma casa bacana para a família, etc., mas se sentia cada vez mais incomodado ao acordar e olhar para as duas filhas pequenas. Tinha dificuldades para responder a elas, por exemplo, uma pergunta aparentemente simples: “O que você faz?” Gustavo não sabia exatamente. Sentia-se sem um propósito que tivesse um mínimo de correlação com a ideia de um ser humano inteiro e conectado a um todo maior, cunhada por Rudolf Steiner e ensinada nas escolas antroposóficas por onde passou. Ao contrário, sentia-se dividido, seccionado e vazio.

Depois de relutar um pouco, tomou a atitude da qual agora se orgulha: deixou para trás a carreira “bem-sucedida” de executivo e se lançou ao seu projeto de vida. Desenvolveu uma máquina na qual, para simplificar, de um lado entra fruta pura e, de outro, o suco extraído dela, agora com gás carbônico como o contido nas águas gaseificadas. Nenhum outro aditivo. Isso mesmo, nada de acidulantes, conservantes, espessantes, aromatizantes ou quaisquer outros “antes” desses que ingerimos sem querer e saber por aí. O resultado é uma bebida que junta o saudável do suco e da fruta com o divertido do refrigerante. O nome é Gloops, entre outras razões, para conectar com um dos principais alvos que o motivam: crianças como suas filhas de 4 e 6 anos. “Queremos ser uma fonte de informação leve e divertida, mas ao mesmo tempo crível e séria sobre alimentação de boa qualidade e com bom senso.Vamos incluir esse tipo de conteúdo em toda a nossa comunicação, das embalagens às redes sociais.”

Gustavo reforça: “A Gloops não quer ser mais uma fábrica de bebidas. Temos um sistema que produz algo inovador e positivo, mas que se propõe a cumprir um papel bem mais nobre. Ser mais uma ferramenta para uma revolução que já começou. A revolução pela consciência alimentar.”
Como se depreende pelo sorriso e pela expressão dele na foto, faz todo sentido.