i69831.jpgQuando o francês Philippe Gerard Canel, 53 anos, chegou ao Brasil há um ano para assumir um departamento da empresa de consultoria e auditoria Deloitte, não sabia que seu primeiro grande impacto seria oriundo de diferenças culturais. Para começar, a documentação que ficaria pronta em um mês levou seis. "As pessoas aqui estão mais preocupadas em fazer com que você se sinta feliz do que em responder a suas perguntas com dados exatos, como ocorre na França", observa o executivo. O que para Canel era um problema, para o mercado é um filão: prosperam as empresas especializadas em apoio aos expatriados. Do processo de seleção do candidato à transferência, passando pela obtenção de vistos e documentação, até a procura de casa, assessoria fiscal, consultoria na área de segurança e atendimento psicológico, todo tipo de apoio está à disposição do imigrante que vem trabalhar no País. Desde que, claro, ele ou a empresa que o contratou possa pagar por isso.

Uma pesquisa da consultoria internacional Mercer mostra que 56% das multinacionais aumentaram o número de transferências entre subsidiárias nos últimos dois anos. No Brasil, só no primeiro semestre deste ano, o Ministério do Trabalho concedeu mais de 18 mil autorizações de trabalho para estrangeiros – um aumento de 45% em relação ao mesmo período de 2007. "As empresas começaram a se preocupar com o bem-estar do expatriado e a tornar isso uma política de recursos humanos", afirma Mariana Barros, sócia da Differänce, que oferece serviços de auxílio às empresas que transferem funcionários de país. Eles incluem workshops sobre temas como a situação política e econômica da nação de destino, como fazer negócios no novo ambiente e diferenças culturais. Há também um tour de acolhimento, no qual profissionais acompanham o estrangeiro aos locais que ele irá freqüentar no seu dia-a-dia, além de aulas de línguas e apoio psicológico. A razão não é a gentileza atribuída aos brasileiros e, sim, econômica: segundo a Differänce, a transferência de uma família de um país para outro pode demandar investimentos de cerca de US$ 1 milhão por ano, se a pessoa ocupar uma posição de diretoria.

Outras empresas se especializaram em serviços semelhantes, como a multinacional Crown, que cuida até da escola dos filhos do expatriado. "Crescemos mais de 300% nos últimos cinco anos", comemora Regina Mattos, gerente da Crown. A consultoria Vitton, do Rio de Janeiro, se especializou em oferecer aconselhamento sobre como se proteger no Rio, já que a segurança é uma das principais preocupações de quem chega à cidade. O presidente da Xerox do Brasil, o francês Hervé Tessler, 45 anos, mudou-se de Londres para o Rio em 2007, mas ainda não se acostumou totalmente. "Ter que andar de carro blindado não é uma coisa engraçada", diz.

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Mas a parte mais difícil da expatriação é a adaptação da família. "O cônjuge deixa o trabalho no país de origem para acompanhar o parceiro e isso pode gerar um baque muito grande", afirma a psicóloga Sylvia Dantas, especializada em psicoterapia intercultural. A espanhola Miriam Cloquell, 37 anos, conseguiu driblar o problema. Depois que o marido recebeu uma proposta de trabalho no Brasil, da Nike, ela conseguiu ser também transferida na PepsiCo. "Hoje as empresas estão mais atentas para a necessidade de balanço entre trabalho e família", afirma Miriam. "Mudar de país e trabalho ao mesmo tempo é muito estressante", reconhece o chileno Diego Delpiano, 32 anos, gerente de recursos humanos da Basf para a América do Sul – ele mesmo um expatriado.