Um feito histórico divulgado na semana passada surpreendeu os cientistas no mundo todo. Pesquisadores do Centro de Terapia Celular da Universidade de Oregon (EUA) anunciaram ter conseguido clonar embriões humanos dos quais foi possível retirar células-tronco embrionárias, capazes de gerar qualquer tecido do organismo. “É um passo importante para o desenvolvimento da medicina regenerativa”, disse Shoukhrat Mitalipov, coordenador do trabalho. O artigo descrevendo o experimento foi publicado na revista científica “Cell”, uma das mais importantes da área.

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No meio científico, existem razões para o otimismo. Há dois tipos de células-tronco: as adultas e as embrionárias. As primeiras podem ser extraídas de várias partes do corpo, como a medula óssea. No entanto, não se transformam em todos os tecidos, ao contrário das embrionárias. Por isso, estas últimas são a principal esperança da medicina. Com elas poderão ser criadas terapias para doenças como Alzheimer e Parkinson, diabetes, cardíacas e ósseas. Elas serão usadas para substituir ou auxiliar o funcionamento de células atingidas por essas enfermidades e para a construção de órgãos inteiros. Investigações sobre sua eficácia estão sendo feitas no mundo.

Até a divulgação da pesquisa americana, havia duas fontes de células-tronco embrionárias. Elas podem ser extraídas de embriões doados para pesquisa ou descartados pelas clínicas de reprodução assistida. Nesse caso, porém, os tecidos criados a partir delas apresentam o risco de ser rejeitados pelo receptor, já que não possuem o mesmo material genético. Em 2006, o pesquisador japonês Shinya Yamanaka criou um método segundo o qual é possível reprogramar células da pele para que adquiram as mesmas características de uma célula-tronco embrionária. A técnica lhe rendeu o Prêmio Nobel de Medicina do ano passado. No Brasil, o procedimento já está sendo testado em animais, com sucesso. “Pela manipulação de quatro genes, conseguimos fazer essa reprogramação sem riscos”, explica o pesquisador Bruno Solano, do Centro de Biotecnologia do Hospital São Rafael, em Salvador.

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ÉTICA
Mitalipov, líder da pesquisa, diz que o único objetivo é combater doenças

O método de Yamanaka supera dois obstáculos: não há risco de rejeição, já que a célula usada é do próprio paciente, e não é necessário recorrer a embriões nem à clonagem. Por isso, há cientistas que acreditam ser esse o método que mais rapidamente chegará aos hospitais. “Nos próximos três anos, começaremos a ver os primeiros testes em humanos”, diz o pesquisador Ricardo Ribeiro dos Santos, da Fundação Oswaldo Cruz. “A pesquisa dos americanos tem sua importância, mas o uso de embriões é uma questão muito complicada”, ressalva.

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De fato, o trabalho esbarra em questões éticas. Há críticas em relação à criação de embriões apenas para deles extrair células-tronco. O experimento também reacendeu o temor de que a técnica da clonagem – semelhante à utilizada para criar a ovelha Dolly, em 1996 – possa ser um dia usada para clonar seres humanos. “A clonagem é um atentado à vida e à liberdade”, diz Hermes Rodrigues Nery, do Departamento de Bioética da PUC-RJ. “Não podemos criar um outro ser humano unicamente para nos servir.”

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Os cientistas asseguram, entretanto, que a técnica servirá somente para a criação de células-tronco embrionárias para serem aproveitadas com fins terapêuticos. “Nosso único objetivo é combater doenças”, defende Mitalipov. “A clonagem humana não é nosso foco, nem acreditamos que nossa pesquisa será usada para esse fim”, argumenta.


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