Se existe um hábito que o público médio americano simplesmente adora é escarafunchar a vida e a rotina dos membros do seu poder judiciário. É esta paixão a matéria-prima com a qual o escritor Scott Turow descobriu que pode fabricar seus best sellers, como o mais recente Ofensas pessoais (Record, 418 págs., R$ 30). Vale a pena lembrar que, antes mesmo de chegar às livrarias americanas, Ofensas pessoais já havia tido seus direitos vendidos ao ator Dustin Hoffman, que vai viver nas telas o advogado Robbie Feaver, personagem em torno do qual se desenrola todo o romance. Não é de estranhar, então, que a estrutura do livro lembre um roteiro de cinema. O livro de Turow é interessante. Sem exigir maiores raciocínios, prende o leitor da primeira à última página. Torna-se deliciosamente imperioso, a quem passou do primeiro parágrafo, saber se Feaver vai ou não colaborar com o FBI, se vai ou não conseguir escapar das garras da implacável Receita Federal, que ameaça botá-lo na cadeia ou se vai ou não conquistar as graças da mocinha, uma agente lésbica não muito convicta.

Feaver é um pobre-menino-rico, modelo de self-made-man, enredado na tentação de não esperar pelo milagre americano da vitória honesta. É um personagem simpático, mas que desafia com sua lealdade uma esposa doente e as hostes da moralidade americana. Para ajudar a prender a atenção de um público cada vez mais viciado na linguagem imediatista da Internet, Turow lança mão de alguns trunfos, dando ar mais moderninho à sua trama jurídica. Equipamentos high tech pipocam por todos os lados. São câmeras de altíssima sensibilidade, gravadores que captam suspiros e chapéus que tudo vêem em meio a bares enfumaçados e gabinetes abafados, que ajudam a dar certo contraste noir. Scott Turow adora um romance noir. Ele deve morrer de saudade do tempo no qual os heróis não precisavam ser politicamente corretos durante o enredo todo. Nós também.