A vida dói. Apesar disso, é melhor viver do que morrer. Mas, segundo Olímpia, a personagem central de Quero minha mãe, novo livro de Adélia Prado (Record, 224 págs., R$ 24,90), há momentos tão difusos na nossa existência que chega a ser ruim estar na própria pele. Para a protagonista, essa percepção se deu em torno dos 60 anos de idade, quando o sol não mais mudava seu ânimo, o mundo parecia ser sempre cinza e ela se sentia “encardida”. Estava doente. Câncer. Ficar em silêncio e esperar o fim seria uma opção horrível. Melhor compartilhar a dor com todo mundo. Olímpia, então, fez uma lista de pessoas às quais deveria comunicar sua trágica sina.

Deliciosamente mineira, a prosa de Adélia Prado desconstrói a dramaticidade do tema – a morte – e anda de trás para a frente. A fantasia da doença acaba sendo pior do que o diagnóstico que, na verdade, não chega nunca. Durante seis longas décadas, Olímpia carrega a idéia de que sua vida está no limite: “Sensação de confinamento, paredes, muro, tudo me poda, me cerca de arame farpado.” As dificuldades deveriam ter uma causa, e só poderia ser algo extremamente grave. Religiosa, criava alicerces entre culpas e culpados. “Bajulo Deus, esta é a verdade, tenho o rabo preso com ele, o que me impede de voar.” Entre condescendências e penitências, Olímpia conta uma história profunda e inteira em poucas páginas. Desperta o sorriso várias vezes.