O compositor Wellington José de Camargo, irmão de Zezé Di Camargo e Luciano, passou 94 dias sequestrado, instalado em um quarto com cerca de 12 metros quadrados. Debilitado e psicologicamente abalado, o rapaz voltou para o convívio familiar no domingo 21, após os sequestradores terem recebido US$ 300 mil de resgate. "Todos os dias tive medo de morrer e só pensava em meu filho de cinco anos", disse o compositor na quinta-feira 25. "Às vezes, via televisão e lia revistas e jornais, mas perdi completamente a noção do tempo." Tão logo Wellington foi libertado, a Polícia Federal fez uma série de prisões em Goiânia (GO), Campinas (SP) e Campo Grande (MS). Até a quinta-feira, 20 pessoas estavam presas e outras três foragidas. Em Mato Grosso do Sul, a PF prendeu os líderes do grupo. Trata-se de uma quadrilha familiar, portadora de um vasto currículo recheado de homicídios, assaltos a banco, tráfico de drogas, alguns sequestros e mais de um século de penas a cumprir. O crime foi idealizado por José Francisco de Oliveira, um fugitivo da Penitenciária de Campo Grande, que há um ano e meio alugou uma chácara em Abadia de Goiás para fugir da polícia e aproveitou o terreno para construir o barraco que serviu de cativeiro para Wellington. Ele estava se preparando para ir ao Paraguai quando foi preso com US$ 260,4 mil. Dois irmãos de José – Moacir e Ademir –, bem como suas mulheres, também participaram ativamente do sequestro. Moacir está na cadeia e Ademir, o sequestrador que se identificava como Romário para fazer as negociações com a família, está foragido.

Para chegar ao bando dos Oliveira, a PF contou com importantes aliados: aparelhos sofisticados cedidos pelo FBI e o policial civil de São Paulo Antônio Lázaro Constance. "Em 4 de outubro, recebi uma informação dizendo que a família Oliveira estaria preparando o sequestro de uma menina paraplégica", disse o policial. "Quando soube do caso do Wellington, liguei as coisas e percebi que o modus operandi do sequestro era típico dos Oliveira." Constance investiga a família há cerca de quatro anos. Ao perceber que eles poderiam estar por trás do crime, o policial esteve três vezes em Goiânia, onde conversou com o delegado José Pinheiro. Como não lhe deram a atenção devida, em 5 de março ele protocolou um relatório no Grupo Anti-Sequestro de Goiás, identificando toda a quadrilha e até alguns telefones. Pinheiro recebeu a papelada e entregou à PF. A partir daí é que os federais colocaram grampos nos telefones dos Oliveira. "Esse caso poderia ter sido esclarecido pelo menos um mês antes", afirma Constance.