Elas dizem que querem casar; eles esticam o máximo que podem a adolescência, adiando a hora do compromisso. Elas dizem que faltam parceiros interessantes; eles assumem que há muitas mulheres legais, mas nem por isso querem relações duradouras. Hoje, homens e mulheres solteiros na faixa dos 30 anos vivem um eterno desencontro. Todos querem encontrar alguém, amar e ser amados, mas cada um a seu tempo. E os tempos nunca coincidem. No momento em que elas se declaram prontas para casamento e filhos, pois já estão com a carreira profissional a pleno vapor, eles ainda estão vivendo uma puberdade tardia. Mas quando encontram alguém que tope a proposta família já, as trintonas se apavoram e não sabem mais se é esse o melhor projeto. "O resultado é parecido com um jogo de esconde-esconde ou de gato e rato. Homens e mulheres se comportam como adversários e se esquecem de que têm o mesmo objetivo", diz a psicóloga Regina Machado.

Dois livros lançados recentemente acabaram se tornando bíblias da geração que beira os 30 anos. O diário de Bridget Jones, de Helen Fielding, e Alta fidelidade, de Nick Hornby, falam com humor dos dilemas dos relacionamentos amorosos neste final de século. Fielding e Hornby, ambos britânicos, se tornaram best sellers mundiais ao abordar a vida de pessoas típicas das grandes cidades em qualquer país. Em O diário, a protagonista, solteira, de 30 e poucos anos, mora sozinha, é independente financeiramente e apaixonada pelo chefe. Bridget vive às voltas com regimes e ginásticas, em uma obsessão típica das mulheres atuais. Ela é resolvida profissionalmente, mas sua vida afetiva é um caos. Como Bridget , a médica anestesista Lucila Muniz Barretto Volasco, 31 anos, acha terrível ficar sozinha no Dia dos Namorados e está sempre começando uma dieta. Para ela, sua independência assusta os homens. Mas Lucila não sabe ao certo se quer viver junto com alguém. "Quero ter um filho, isso tenho certeza", afirma. A maternidade é também um objetivo certo para a editora carioca Ana Lucia do Valle, 29 anos. O candidato também deverá estar resolvido financeiramente. "Não tenho a menor vontade de morar de aluguel ou assumir dívidas com alguém. Não acredito no sonho ‘um amor e uma cabana’. Acho que é por isso que eu ainda não me casei", diz Ana. "As mulheres idealizam demais o parceiro, pois já estão supridas profissionalmente. Ficaram muito exigentes", afirma a psicanalista Magdalena Ramos. Essa tendência deixa perplexos os homens, por tanto tempo acusados de não querer compromisso.

Gentileza nunca mais
"Não existe uma lógica feminina. Eu acho que as mulheres lutaram tanto para encontrar um homem sensível, inteligente e legal que, quando encontram, perdem o chão. Ficam com medo, não sabem como agir. No fundo, querem o mulherengo sacana, que elas já dominam", suspeita o jornalista Fernando Simão, 31 anos, de São Paulo. Depois que algumas mulheres sumiram de repente de sua vida, sem explicação, ele diz que acionou o circuit brake e montou um manual. Uma de suas regras é que gentilezas e surpresas estão proibidas. "Elas surtem efeito contrário", diz. Recentemente, Fernando conseguiu mandar para dentro de um avião um bilhete romântico para uma garota. "Ela nunca mais me ligou." Mas nem por isso Fernando perde o bom humor. "Agora vou me limitar ao básico", promete. São sentimentos parecidos com os do trintão Rob Fleming, do livro Alta fidelidade, um homem de 35 anos que sofre com a inconstância das mulheres, mas se recusa sair de vez da adolescência.

O carioca Jorge Espírito Santo, 36 anos, diretor do Programa H, da Rede Bandeirantes, namora há seis meses, mas não pensa em casar. "Eu teria que aprender a conviver", diz ele. "Moro sozinho e me encontro confortável nessa situação." Jorge se diz perplexo ao ver que suas amigas, bonitas e inteligentes, estão sozinhas, pois não encontram pessoas legais. O pior é que os homens também reclamam do mesmo problema.

 

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Túnel do tempo

Nem piercings nem corpos malhados: nas festas Superbacana e Acorda Amor, organizadas no Rio pelas produtoras e psicólogas Marta Murat e Mônica Medeiros, ninguém se espanta com discretas barriguinhas ou com cabeleiras grisalhas. Muito pelo contrário. Quem já passou dos 35 e se sente peixe fora d’água no meio da garotada que frequenta as casas noturnas, encontra ali um porto. Há quase dez anos, quando Marta e Mônica se separaram dos maridos viram muitos amigos sem programa, passaram a organizar festas. Eram tão animadas que logo precisaram de mais espaço. As duas fizeram cursos de marketing cultural, profissionalizaram-se e, há três anos, promovem todo mês a Acorda, Amor num clube do Rio de Janeiro. No início do ano, atendendo a pedidos, lançaram a festa Superbacana, às quartas-feiras na boate Trend, na Lagoa.

Elas não divulgam a Acorda Amore e mantêm o local em segredo para que o público não passe de 600 pessoas. "Amigos bem-informados com certeza sabem onde é", diz Marta. No caso da Superbacana, o espaço é menor e 100 pessoas já esgotam a lotação, mas o clima é o mesmo. "São as melhores festas para quem tem mais de 35 anos. O clima de azaração é irresistível", diz o ator Luis Mascarenhas, 40 anos, que já saiu duas vezes da Acorda, Amor acompanhado. Com a ajuda das músicas lentas do DJ Emerson Martins (que muitos ali chamam de discotecário), os casais dançam abraçados, cena rara por estes dias. Ouvem-se também Barry White, Rita Lee, Frenéticas e muita disco music. "É o máximo não ter que ouvir o bate-estaca das outras boates", diz o funcionário público José Luís Bastos, 36 anos recém-separado. Sua amiga Maria Luiza Braga, da mesma idade comenta: "Aqui não me sinto mãe de ninguém", brinca.

Clarisse Meirelles
 


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