Desde que lançou O mundo segundo Garp, em 1978, o americano John Irving mantém uma relação de conservadora fidelidade com seu público, explicada pela fórmula que adotou. Seus romances se situam a meio caminho entre a literatura “séria” e a prosa de entretenimento, abordando questões delicadas da condição humana com uma leveza que às vezes resvala na superficialidade. Viúva por um ano (Record, 418 págs., R$ 38) não foge à regra. Irving reafirma sua capacidade de construir um grande painel da sociedade americana, desta vez através da trajetória de Ruth Cole, a viúva do título – aliás, também uma escritora, e também autora de um livro chamado Viúva por um ano.

Irving retrata Ruth em três momentos. Em 1958, quando ela é uma menina de quatro anos, filha de pais recém-separados (Ted e Marion), marcados por um acidente que matou dois outros filhos. A chegada do estudante Eddie O’Hare alivia sexualmente o drama de Marion. Depois que Eddie parte, Marion precisa reconstruir sua vida, criar a filha. Na segunda e na terceira partes, passadas em 1990 e 1995, encontramos Ruth já madura, como uma escritora de sucesso, mas afetivamente infeliz – apesar de ser uma mulher atraente, independente e de seios belos e fartos. Até, finalmente, conhecer o amor verdadeiro, descoberta que o autor descreve com ternura e bom humor.
Viúva por um ano é uma narrativa ágil, em alguns momentos exuberante, com densidade emocional, mas sem refinamentos intelectuais. Parece que Irving considera a vida – e a literatura – um encadeamento lógico de causas e efeitos, que ele registra como narrador onisciente à moda antiga, deixando intervir aqui e ali o acaso. Fã incondicional de Charles Dickens, ele ignora todas as inovações formais da literatura do século XX, mesmo quando usa os personagens para refletir sobre sua própria condição de escritor.